Fraude ambiental: servidores do Ipaam são alvos da PF no mesmo esquema bilionário do ex-secretário “Braguinha”
Manaus – A capital amazonense voltou ao centro das atenções com a deflagração da Operação Expurgare pela Polícia Federal (PF) nesta segunda-feira (9). A ação tem como alvo servidores do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam), suspeitos de integrar uma organização criminosa que utilizava suas posições para facilitar práticas ilegais como emissão de licenças ambientais fraudulentas, suspensão de multas e autorizações irregulares para desmatamento.
A Expurgare é a terceira fase das investigações iniciadas pela Operação Greenwashing, em junho de 2024, que revelou um esquema bilionário de fraudes fundiárias e créditos de carbono envolvendo áreas invadidas da União. Entre os envolvidos está o ex-secretário João Coelho Braga, conhecido como “Braguinha”, preso na ocasião.
Alvos e modus operandi
De acordo com a PF, os servidores do Ipaam ocupavam cargos estratégicos e participavam ativamente do esquema criminoso, que incluía a falsificação de licenças ambientais e a reutilização de títulos de propriedade em áreas públicas. Esses documentos eram inseridos com informações falsas no Sistema de Gestão Fundiária (SIGEF), facilitando a apropriação ilegal de terras e o desmatamento em larga escala.
A organização criminosa também já havia sido investigada na Operação Arquimedes, em 2019, que apurou práticas similares. A nova etapa da operação busca desarticular financeiramente o grupo, com o bloqueio de quase R$ 1 bilhão em bens e valores, além de cumprir mandados de prisão preventiva e busca e apreensão expedidos pela 7ª Vara Federal Criminal de Manaus.
Esquema bilionário e conexão com “Braguinha”
A Operação Greenwashing revelou que o grupo vendeu cerca de R$ 180 milhões em créditos de carbono provenientes de terras invadidas ilegalmente. A fraude, iniciada há mais de uma década em Lábrea (AM), expandiu-se para outras regiões, como Apuí e Nova Aripuanã, onde a organização continuou suas atividades ilícitas nos últimos três anos.
O ex-secretário João Coelho Braga, ou “Braguinha”, figura central do esquema, já havia sido preso em junho por corrupção e superfaturamento de contratos públicos. Sua demissão, em dezembro de 2023, ocorreu após ameaças feitas à empresária Cileide Moussallem, diretora-presidente do Portal CM7 Brasil, que denunciou irregularidades milionárias nas desapropriações conduzidas pela Secretaria de Estado das Cidades e Territórios(SECT).
Impacto no meio ambiente e na sociedade
As investigações apontam que a organização criminosa provocou danos ambientais significativos, com o desmatamento de aproximadamente 538 mil hectares de terras públicas. Além disso, a suposta emissão de créditos de carbono fraudulentos comprometeu a credibilidade dos esforços de sustentabilidade e conservação ambiental na Amazônia.