Denúncia: Clientes denunciam agência de turismo por aplicar ‘Golpe da passagem’ em Manaus
Casos como o de Jane não são raros em Manaus, tanto que mais de 100 pessoas foram lesadas pela mesma empresa de turismo na capital amazonense. A Amazonas para o mundo ver – Turismo, localizada na rua Hortelã, nº 08, Conjunto Flamanal, Planalto, Zona Oeste de Manaus, estaria por trás de um esquema que utiliza as redes sociais para atrair clientes e vender os pacotes fictícios. Os clientes relatam que a empresa muda as rotas dos passeios e, por fim, cancela as viagens sem consultá-los.
Jane contou a sua história com a agência de viagens e apontou pelo menos 20 clientes que também dizem que foram lesados pela empresa, que é coordenada por Nara Simone Menezes Dias e Univaldo Chinalia – de acordo com os dados disponibilizados na internet em consulta ao CNPJ 14.750.080/0001-07. De acordo com a professora, a empresária desapareceu após dar o calote nos clientes e não devolveu o que já havia sido pago por eles.
“Ela cancelou o perfil no Facebook, não atende ligações e não está mais no mesmo lugar onde atendia os clientes. Simplesmente sumiu”.
Jane conta que comprou passagens, em março de 2016, para Margarita, na Venezuela. Cada passagem saiu por R$ 500, inclusa a hospedagem. Com o preço atraente, a professora decidiu comprar para ela e mais 19 integrantes da família.
“Seria uma viagem dos sonhos, uma reunião de toda a nossa família”. Porém, alguns dias depois de efetuar a compra, a agente de viagens, que também é dona da empresa, ligou para ela e informou que o grupo não poderia mais viajar. Ela alegou que era perigoso ir até ao país vizinho, devido à crise econômica por lá.
“Ela foi bem convincente e disse que não deveríamos viajar naquele momento. Para não ficarmos sem passear, ela deu a sugestão de ficarmos em um hotel de selva, aqui em Manaus. Aceitei a proposta, mas quando chegou próximo do dia da viagem, eu descobri pelo hotel que minha hospedagem foi cancelada pela agência. Fiquei indignada, liguei e ela disse que eu não havia informado. Eu pedi meu dinheiro de volta e agora ela não me atende mais”, relatou.
Após o fato, Jane encontrou outras pessoas que tiveram problemas parecidos com os dela com a mesma agência. Eles criaram um grupo no WhatsApp, onde trocam informações sobre o paradeiro dos donos da empresa de turismo, além das novidades nas investigações do caso.
“São mais de 100 pessoas nesse grupo. Queremos justiça”.
O fisioterapeuta Alessandro Afonso também denunciou a sua história com a empresa. Ele contou que conheceu Nara há 1 ano, por meio de indicações de amigos. Ele mora em Maués e comprou passagens para Fortaleza, mas não teve o bilhete liberado pela companhia aérea.
Alessandro explica que na primeira vez que fechou negócio com a empresa, tudo saiu perfeito e como esperava. Por isso, ele decidiu fazer uma segunda compra.
“Nara passou a me ligar várias vezes oferecendo seus planos de pacotes de viagem. Ela é boa com as palavras e nos fazia comprar a passagem de imediato. Ela ofereceu um pacote imperdível para Fortaleza, com voos de ida e volta, mais o translado, hotel e café da manhã, por apenas R$ 1 mil para 2 pessoas. Acabei comprando em outubro de 2016 e depositei o dinheiro em uma conta na Caixa Econômica. Ela ficou de nos entregar a passagem no mês de abril e repassar os roteiros da viagem, mas infelizmente a mulher sumiu. Me atendeu pela última vez em março e falou que estava com o marido doente. Depois sumiu”, contou.
Perfil das vítimas
Após ele publicar um desabafo no Facebook, outras vítimas apareceram e eles decidiram lutar para reaver parte do dinheiro. A reportagem conversou com mais de 50 pessoas, que foram vítimas do estabelecimento. A maioria dos compradores lesados possui o mesmo perfil. São pessoas do interior do Amazonas, como Maués, Manacapuru, Parintins, Boa Vista do Ramos e Barreirinha, que não desconfiaram dos preços dos pacotes oferecidos.
Todos os clientes alegam que compraram as viagens pela agência e levaram um calote. Eles não receberam as passagens, as hospedagens ou os valores pagos antecipadamente.
‘Sou Maria Eney Pinto Brasil e também acreditei na propaganda mentirosa da Nara. Comprei pacotes para Gramado, em julho, e para Natal, em setembro. Um total de R$ 2.500 mil”.
“Eu (Jairo Araújo) fui lesado no ano passado, quando ainda havia só uma denúncia no sistema da polícia contra a Nara. A segunda era a minha. Falei ao policial civil que a estelionatária estava vendendo passagens para Gramado com tudo incluso, pelo valor de R$ 1 mil. Ele ‘fez ouvido de mercador’ e eu para ele ficar preparado porque logo choveria de gente na delegacia”
“Meu nome é Claudete, também comprei pacote para irmos para Fortelza no final de abril. Minha filha, meu namorado e vários amigos, indicados por mim. Era uma turma de 40 pessoas de Maués, Parintins e Manaus. A viagem não saiu. Foi cancelada alguns dias antes. A Nara falou com algumas pessoas da excursão e disse que cancelou por motivo da doença do marido, que estaria com câncer na FCecon”.
“Eu (Alda Lúcia) conheci a Nara e a agência dela através de uma amiga. Eu comprei um pacote de viagem para Guiana, em outubro do ano passado, e ocorreu tudo bem. Este ano, ela mandou a promoção das viagens dela para Fortaleza, que ocorreria em março. Eu comprei um pacote para viajar com minha família no valor R$ 1.900. Também indiquei para uma colega, que comprou para 3 pessoas. Eu comecei a ligar para ela e não atendeu o celular. Percebi que ela tinha me excluído do grupo, assim com fez com outros clientes. Eu e a minha colega fomos no endereço dela e ela já não estava lá. Se mudou e ninguém sabe para onde”.
Donos sumiram
Tentamos falar com a empresária Nara Simone Menezes Dias e o seu sócio pelos telefones 99497-4351 e 98149-8114, mas as ligações não foram atendidas. Procuramos as redes sociais e site da empresa, mas não há mais nenhum perfil disponível na internet. O local onde funcionava a agência está fechado. O espaço está aberto para esclarecimentos sobre as denúncias.
O crime
Procurado pela reportagem, o delegado Adriano Félix da Delegacia especializada em Roubose furtos informou à reportagem que a denúncia não chegou na especializada. Ele orientou que as vítimas façam o registro do Boletim de Ocorrência o quanto antes.
Ele explica que esse tipo de crime é conhecido como estelionato e exige quatro requisitos obrigatórios para sua caracterização:
1) obtenção de vantagem ilícita;
2) causar prejuízo a outra pessoa;
3) uso de meio de ardil, ou artimanha,
4) enganar alguém ou a leva-lo a erro.
A ausência de um dos quatro elementos, seja qual for, impede a caracterização do estelionato. Alguns golpes comuns são enquadrados como estelionato, são eles: o golpe do bilhete premiado e o golpe do falso emprego. O crime aceita apenas a forma dolosa, ou seja, que haja real intenção de lesar.
Solicitamos da assessoria da Polícia Civil uma nota a respeito das investigações sobre o caso, mas até a publicação desta matéria não obtivermos resposta.
Associação de Agência de viagem
A reportagem conversou com a Associação Brasileira de Agências de Viagem, filial do Amazonas (Abavam) e a diretora, Cláudia Mendonça, explicou que o órgão representa os interesses dos agentes de viagem e promove o bem-estar social . Em Manaus são 70 agências associadas.
Cláudia ressalta ainda que as pessoas devem ficar atentas na hora de comprar esse tipo de pacote relâmpago, porque na maioria dos casos é golpe. Ela explica que há meios para descobrir se aquela agência é na verdade uma farsa.
“As pessoas devem logo acessar o site da Abav nacional e procurar confirmar se a agência existe mesmo. A Abav tem todas as agências oficiais cadastradas. Se caso uma dessas cometam golpes, há meios de encontrá-la, puni-la e até denunciá-la”.
Dicas para não cair no golpe
Não compre por impulso. Desconfie de ofertas milagrosas e compare preços. Preciso realmente deste produto ou serviço? Tenho informações suficientes sobre ele? Tenho de comprar agora? São perguntas que o consumidor tem que fazer.
Dados da empresa
O consumidor deve verificar se a pessoa e o site que está vendendo o produto possuem um endereço comercial físico. Anotem os telefones. A empresa também deve ter um CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas) e, em caso de dúvida quanto à sua idoneidade, o comprador deve ligar para o Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC), que deve ser oferecido no site e solicitar os dados cadastrais do comércio virtual.
Leia também: Férias aquecem vendas em agências de viagem de Manaus
Comprovante
Se o consumidor conferir a segurança e finalizar a compra, a empresa deve enviar por e-mail um comprovante da compra, onde geralmente consta o número do pedido, descrição dos itens comprados e prazo de entrega. Em caso de atrasos ou do produto não ser entregue, o consumidor terá este documento para reclamar da empresa junto ao Procon.
Em caso de dúvida, pesquise. O consumidor também pode checar no Procon se existem reclamações contra a empresa ou o site que ele pretende comprar. Buscar referências da loja com outros internautas também pode ajudar a não ser lesado na hora da compra.
COM INFORMAÇÕES E FONTE PORTAL EM TEMPO NO LINK http://www.emtempo.com.br/mais-de-100-clientes-denunciam-agencia-de-turismo-por-aplicar-golpes-no-am/