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Rota inversa: a história esquecida dos campos de refugiados europeus no Oriente Médio

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WASHINGTON – Milhares de refugiados fogem de uma guerra. Uma viagem cheia de perigos, mas que promete do outro lado uma recompensa. Não se trata do sofrimento enfrentado pelos refugiados sírios, desesperados para escapar da desolação de suas terras natais e encontrar uma vida mais segura na Europa. E sim do curioso, e atualmente esquecido, caso das pessoas do Leste Europeu e da região dos Balcãs que moraram em campos de refugiados no Oriente Médio, inclusive na Síria, durante a Segunda Guerra Mundial.

Por causa dos conflitos entre nazistas e soviéticos no Leste da Europa, parte da população civil foi removida de suas casas. Em regiões com ocupações fascistas, comunidades judaicas e outras minorias foram vítimas dos ataques mais severos, mas os outros, particularmente os suspeitos de apoiar tropas rivais, também foram sujeitos a retiradas forçadas.

Em 1942, o Reino Unido lançou uma iniciativa conhecida como Administração para Refugiados no Oriente Médio, que ajudou no estabelecimento de 40 mil poloneses, gregos e iugoslavos. Em 1944, o projeto foi submetido aos cuidados das Nações Unidas, o termo formal para o bloco dos aliados. Os refugiados foram distribuídos em campos no Egito e no Sul da Palestina e Síria.

CONDIÇÕES DE VIDA

“Depois de serem registrados, os recém-chegados passavam por inspeção médica. No caso de serem considerados saudáveis o suficiente para se juntar ao restante do campo, os refugiados eram submetidos a uma triagem e eram divididos em alojamentos para famílias, crianças desacompanhadas, homens solteiros e mulheres solteiras. Uma vez assentados, os refugiados desfrutavam de poucas oportunidades para sair dos acampamentos. Apenas ocasionalmente e sob a supervisão de oficiais do campo”, diz um estudo realizado em abril pela “Public Radio Internacional”.

“Os refugiados residentes em Aleppo podiam caminhar até a cidade para diversas atividades. Por exemplo, podiam comprar suprimentos básicos nas lojas, assistir a filmes no cinema local ou simplesmente se distrair da monótona vida em um campo. Mesmo que a localização do campo de Moses Wells no Egito não permitisse ir caminhando até a cidade, os refugiados podiam sair diariamente para se banhar no Mar Vermelho”, narra outro trecho do estudo.

As condições eram modestas, mas não miseráveis. Havia lugares para a prática de esporte e lazer, os moradores que desejassem aprender um ofício poderiam se inscrever para receber treinamento vocacional. Os oficiais do campo organizavam peças de teatro e eventos recreativos. Segundo o relatório da PCI, em geral, as crianças tinham acesso a uma educação rudimentar.

“As salas de aula dos campos tinham poucos professores para muitos alunos. Algumas pessoas da região doavam jogos, brinquedos e bonecas para o jardim de infância”, afirma o estudo.

POLONESES NO IRÃ

O Irã também abrigou milhares de poloneses que escapavam dos nazistas e dos campos de trabalho forçado dos soviéticos. Estima-se que 114 mil e 300 mil pessoas chegaram ao país ente 1939 e 1941. A chegada foi um grande alívio para muito poloneses. Uma pausa do trauma causado pelas atrocidades nazistas e soviéticas e uma forma de manter sua língua e costumes. Eles foram recebidos de braços abertos.

“Os amigáveis persas se juntavam ao lado dos ônibus que chegavam, jogavam presentes como nozes, frutas secas pela janela e desejavam uma boa vinda”, recorda uma professora polonesa que morou na cidade de Isfahan.

Com o desfecho da guerra, a maior parte dos refugiados europeus no Irã e nos outros lugares do Oriente Médio retornaram para seus países de origem ou mudaram-se para outros lugares. E as recordações positivas da breve temporada na Ásia são pouco lembradas nas discussões contemporâneas sobre o atual fluxo de imigrantes muçulmanos na Europa. O governo conservador da Polônia se posicionou contra o assentamento de refugiados sírios no país.

De acordo com uma reportagem da Associated Press de 2000, apenas 12 sobreviventes do êxodo polonês ainda viviam no Irã. Ele se casaram com pessoas locais, viviam suas vidas normalmente e não eram particularmente próximos entre si. “Ocasionalmente, eles se encontram para as comemorações de Natal” diz o texto da AP. “Eles preferiam deixar para atrás a tragédia que os uniu.”


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