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Refugiado sírio que cativou o mundo vendendo canetas não consegue resgatar dinheiro doado

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BEIRUTE — Uma imagem de Abdul Halim al-Attar caminhando nas ruas de Beirute com a filha Reem dormindo no seu ombro direito e canetas baratas de tinta azul comoveram o jornalista Gissur Simonarson. Ele postou a imagem numa rede social em agosto do ano passado, e ela fez com que muitos lamentassem o destino de milhões de pessoas desabrigadas devido à guerra civil na Síria. Pessoas passaram a perguntar como poderiam ajudar, e Simonarson, com a ajuda de ativistas da cidade, conseguiu encontrar o protagonista da foto. E não é só isso. Quando al-Attar recebeu apoio de ativistas estrangeiros, ouviu que haviam arrecadado cerca de US$ 200 mil (R$ 700 mil) pela campanha #BuyPens (“Compre canetas”) de Simonarson, para ajudar o imigrante e a sua família. No entanto, todos os esforços encontraram uma grave barreira: ele não tem conseguido resgatar o dinheiro doado.

Attar — um palestino que vivia no campo de refugiados de Yarmouk, próximo a Damasco, capital da Síria — foi para o Líbano com sua esposa e seus dois filhos em 2012, quando o conflito na Síria se intensificou. A ativista e jornalista local Carol Malouf tornou-se a companheira da família no Líbano. Parte do dinheiro arrecadado foi para ela, já que ela é legalmente responsável pelos negócios de al-Attar.

Malouf e Simonarson afirmam que transferiram cerca de R$ 230 mil para Abdul e que ele usou o dinheiro para abrir uma padaria, uma loja de kebabs e um pequeno restaurante. Em dezembro, ele já empregava 16 refugiados sírios.

Seu filho de nove anos, Abdullelah, conseguiu voltar a estudar depois de um período de três anos. Desde então, a esposa de Abdul voltou para a Síria, de acordo com vários veículos da imprensa, e hoje o casal está separado. Halim al-Attar disse à Associted Press em dezembro que deu cerca de R$ 90 mil a amigos e parentes na Síria.

Mas agora, as coisas não estão indo muito bem. A gravação de uma ligação telefônica entre al-Attar e uma mulher (Carol Malouf, segundo alguns) veio a público nesta semana, em que al-Attar pede pelo resto da reserva, e a mulher ameaça tomar ações que poderiamr esultar em sua prisão ou deportação. Attar, que não respondeu às tentativas de contato, está convicto de que Malouf está escondendo o resto do seu dinheiro. Na gravação, a mulher que estava ao telefone afirmou que o dinheiro não pertencia a ele.

Entretanto, Simonarson, que começou toda a campanha, afirmou que o vídeo não conta toda a história. Ele afirma que ouviu de Malouf que al-Attar gastou mais de R$ 300 mil sem muitos registros para comprovar as despesas. Ela acredita que ele foi enganado por pessoas sobre as quais ela o alertou, disse Simonarson.

O vídeo causou indignação no Líbano, onde uma reportagem sobre o escândalo foi transmitida no noticiário de televisão ontem à noite.

Não se sabe exatamente onde estava o dinheiro e como movimentá-lo. Em outubro do ano passado, foi divulgado que havia dificuldades em fazê-lo chegar a al-Attar. O site de financiamento coletivo Indiegogo, usado para arrecadar os recursos, automaticamente deduz uma quantia próxima de R$ 70 mil, e o Líbano não permite que o PayPal, outro site do tipo que foi utilizado, opere no país.

Na época do impasse, Simonarson disse que estava tentando transferir os fundos de uma forma que evitasse usar a sua própria conta norueguesa, já que, se ela for usada, 45% de seu montante será imediatamente usado para pagar impostos. Ele afirmou que tentou convencer um amigo — outro grande doador da causa de compras de caneta — a movimentar a quantia via Dubai, mas não conseguiu. No momento em que esta reportagem foi escrita, ainda havia aproximadamente R$ 250 mil na conta do PayPal de Simonarson decorrentes da campanha.

Entretanto, com a reviravolta de eventos e a crescente desconfiança das versões de al-Attar e Malouf, ainda não se sabe qual atitude tomar agora. Simonarson falou no ano passado que, como o valor arrecadado foi muito mais do que o previsto inicialmente, ele teria que “reconsiderar” se al-Attar receberia cada centavo do dinheiro. Entretanto, ele ainda espera conseguir movimentar o dinheiro que ficou na sua conta da PayPal para doá-lo a al-Attar.

Segundo o jornal britânico “Independent”, Carol Malouf atualmente está no Iraque e não foi encontrada para comentar o caso.


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