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Após decisão britânica, Bolsa cai 2,8% e dólar sobe a R$ 3,38

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RIO e SÃO PAULO – A decisão do Reino Unido de deixar a União Europeia, que surpreendeu investidores do mundo inteiro, deixou um rastro de perdas nas principais Bolsas de Valores do mundo. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) acompanhou a decepção do mercados, mas com menos intensidade que os pregões europeus, que registraram perda de mais de 12%. Ao final do pregão, o Ibovespa, principal índice do mercado de ações brasileiro, caiu 2,82%, aos 50.105 pontos e volume negociado de R$ 6,9 bilhões. Na mínima do pregão, chegou a afundar 3,9%. Na semana, o índice se valorizou 1,1% e no mês tem ganho de 3,3%.

— O movimento de perda mais forte aconteceu na Bolsas europeias, que estão no epicentro do problema. A Bolsa brasileira seguiu em linha com as americanas, com perdas de menor intensidade. Mas os efeitos indiretos do Brexit, no médio prazo, também serão sentidos no Brasil, como menor liquidez, maior aversão ao risco e redução do fluxo de investimentos – disse o economista Hersz Ferman, da Elite Corretora.

Nos Estados Unidos, os principais índices apresentaram queda desde o início do pregão e fecharam com desvalorização. O S&P 500 recuou 3,459%; o Dow Jones teve perda de 3,39% e o Nasdaq se desvalorizou 4,12%.

No mercado de câmbio, o dólar comercial chegou a saltar 3,14% contra o real nesta sexta-feira, a R$ 3,450, mas acabou perdendo força no decorrer da sessão. Fechou em alta de 1,04% a R$ 3,37. Na mínima do dia, o dólar chegou a ser negociado a R$ 3,35. A libra, que atingiu menor valor em 31 anos contra o dólar, e despencou mais de 6% em relação ao real, encerrando R$ 4,63. Ontem, a divisa havia fechado a R$ 4,96. O euro se desvaloriza 1,38% frente ao real e está sendo negociado a R$ 3,75 na venda.

— Foi surpreendente o comportamento do dólar por aqui. O comunicado do BC brasileiro mostrando que estava alerta, o cenário político positivo, que fortalece o impeachment e o sentimento de que o Federal Reserve (Fed), o banco central americano, não deve elevar os juros em breve, ajudaram a segurar a cotação do dólar – explicou Cleber Alessie, operador de câmbio da corretora H. Commcor.

Para o economista Ignácio Rey, da Guide Investimentos,, o impacto no câmbio ficou mais concentrado em países diretamente ligados ao mercado europeu.

— De qualquer forma, continuamos sendo um mercado emergente bastante exposto à volatilidade e o Brexit foi uma surpresa ruim que complica ainda mais o cenário externo pra gente.

Para Rey, a postergação de uma alta de juro nos EUA também tem um componente negativo.

— Isso significa que o mundo vai crescer menos. A própria alta do dólar em virtude do Brexit continuará prejudicando a indústria americana, por exemplo — acrescentou Rey.

BOLSAS DA EUROPA TÊM PERDAS DE ATÉ 12%

O mercado acionário global abriu e fechou em forte queda após o Reino Unido optar por deixar a União Europeia no referendo realizado na quinta-feira, puxada principalmente pelas ações bancárias e queda no preço das commodities. Na Europa, o índice de referência Euro Stoxx 50 recuou 8,62%, enquanto a Bolsa de Londres teve baixa de 3,15%. Em Paris, a desvalorização do principal índice foi de 8,04%, enquanto a Bolsa de Frankfurt caiu 6,82%. As maiores quedas foram registradas em Milão, onde Bolsa recuou 12,48%, e em Madri, com perda de 12,35%, a maior de sua história. As baixas foram potencializadas, segundo analistas, pelo fato de que as ações nas Bolsas europeias haviam subido nas cinco sessões anteriores em meio às expectativas de que o Reino Unido permaneceria na UE.

Segundo levantamento da agência Efe, as principais bolsas europeias perderam mais de 960 bilhões de euros (US$ 1,08 trilhão) nesta sexta. O valor de mercado das empresas nas principais bolsas europeias alcançou, no fechamento de ontem, 6,1 trilhões de euros, frente aos cerca de 5,14 trilhões de euros desta sexta.

O ouro, considerado um refúgio em momentos de aversão a risco, atingiu o maior patamar em dois anos. Os lingotes chegaram a subir 8,1%, maior salto desde o auge da crise financeira global em 2008, antes de reduzirem parte do ganho. No fim do dia, se valorizaram pouco mais de 4%. O volume de negociação de futuros foi seis vezes maior que a média para esse período do dia.

PETROBRAS E VALE CAEM MAIS DE 6%

Entre as ações brasileiras, Petrobras e Vale registram as perdas mais significativas, reagindo à desvalorização das commodies no mercado internacional. Petrobras ON despencou 5,47% (R$ 11,47), enquanto a PN teve baixa de 4,65% (R$ 9,25). No caso da mineradora, a ação ON registrou desvalorização de 8,19% (R$ 15,23), e a PNA recuou 8,65% (R$ 12,22).

No setor bancário, o de maior peso no Ibovespa, o Banco do Brasil ON caiu 2,52% (R$ 15,89), e o papéis PN do Bradesco tiveram perda de 2,78% (R$ 24,88). Jás as preferenciais do Itaú Unibanco registraram desvalorização de 3,66% (R$ 28,95). Os papéis de bancos foram influenciados pelas perdas que estas ações tiveram na Europa.

— O comportamento do mercado brasileiro foi razoavelmente controlado. Colocando os fatos em perspectiva, a União Europeia não é o primeiro nem o segundo principal parceiro econômico do Brasil. A alta do dólar, inclusive, é favorável para as exportações das empresas brasileiras. No caso da Vale, por exemplo, embora a China consuma metade de sua produção, a mineradora despenca com a desvalorização das commodities que ocorre quando o dólar avança — afirmou Paulo Gomes, economista-chefe da gestora Azimut.

O Banco Central divulgou nesta sexta-feira uma nota em repercussão à decisão britânica. Segundo o texto, o BC está “monitorando continuamente” os mercados global e doméstico e “ caso necessário, adotará as medidas adequadas para manter o funcionamento normal dos mercados financeiro e cambial”.

Na quinta-feira, quando os britânicos ainda estavam indo às urnas, o mercado financeiro brasileiro se comportou com otimismo. A moeda americana fechou em queda de 0,94%, cotada a R$ 3,345, enquanto a Bovespa avançou 2,8%, aos 51.559 pontos.


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