BC faz três leilões de compra de dólar e moeda sobe mais de 1%
SÃO PAULO – O dólar comercial responde aos leilões de moeda americana feitos pelo Banco Central e tem alta de mais de 1% ante o real nesta sexta-feira. Às 16h31 a divisa se valorizava 1,32%, sendo negociada a R$ 3,522 na venda – na máxima já chegou a R$ 3,561. O BC voltou a intervir no mercado de câmbio e fez três leilões de contratos de swap cambial reverso, uma operação que equivale a uma compra futura de moeda. No mercado de ações, o índice Ibovespa sobe 1,10% embalado pela expectativa de aprovação do impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Na prática, com os leilões, o BC retira dólares do mercado com o objetivo de elevar a cotação da divisa americana, que vem se desvalorizando frente ao real influenciada pelo fator político. O foco hoje é sessão na Câmara que irá decidir sobre o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff no domingo. Os agentes do mercado financeiro afirmam que a autoridade monetária tem adotado essa expectativa agressiva para compensar a expectativa de entrada de recursos no país – que deve ocorrer com a possível mudança de governo e também porque há um aumento da liquidez global, segundo lembrou Raphael Figueredo, analista da Clear Corretora.
— O BC tem sido muito agressivo em seu posicionamento e isso não chega a ser uma surpresa para o mercado. Há a expectativa do impeachment passar e, assim, ocorrer uma entrada de recursos no país — avaliou.
De acordo com operadores de câmbio, investidores comprados no mercado futuro num dólar mais próximo de R$ 4 desmontam suas posições e a divisa americana recua.
— Nos últimos dois meses, houve um efeito manada de investidores desmontando posições no mercado futuro com dólar mais próximo de R$ 4. O mercado está apostando que uma troca de governo pode ser melhor para o país e assim o câmbio recua. O BC aproveita essa queda para reduzir sua exposição de swap tradicional (que era de mais de US$ 100 bilhões antes dos leilões e agora já caiu cerca de US$ 25 bilhões) e também atua para diminuir a volatilidade da moeda — explica Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da corretora Treviso.
Nos leilões de swap tradicional que vinha fazendo o BC se comprometia a vender dólares no futuro, o que evitava uma valorização excessiva da moeda americana.
INTERVENÇÃO DO BC CHEGA A US$ 4,42 BILHÕES
No primeiro leilão, realizado entre 9h30 e 9h40, o BC vendeu todos os 80.000 contratos de swap cambial reverso, o equivalente a cerca de US$ 4 bilhões. No segundo leilão, feito entre 10h20 e 10h30 foram vendidos apenas 7.500 dos 40 mil contratos oferecidos ao mercado. A operação movimentou US$ 373,9 milhões. A terceira compra de dólares foi feita entre 11h30 e 11h40. Foram ofertados 32.500 contratos (o equivalente a US$ 1,6 bilhão), mas apenas 1.000 papéís foram vendidos (giro de US$ 49,8 milhões). Ao todo, a atuação do BC chegou a US$ 4,42 bilhões.
— Hoje, o mercado está respondendo aos leilões do BC, já que a moeda sobe, mas também há o fator cautela. Há a expectativa para a aprovação do impeachment na Câmara, mas nunca se sabe se algo pode dar errado — diz o gerente de câmbio.
Analistas avaliam que apesar das intervenções do BC para manter o dólar comercial acima de R$ 3,50, a tendência para a moeda é de queda. Para Galhardo, a moeda pode recuar ainda mais se o processo de impeachment passar, mas é difícil estimar até onde o dólar pode ir. Há apostas de que a divisa americana poderia recuar até entre R$ 3,30 e R$ 3,40. Mas Galhardo avalia que o BC vai continuar atuando para evitar uma queda muito brusca.
— O BC vai continuar atuando — diz Galhardo.
Ontem, mesmo com o BC retirando US$ 6 bilhões de circulação através dos leilões, o dólar comercial não teve força para subir e fechou praticamente estável, cotado a R$ 3,476, com pequena variação negativa de 0,02%. Na semana, através dos leilões, o BC retirou US$ 20 bilhões do mercado.
AÇÕES DA PETROBRAS DISPARAM
Na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), o Ibovespa, índice de referência do mercado de ações brasileiro, opera em alta sustentando pela expectativa de aprovação do impeachment. O índice sobe 1,10%, aos 52.989 pontos. Entre as ações do índice, os papéis que mais sobem são os da Petrobras. Os preferenciais (PNs, sem direito a voto) avançam 4,69%, cotados a R$ 9,59, e os ordinários (ONs, com direito a voto) registram valorização de 3,83%, a R$ 11,91. A maior alta, no entanto, é registrada pela Gerdau Metalúrgica, 5,70% (R$ 2,78) e a Estácio de Sá tem alta de 4,52% (R$ 12,02). Na outra ponta, as ações da Rumo recuam 5,12% (R$ 3,70) e as da JBS caem 1,53% (R$ 9,60).
“Hoje temos mais um dia complicado para os mercados de risco, especialmente no cenário local. O mercado vai repercutir as decisões do STF sobre liminares não acatadas pelo STF, que favoreceriam o governo, a postura do Bacen em relação ao câmbio e suas operações de swap cambial reverso e ainda os discursos inflamados na plenária da Câmara”, diz em relatório Álvaro Bandeira, economista-chefe do home broker Modalmais.
No cenário externo, a divulgação de indicadores econômicos da China trouxe números melhores que os esperados. O PIB do primeiro trimestre registrou expansão de 6,7% anualizado, mas ainda assim mostra a menor expansão desde 2009.