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Valorização do real frente ao dólar já preocupa setor exportador

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RIO – Especialistas e profissionais do segmento de comércio exterior consideram que a apreciação do real frente ao dólar funcionará como um freio às exportações brasileiras. Nesta quinta-feira, a moeda americana chegou a valer R$ 3,20. José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), vê uma freada imediata:

— O real mais forte vai piorar o que já não está bom. Até a quarta semana de junho, as exportações caíram 17,6% na comparação com igual período de 2015. Em exportações de produtos manufaturados, o recuo foi de 21,5%. Em maio, o número de empresas importadoras cresceu pela primeira vez desde o ano passado. Tudo isso mostra que o câmbio já tem efeito.

O câmbio, explica Flávio Castelo Branco, gerente executivo de política econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), é uma variável crítica para determinar a rentabilidade das exportações.

— A volatilidade do câmbio traz insegurança porque os exportadores, ao fecharem um contrato, sabem que é em moeda estrangeira e que tem custo mais elevado e risco. Para se precaver custa muito caro. Pode fazer exportadores reavaliarem sua rentabilidade e a viabilidade de fazer novos contratos — explica o executivo da CNI.

É preciso também, defende ele, olhar o lado dos importadores:

— Houve queda forte de importação porque muitos produtos ficaram caros. Com a valorização do real, pode haver prejuízo à recuperação da economia brasileira, que deveria vir por meio da substituição de importados e das exportações — alerta Castelo Branco.

‘MUDANÇA CALCADA EM CÂMBIO’

Mauro Rochlin, economista e professor dos MBAs da FGV, chama atenção para o impacto na balança comercial:

— Muito se tem falado da virada do setor externo, da queda do déficit externo. Mas não foi uma mudança estrutural, e sim calcada em alta do câmbio e recessão, que seguraram a importação. É sedutor usar o câmbio como política anti-inflacionária. Mas é temerário. Carregamos um déficit externo insustentável. Com a freada nas exportações, qualquer recuperação na economia colocará a balança num vermelho vibrante.

Já o secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Daniel Godinho, afirmou ontem em Washington que o câmbio continua favorável às exportações, apesar da valorização recente do real frente ao dólar. Ele não quis prever um patamar ideal para a divisa americana, mas não acredita que ela volte aos níveis de 2014.

— Ninguém espere que o dólar regresse a patamares de 2014 ou de 2013. A informação que nós temos do setor privado, o retorno que temos, é que o patamar cambial do último ano, com as oscilações naturais, é suficiente para sustentar a atividade exportadora — afirmou Godinho.

Ele ressaltou que as oscilações são naturais e que o setor privado não está reclamando desta situação:

— De um ano para cá, não ouvi de nenhum exportador, de nenhum ente privado, reclamação sobre o nível de câmbio.

Ricardo Macedo, coordenador adjunto da graduação em Economia do Ibmec/RJ, vê algum alento a longo prazo, devido à perspectiva de uma leve melhora na economia do país.

— Há um sinal de otimismo em relação à economia, que pode fazer com que a indústria consiga retomar a importação de máquinas e equipamentos, que ficam mais baratos. Seria uma queda de custos para a indústria — ressaltou Macedo.

Mesmo com o dólar abaixo dos R$ 3,30, o Banco Central (BC) não tem anunciado intervenções para impedir a valorização acentuada do real, como vinha fazendo por meio de leilões de derivativos (o chamado swap cambial reverso), que equivalem à compra de dólares no mercado futuro.

Segundo Leonardo Monoli, sócio da Jive Asset Management, a nova equipe do BC está mais interessada em extrair os benefícios de um dólar menos valorizado para o combate à inflação do que em puxar o câmbio para ajudar exportadores:

— Hoje, para o BC, é mais importante que o dólar caia para ajudar na redução da inflação e, consequentemente, permitir que se reduzam os juros.

O dólar já passou de níveis nos quais o Banco Central poderia ter tomado algum tipo de posição. Se ele não o fez, mostra que, de fato, quer ficar ausente do mercado, diz Raphael Figueredo, analista da Clear Corretora.

— O objetivo de reduzir a inflação é um dos fatores — afirma.


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