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Na Venezuela, 150 pacientes esperam desde novembro por resultado de biópsias

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VALÊNCIA — Mais de 150 pacientes que recorreram ao hospital venezuelano de oncologia Miguel Pérez Carreño, no estado de Carabobo, em novembro do ano passado, ainda aguardam o resultado dos exames. Segundo o presidente da Comissão de Saúde da Assembleia Nacional, José Manuel Olivares, o hospital não dispõe do material necessário para concluir os exames, que poderiam descartar ou corroborar a hipótese de câncer nos pacientes.

— O câncer precisa ser atendido. Hoje, vemos mais de 150 biópsias desde novembro deixadas em um canto porque o serviço de Anatomia Patológica não tem álcool, lâminas ou formol. São 150 venezuelanos que possivelmente já morreram sem saber se tinham câncer ou não — ressaltou Olivares.

Segundo Olivares, que foi à unidade acompanhado de outros parlamentares em ronda por hospitais observados pela Comissão de Saúde, a angústia da espera se estende aos médicos. Apenas com os resultados em mãos, os profissionais podem avaliar se direcionam o paciente para quimioterapia, radioterapia ou cirurgia.

Há 11 anos, não há aparelho para realizar mamografia na unidade. E mesmo que os exames estivessem prontos, a precariedade da instalação hospitalar desafiaria a continuação do tratamento, diz a comissão. O Hospital Pérez Carreño não conta com serviço de radiologia desde 2005. Segundo o médico especialista e presidente da Sociedade Médica de Oncologia, Daniel Verdecchia, das três salas de operação do centro de saúde, apenas duas costumam funcionar devido a problemas locais de falta de água, eletricidade, insumos e danos em equipamentos que requerem manutenção preventiva.

— A área das salas de operação só funciona em um turno. Poderia ser utilizada à tarde, mas não há pessoal — acrescentou o médico. — Estamos de mãos atadas pela falta de insumos, equipamentos e infraestrutura para poder fazer mais do que fazemos. É uma tarefa de titã tratar os nossos pacientes até o bem-estar geral.

SEM DINHEIRO PARA COMIDA OU REMÉDIO

Há cerca de um mês, a Assembleia Nacional venezuelana aprovou por unanimidade a declaração de emergência sanitária no país. Além do sucateamento dos centros de saúde, há falta de medicamentos disponíveis nas farmácias. O desabastecimento na rede privada chega a 80%, de acordo com a Federação Farmacêutica Venezuelana (Fefarven).

Segundo “El Nacional”, as farmácias do governo também estão tão vazias quanto as da iniciativa privada. Nesta segunda-feira, a primeira farmácia socialista — inaugurada em maio de 2012 — não dispunha de remédios para tireóide, hipertensão, para altos níveis de açúcar no sangue, nem mesmo paracetamol. Os funcionários do local tampouco sabiam estimar quando receberiam os medicamentos. A escassez de medicamentos contrapõe a versão oficial de que as prateleiras vazias das lojas particulares seriam resultado de um problema de distribuição.

Para o presidente da Fefarven, Freddy Ceballos, enquanto o governo não liberar a alocação de divisas aos laboratórios farmacêuticos, as drogarias continuarão desabastecidas.

— O governo deveria garantir o acesso a remédios em todas as farmácias do país, tanto as públicas quanto as privadas, que são quase 5 mil — explicou ao “El Nacional”.

Além da escassez, muitos venezuelanos não têm como comprar medicamentos. De acordo com uma pesquisa da empresa de consulta Venebarómetro, oito em cada dez venezuelanos dizem não ter dinheiro suficiente para alimentos ou remédios, num reflexo da crise no país.

De acordo com a pesquisa realizada em janeiro, 79,6% dos entrevistados não tem dinheiro suficiente para comida, e 79,9%, para medicamentos. Além disso, 89,7% disseram não ter como comprar roupas e 64,8% não tiveram meios suficientes para pagar serviços de educação.

A inflação crescente — 68,5% em 2014 e 180,9% em 2015 —faz com que a população tenha menos capacidade de cobrir seus gastos, diz a Venebarómetro.


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