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FMI piora previsões do Brasil, que terá recessão de 3,8%

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WASHINGTON – O Brasil é novamente o destaque negativo do Panorama Econômico Mundial (WEO, na sigla em inglês) do Fundo Monetário Internacional (FMI). Segundo o documento publicado na manhã desta terça-feira, o país terá uma recessão de 3,8%, piorando a previsão de queda de atividade de 3,5%, no levantamento de janeiro. O Brasil também não deve crescer em 2017, de acordo com o fundo. Mas o pessimismo do FMI não está centrado no Brasil, pois o organismo reduziu as perspectivas de crescimento da maior parte dos países, com exceção de China e Índia. O fundo afirma que o mundo está “crescendo muito pouco por muito tempo”.

O FMI continua com um cenário sombrio para o país: recessão de 3,8% neste ano, a pior entre as principais economias globais. Na prática, o fundo repete para 2016 o tamanho da recessão do ano passado. Além disso, o FMI prevê a manutenção do déficit em conta corrente ao menos até 2017 e o desemprego em alta: 2016 fecharia com 9,2% das pessoas desempregadas (em fevereiro a taxa do IBGE para as seis maiores regiões metropolitanas estava em 8,2%) e chegaria a 10,2% em 2017. O organismo também alerta para os riscos da inflação em alta no país, que deve fechar 2016 em 8,7% e 2017 em 6,1%, segundo as projeções do WEO. A instituição destaca ainda que o Brasil, juntamente com a Rússia, foram os países que mais contribuíram para a frustração das expectativas de crescimento global desde meados de 2014.

“No Brasil, o governo deve perseverar seus esforços de consolidação orçamentária para promover uma reviravolta na confiança e investimento”, afirma o documento, lembrando que no país é muito difícil cortar gastos, mas que isso é fundamental. “Reformas estruturais para aumentar a produtividade e a competitividade, incluindo concessões de infraestrutura, são essenciais para revigorar crescimento potencial”, destaca o documento.

Esse relatório marca a abertura da reunião de primavera do FMI, em Washington, que neste ano não contará com a presença do ministro da Fazenda do Brasil. Nelson Barbosa teve que trocar a sua estreia no evento ocupando o cargo de ministro para atuar na defesa do governo Dilma Rousseff na análise do impeachment na Câmara dos Deputados. Desta vez, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, ficará com a coordenação da delegação brasileira no encontro.

De acordo com as projeções do WEO, o desemprego de 9,2% do Brasil neste será o quarto pior entre 14 países das Américas (atrás apenas de Venezuela, Porto Rico e Colômbia), mas o número de 2017 (10,2%) tornará o país o terceiro pior da região, superando a Colômbia. No geral, o documento é pessimista com a América do Sul e prevê para 2016, além do Brasil, recessões na Venezuela (-8%), Equador (-4,5%) e na Argentina (-1%). Com isso a região passará de uma retração de 1,4% em 2015 para uma recessão de 2% em 2016.

Entre as nações mais relevantes do mundo, o FMI elevou apenas as previsões de crescimento da China, em relação ao levantamento de janeiro. O país agora deve crescer neste ano 6,5% (contra expectativa anterior de 6,3%) e 6,2% em 2017 (contra previsão anterior de 6,0%). O fundo também deixou estável as previsões para a Índia em 7,5% nos dois anos.

Para todas as demais principais economia, o FMI reduziu um pouco as previsões de crescimento no relatório de abril em relação às previsões de janeiro. Apesar de ainda apostar que, na média global, o crescimento da economia neste ano será um pouco maior que em 2015, o relatório aponta que, mais uma vez, o avanço tem sido frustrado. O WEO desta reunião tem como título “Too Slow for Too Long”, ou seja, crescimento muito lento por um tempo muito longo.

No documento de mais de 200 páginas o FMI aponta que a redução do crescimento chinês causou A queda dos preços das commodities (produtos básicos com cotação internacional, como minério de ferro, soja e petróleo) e isso afetou os investimentos, que por sua vez, reduziram a velocidade do comércio global.

— O crescimento global continua, mas a um ritmo cada vez mais decepcionante que deixa a economia mundial mais exposta a riscos negativos. O crescimento tem sido muito lento por muito tempo — afirmou Maurice Obstfeld na abertura da reunião do FMI.

O economista-chefe do fundo afirmou que a maior volatilidade financeira global, junto com as guerras que criaram a tragédia humana dos refugiados na Europa, podem induzir europeus e americanos a serem mais protecionistas, revertendo a tendência de um mundo mais aberto que vigorava desde o fim da Segunda Guerra Mundial, o que poderia causar ainda mais queda na atividade econômica global.

— Em muitos países, a falta de crescimento dos salários e maior desigualdade criaram um sentimento generalizado de que o crescimento económico tem beneficiado elites e proprietários de capital de forma desproporcional, deixando muitos outros atrás. O menor crescimento reforça, por sua vez, políticas nacionalistas. Em resumo: um crescimento mais baixo significa menos espaço para erros — afirmou Obstfeld, que defende uma política fiscal mais responsável, investimentos em infraestrutura e um aperfeiçoamento do sistema financeiro global para evitar nas quedas de atividade.


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