Sem pandemia, dólar dispara e chega a R$ 5,87 nesta sexta-feira (1/11)
Brasil – O dólar fechou em R$ 5,87 nesta sexta-feira, 1º de novembro de 2024, registrando o segundo maior valor nominal da história. O pico anterior foi alcançado em 13 de maio de 2020, no auge da pandemia de covid-19, quando a moeda norte-americana chegou a R$ 5,90. Com uma variação de 1,53% no dia e acumulando uma alta de 2,1% na semana, o dólar permanece acima de R$ 5 desde 28 de março, completando 218 dias consecutivos neste patamar.
A elevação recente reflete a incerteza no mercado financeiro quanto ao cenário econômico interno, acentuada pela demora do governo em anunciar um pacote de revisão de gastos públicos. Essa espera tem contribuído para a volatilidade dos ativos financeiros. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, comentou o tema nesta quarta-feira, 30 de outubro, minimizando a urgência da medida e descrevendo as perguntas da imprensa sobre o pacote como “forçação boba”.
No entanto, a decisão do ministro de adiar o anúncio pode afetar ainda mais a confiança do mercado. Haddad estará em viagem pela Europa na próxima semana, a partir de segunda-feira, 4 de novembro, com retorno programado para sábado, 9 de novembro, em São Paulo. Dessa forma, o pacote de ajuste de gastos deverá ser postergado, e o mercado espera que ele só seja apresentado a partir de 11 de novembro. A expectativa era de que as medidas fossem divulgadas logo após o segundo turno das eleições municipais, em 27 de outubro.
Fatores Externos e Internos Elevam o Dólar
O cenário externo também influencia a pressão sobre o dólar no Brasil. O mercado acompanhou os dados do Payroll nos Estados Unidos, divulgados recentemente, que indicaram uma desaceleração significativa na criação de empregos, passando de 223 mil vagas em setembro para apenas 12 mil em outubro. Esse dado reforça a expectativa de que o Federal Reserve (Fed), o banco central norte-americano, possa iniciar uma redução nas taxas de juros, movimento que gera impacto em moedas de mercados emergentes.
Por outro lado, a atividade econômica no Brasil apresentou um leve aquecimento, com a produção industrial crescendo 1,1% em setembro — a maior alta para o mês nos últimos quatro anos. Embora os números sejam positivos, o impacto no câmbio é limitado, uma vez que os investidores continuam atentos à indefinição sobre a política fiscal do governo.
Negligência e crise
A recente valorização do dólar frente ao real evidencia a importância da política fiscal e da comunicação estratégica por parte do governo. A ausência de um plano claro para conter gastos e o adiamento constante do anúncio de medidas enfraquecem a confiança do mercado, levando a uma busca por ativos mais seguros, como o dólar. A postura do ministro da Fazenda, que relativiza a importância do pacote de cortes, é vista com preocupação por analistas financeiros, que interpretam a falta de ação como uma possível dificuldade do governo em equilibrar as contas públicas.
Além disso, a possibilidade de corte de juros pelo Fed pode ter um efeito indireto sobre o Brasil, pois, apesar de potencialmente desvalorizar o dólar no longo prazo, a mudança também incentiva a migração de capitais para países desenvolvidos, especialmente se o Brasil não apresentar uma política fiscal consistente e previsível. Em resumo, o adiamento das decisões fiscais e o cenário de incertezas no mercado global criam um ambiente de pressão sobre o real, mantendo o dólar elevado e ampliando o desafio econômico que o país enfrenta no curto prazo.