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Governo quer apressar agenda econômica

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BRASÍLIA – Com o aprofundamento da crise política nos dois últimos dias, após a delação premiada do senador Delcídio Amaral (PT-MS) e a nova fase da Operação Lava-Jato, o governo quer acelerar a agenda de retomada do crescimento para tentar impedir uma paralisia. A avaliação é de que isso prejudicaria a economia e poderia fazer com que a atual recessão se transforme numa depressão. Assim, a ordem é descolar a pauta econômica da política. Mas, no entanto, essa estratégia vai esbarrar em um Congresso onde a oposição promete jogar pesado e atrapalhar, ao máximo, as votações de medidas importantes para o ajuste fiscal.

— A economia não pode ficar refém da crise política. Não dá para parar e simplesmente ficar esperando os desdobramentos (da Lava-Jato). A agenda vai ser tocada normalmente. Aliás, no que pudermos, vamos até acelerar — afirmou ao GLOBO um integrante da equipe econômica.

Outro técnico disse:

— Qual é a alternativa? Sentar na calçada e chorar? Temos que trabalhar e fazer a nossa parte para recuperar a economia.

Segundo eles, isso significa manter o cronograma das reformas da Previdência e fiscal e continuar trabalhando pela aprovação da CPMF e da DRU (Desvinculação de Receitas da União). O Ministério da Fazenda também quer fechar, até o fim da próxima semana, as negociações para alongar as dívidas dos estados com a União por mais 20 anos. Assim, a proposta poderá ser enviada ao Congresso, de preferência, até o dia 18 de março, dentro da reforma fiscal, que também prevê um teto para os gastos públicos.

CRONOGRAMA MANTIDO PARA REFORMA

A reforma da Previdência, que enfrenta resistências dentro do próprio PT, também terá seu cronograma mantido e será encaminhada ao Legislativo em abril. Os técnicos da área econômica admitem que o agravamento da crise política tem feito com que a legenda fique cada vez mais arredia a mudar as regras da aposentadoria. Mesmo assim, a área econômica mantém o discurso de que a reforma é inevitável e essencial para a recuperação da confiança.

Os partidos contrários ao governo estão decididos a frustrar, a partir da próxima segunda-feira, qualquer medida proposta pelo Executivo, informou o líder do DEM na Câmara, deputado Pauderney Avelino.

— Entendemos que há uma agenda, neste momento, que impede o Congresso Nacional de seguir em frente. Há uma crise política que se chama Dilma e PT no poder. A partir de segunda-feira, estaremos no plenário da Câmara verbalizando. Vamos obstruir as sessões, até que o Supremo decida de uma vez por todas o rito do impeachment — afirmou.

O senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) desafiou o governo a apresentar alguma medida efetiva de ajuste fiscal. Disse que a presidente Dilma Rousseff e sua equipe estão abatidos com a delação do senador Delcídio Amaral e defendeu a saída da presidente da República.

— Precisamos, dentro da Constituição, encurtar o mandato de Dilma. Não tem cabimento o governo apresentar qualquer projeto de uma presidente sem apoio nenhum até dentro de seu próprio partido. O que precisamos é votar o impeachment — afirmou o senador.

Na opinião do líder do governo no Senado, Humberto Costa (PT-PE), o grau de dificuldade não mudará.

— As dificuldades permanecem as mesmas para aprovar a pauta econômica — disse.

RECESSÃO PODE VIRAR DEPRESSÃO

Para os técnicos da área econômica do governo, o agravamento da crise política pode adiar a recuperação da economia e fazer com que a recessão se estenda até o último trimestre de 2016. Assim, a atividade só teria condições de mostrar alguma recuperação em 2017. Esse risco será um dos argumentos que o governo vai usar para tentar sensibilizar o Congresso.

— É preciso entender que estamos numa recessão que pode se transformar numa depressão. É preciso fazer as reformas da Previdência e fiscal — disse um interlocutor da área econômica.

Na visão da equipe econômica, os próprios governadores, que serão beneficiados pelo alongamento das dívidas, podem ser aliados na campanha pela CPMF e pela DRU. Mesmo porque a proposta do governo federal é que a desvinculação de receitas também seja permitida nos estados. A equipe econômica também avalia que, se o governo conseguir dar andamento à agenda de reformas, será possível fazer com que o mercado financeiro passe a ter uma visão mais favorável.


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