Brasília Amapá |
Manaus

‘Shopping’ em havana

Compartilhe

HAVANA — O Centro de Compras Carlos III é o que há de mais próximo dos shoppings brasileiros: diversas lojas, parque infantil e lanchonetes distribuídas em cinco andares. O local, que já viveu dias de desabastecimento, voltou a ser vibrante e tem prateleiras cheias. Ao contrário dos produtos básicos do passado, há todo tipo de bens à venda, inclusive uma moderna hidromassagem para quatro pessoas por 8.800 CUCs (R$ 37,8 mil).

Este renascimento está ligado diretamente ao dinheiro gerado no país pelo turismo, pela nova classe de empreendedores e pelas parcerias internacionais de Cuba, que está cada vez mais aberta e se reintegrando ao sistema financeiro global. Mas há outra fonte por trás desta mudança: o envio de dinheiro por estrangeiros. O centro de compras, parceria de Cuba com um grupo empresarial canadense, aceita que americanos, por exemplo, comprem produtos – de eletrodomésticos a carne – escolhendo e pagando nos EUA, mas com entrega direta em solo cubano. Um “jeitinho” cubano ao embargo, utilizado sobretudo por familiares radicados em Miami.

— Realmente há mais produtos, podemos encontrar de tudo aqui. Mas sou engenheira com dois anos de formação e continuo recebendo 470 pesos, ou seja, 17 CUCs, por mês. Se dependesse apenas do meu salário, não poderia comprar nada aqui — diz Rosa Domingues.

A luta para aumentar o poder de consumo mobiliza todos na ilha. As saídas encontradas são desde atividades ligadas ao turismo, remessas de parentes do exterior e o aproveitamento das missões cubanas a outros países, como os médicos que, trabalhando no Brasil, aproveitam este momento para poupar. E, em alguns casos, há os que sobrevivem com atividades ilegais, como contrabando e prostituição.

O “shopping”, no centro de Havana, também deixa nítida outra grande fonte de mudança do governo de Raúl Castro: a unificação das duas moedas do país. Está em marcha a união do peso, utilizado pelos cubanos e para os produtos básicos, e o CUC, o peso conversível, nas mãos dos turistas, que é equiparado à cotação do euro e vale 25 pesos cubanos. Desde a reaproximação de Cuba com os EUA, em 17 de dezembro de 2014, todas as lojas são obrigadas a aceitar as duas moedas e exibir seus preços nas duas divisas. Isso facilita a compreensão de que, em breve, haverá uma única moeda cubana.

Este será um novo começo para Cuba. O CUC é chamado pelos locais, sobretudo os mais antigos, de fula, corruptela de fulastre, que nas ruas cubanas significa “pessoas em que não se pode confiar”, ou “perigoso”. O apelido vem da época em que os moradores locais poderiam ser presos simplesmente se estivessem com esta moeda, exclusiva para os estrangeiros. Uma mudança significativa em um curto espaço de tempo.


...........

Siga-nos no Google News Portal CM7