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O dilema dos cartunistas na Bélgica

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BRUXELAS — Humor é traço universal de cartunistas e caricaturistas. Mas, depois dos atentados de Bruxelas, está difícil levantar o ânimo dos belgas, famosos por desenhos e histórias em quadrinhos como “Tintin”.

— Em momentos como este, não fazemos os melhores desenhos. Fiz um emocional. Não podemos ter humor — diz Dubus, cujo verdadeiro nome é Frédéric du Bus.

Este nativo de Bruxelas constata que na sua cidade há “dois mundos que não se falam”: um dos imigrantes, outro dos belgas. Para ele, a Europa tem uma parte da responsabilidade, ao fracassar na integração. Desde o assassinato de cartunistas do semanário satírico “Charlie Hebdo”, em janeiro de 2015, Cécile Bertrand tem sido convidada por escolas belgas para explicar aos jovens a importância da liberdade de expressão. Mas ela conta como esbarrou na resistência de muçulmanos.

— É muito difícil. Fico irritada. Me encontro diante de jovens que me dizem: blasfemar e representar Maomé não pode. Não querem nem me ouvir. Digo a eles: vocês me colocam uma barreira, impossível discutir com vocês. Numa das escolas ameacei ir embora, mas outros alunos não muçulmanos pediram para eu continuar.

Para o belga Nicolas Vadot, vice-presidente de Cartooning for Peace (Cartunistas pela Paz) — organização que reúne 145 cartunistas de todo o mundo, criada após a violenta reação à publicação de caricaturas de Maomé por um jornal dinamarquês — não é a religião nem a agenda política que movem os terroristas, mas sim o fato de se tornar “celebridade fácil”, alimentada pelas redes sociais. Ele reconhece que há problema na integração dos estrangeiros ou filhos de imigrantes, mas afirma:

— Podem ter uma história dificil, mas tem milhares de pessoas como eles que não se explodem para matar pessoas. Temos que parar de achar desculpas para eles. Nos meus desenhos, eu os represento pelo que são: bandidos. Nada além disso.

Dubus vê a radicalização dos muçulmanos como uma “grande febre” do planeta: são minoria, vai parar. Em nome da liberdade de expressão, ele apoia o“Charlie Hebdo”, mas é contra a forma como a revista usa o humor: para atacar.

— Humor, para mim, é uma arma defensiva. Eu tento apenas de me defender. Acho que há uma forma de fazer desenhos pertinentes, sem necessariamente desenhar Maomé.


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