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Em crise, setor siderúrgico deve fechar 11.300 vagas neste semestre

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RIO – No primeiro semestre deste ano, 11.332 vagas serão fechadas na indústria siderúrgica, segundo estimativas divulgadas nesta segunda-feira pelo Instituto Aço Brasil (IABr), que reúne as principais empresas do setor. O número representa um acréscimo de 15% em relação às previsões de dois meses atrás e dá o ritmo de quão rapidamente a crise vem se agravando no setor. Na conta estão incluídas as demissões feitas pela Usiminas, de cerca de 1.800 funcionários, e da CSN, de aproximadamente 900 pessoas.

Entre 2014 e 2015, outras 29.740 pessoas já haviam perdido o emprego e 2.296 tiveram seu contrato de trabalho suspenso (lay off). Além das demissões, cerca de 9 mil postos de trabalho deixaram de ser abertos devido a investimentos engavetados. Entre 2014 e 2015, US$ 2,9 bilhões em projetos deixaram de sair do papel, segundo levantamento do instituto.

As dispensas refletem a queda nas vendas e na produção. Já há quatro altos-fornos parados — três deles da Usiminas — e, no próximo mês, a Vallourec desligará mais um, em Barreiro (Minas Gerais). Ao todo, são 16 no país.

— É a pior crise da história da siderurgia brasileira. É pior que a crise de 2008, porque a recuperação será mais lenta. Não há perspectiva de retomada do consumo interno em 2016 nem em 2017 — disse Marco Polo de Mello Lopes, presidente-executido do IABr.

SAÍDA SÃO AS EXPORTAÇÕES

A previsão para 2016 é que o consumo caia 8,8% ante 2015, para 19,4 milhões de toneladas, voltando ao patamar de 2006. Essa volta ao passado se acentuou a partir de 2014, quando os principais segmentos que consomem aço no Brasil já davam sinais de recuo na demanda. A indústria de bens de capital, automotiva e de construção civil respondem por 80% do consumo. A produção deve cair 1% este ano, para 32,9 milhões de toneladas, o menor nível desde 2010.

Para Marco Polo, a saída para o setor são as exportações. Ainda assim, há o desafio do excesso de capacidade ociosa da indústria siderúrgica mundial, que puxa os preços para baixo. No ano passado, com o real fraco, as siderúrgicas brasileiras voltaram sua produção para o setor externo e conseguiram elevar as vendas para fora do Brasil em 40,3%, para 13,7 milhões de toneladas. Em valores, porém, houve queda de 3,3%, devido ao declínio nos preços.

A reivindicação do IABr é que o governo federal retome o Reintegra, programa que “limpa o resíduo tributário” das exportações, nas palavras de Marco Polo. Como o produto passa por diferentes etapas e em cada etapa incide sobre ele uma lista de tributos, o programa previa um reembolso ao produtor de 3% do seu valor final. A iniciativa valia não apenas para a indústria siderúrgica, como também para outros segmentos exportadores. Isso custava ao governo cerca de R$ 7 bilhões por ano. Com a pressão pelo ajuste fiscal, o percentual de reembolso caiu para 0,1% em dezembro.

— Isso é a mesma coisa que nada. O ajuste fiscal não pode ser um fim em si mesmo. Não se constrói ou reconstrói o país sem uma indústria forte — afirmou o executivo.

RESERVAS INTERNACIONAIS

Considerando o retorno pleno do Reintegra, a estimativa do IABr para as exportações este ano são de alta de 2,3% em volume e 3% em valor. Marco Polo deu a entender que a retomada do programa poderia ser custeada pelas reservas internacionais.

— O governo alega que não tem dinheiro para custear o programa. Tem que se buscar dinheiro em algum lugar. Está se falando em usar as reservas para financiar programas sociais e abater dívidas . O que estou dizendo é que tem alguém na fila aqui também. Mas quem decide o funding do governo é o governo.


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