Dólar perde força e volta a ser negociado abaixo de R$ 3,50
RIO E SÃO PAULO – O dólar comercial voltou a perder força e está sendo negociado abaixo dos R$ 3,50 com a expectativa de que o governo não vai conseguir evitar a votação do impeachment da presidente Dilma Rousseff, previsto para ser concluído até o domingo. Às 16h29, a moeda americana registrava leve alta de 0,11%, a R$ 3,481, mesmo após intervenções de US$ 5 bilhões feitas pelo Banco Central ao longo do pregão. Enquanto as contas cada vez menos favoráveis ao governo na Câmara para barrar o processo empurram o dólar para baixo, a autoridade monetária tem comprado porções bilionárias da moeda para evitar que ela se desvalorize demais — o que prejudicaria as exportações e empresas que se prepararam ao longo dos últimos meses para uma valorização do dólar.
Se de um lado há a atuação da autoridade monetária, do outro os investidores são levados pelo cenário político. No início da tarde, a Advocacia Geral da União (AGU) encaminhou ao Supremo Tribunal Federal (STF) um mandado de segurança que questiona a legalidade do processo de impeachment da presidente Dilma. Com o STF adiou para as 17h30 a reunião extraordinária, a expectativa é que esse pedido seja negado e o dólar passou a cair. Foi quando o BC anunciou uma nova intervenção no mercado de câmbio.
— O BC tem feito essas intervenções quando o dólar se aproxima de R$ 3,50 no mercado futuro. Dessa vez, deixou cair abaixo. O mercado está muito vendedor, por isso essa trajetória de queda, mesmo com a atuação do BC — disse.
Nesta tarde, o BC anunciou mais US$ 1 bilhão em “swaps cambiais reversos” — operação que equivale à compra de dólar no mercado futuro. Pela manhã, já haviam sido ofertados US$ 3,98 bilhões por meio do mesmo mecanismo. Mais um lote de US$ 1 bilhão será ofertado até o final dos negócios. Ao enxugar a oferta de dólar na economia, essa operação tende a valorizar a divisa americana. Na máxima da sessão desta quinta, a moeda chegou a valer R$ 3,534.
— O mercado deu uma acalmada. Não dá para sair peitando o BC. Talvez depois, com números melhores da economia — avaliou Hideaki Iha, operador de câmbio da Fair Corretora.
Com a intervenção de hoje, o BC acumula US$ 19,2 bilhões em intervenções no mercado de câmbio em três dias. Na véspera, a moeda americana fechou em queda de 0,48%, a R$ 3,477 na venda – a colocação em swaps reversos também foi de US$ 4 bilhões.
‘TENDÊNCIA DE ALTA DA BOLSA CONTINUA’
A Bolsa de Valores São Paulo (Bovespa), por sua vez, mudou de trajetória no meio da manhã e agora registra desvalorização de 1,42%, aos 52.397 pontos, após ter fechado na máxima do ano no pregão anterior. No mercado de ações, a notícia da AGU pesou de forma negativa.
— O mercado subiu bastante nos últimos, e os investidores sentiram a necessidade de realizar algum lucro. Isso é normal. Mas não teve nenhuma notícia favorável ao governo que mudasse a tendência de alta da Bolsa. A tendência é clara e eu acredito que vai continuar se o processo foi aprovado na Câmara no domingo — afirmou Leonardo Ramos, sócio da DNA Invest.
O especialista também lembra que haverá vencimento de contratos de opção sobre as ações na próxima segunda-feira, o que influencia as cotações pois os investidores tentam pressionar os papéis para o preço mais favorável à sua estratégia.
Em escala global, o dólar opera praticamente estável (queda de 0,09%) contra uma cesta de dez divisas, de acordo com o índice Dollar Spot, da Bloomberg.
As Bolsas externas, que têm semana de forte valorização motivada por maior otimismo com a economia chinesa e recuperação das ações bancárias, registram pregão de leve alta hoje. O índice Dow Jones, nos EUA, sobe 0,12%, igual variação do S&P 500. O Euro Stoxx 50, fechou em alta de 0,71%. Em Paris, a alta foi de 0,47%, e em Frankfurt, de 0,67%. O FTSE 100, de Londres, fechou praticamente estável, com pequena variação positiva de 0,18%.
VALE E SIDERÚRGICAS DESPENCAM
Entre as ações brasileiras, os papéis Petrobras ON caem 2,62% (R$ 11,52), e os PN, 3,57% (R$ 9,17). No setor bancário, o Banco do Brasil ON registra desvalorização de 1,74% (R$ 21,94), mas o Bradesco PN cai 2,68% (R$ 28,62), e o Itaú Unibanco PN, 3,08% (R$ 32,67).
As principais quedas ocorrem no setor de mineração e siderurgia. A Vale ON cai 6,59% (R$ 18,28), e o papel PNA despenca 7,22% (R$ 13,73). A CSN passou a operar em alta, com ganho de 0,60%, a R$ 31,48. Já as ações da Usiminas caem 11,71%, a R$ 1,96.
— Essas ações haviam disparado nos últimos dias devido a dados positivos referentes à China. Então é natural que elas “realizem” hoje. Além do mais, o minério de ferro está caindo um pouco lá fora — explicou Ramos, da DNA Invest.
O minério de ferro caiu hoje 1,82% na China, com a tonelada recuando a US$ 59,38.
Na outra ponta estão as ações de companhias exportadoras, que vinham sofrendo com a queda do dólar e hoje têm uma trégua. No setor de papel e celulose, a Fibria ON avança 2,12%, enquanto a unit da Klabin recua 1,72%. As ações da Suzano sobem 2,73%.