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Fim da lua de mel argentina: Macri vê popularidade diminuir

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BUENOS AIRES – Depois de ter conseguido o respaldo contundente da oposição para selar o acordo com os chamados fundos abutres e encerrar o capítulo do calote da dívida argentina, em meados deste mês, o presidente da Argentina, Mauricio Macri, sofreu seu primeiro revés no Congresso, às vésperas da também primeira manifestação convocada pelos principais sindicatos do país para exigir medidas urgentes de combate ao desemprego. A derrota de Macri no Senado foi justamente na votação, no Senado, de um projeto de lei que encarece o custo das demissões, iniciativa que o presidente não apoia e prometeu vetar se for transformada em lei pela Câmara. As dificuldades no Parlamento, somadas aos questionamentos dos sindicatos e deterioração da situação social do país, consequencia direta da desvalorização do peso e ajuste de tarifas que o chefe de Estado implementou em seus primeiros meses de gestão, marcaram o fim do clássico período de lua-de-mel para Macri, apontaram analistas locais ouvidos pelo GLOBO.

De acordo com dados da empresa de consultoria Management & Fit, em março passado, quando o presidente recebeu a visita do chefe de Estado americano, Barack Obama, e conseguiu aprovar a lei que permitiu o fim do calote, a aprovação do governo Macri alcançava 50,7%. Este mês, o percentual caiu para 42,9%.

— Foi um período no qual o governo só deu notícias ruins, a melhor de todas foi que conseguimos dinheiro para pagar aos abutres. Isso, num momento em que muitas pessoas não têm dinheiro para pagar suas compras no supermercado — comentou a diretora da Management & Fit, Mariel Fornoni.

Para ela, “a Argentina ainda terá meses duros pela frente e Macri precisará compensar essa etapa difícil com medidas de contenção”.

— O humor social, neste momento, não é dos melhores. A lua-de-mel terminou porque a situação econômica é delicada e as expectativas eram muito altas em relação a Macri — explicou a analista.

O chefe de Estado admitiu, recentemente, que há cinco anos “não se gera emprego na Argentina”. Isso depois de seu governo ter afastado cerca de 10 mil servidores públicos, segundo informações publicadas pela imprensa local. A Casa Rosada argumenta que eram trabalhadores em situação irregular, sem capacitação e que estavam claramente relacionados a movimentos políticos kirchneristas como La Cámpora.

— A questão do desemprego é hoje uma das principais preocupações dos argentinos, junto com inflação e corrupção — assegurou a diretora da Management & Fit.

Com este pano de fundo, a decisão do presidente de anunciar que vetaria uma eventual lei antidemissões — o projeto prevê dobrar o custo das demissões por um período de seis meses —, por considerar que terminaria reduzindo ainda mais as contratações no setor privado, abriu uma frente de conflito com os sindicatos e com a oposição no Congresso. O líder do sindicato dos caminhoneiros, Hugo Moyano, ameaçou até mesmo convocar uma greve geral.

— O governo anterior escondeu o desemprego usando o emprego público — declarou Macri.

O presidente e seus ministros estão preocupados e apostam na chegada de novos investimentos até o final deste ano, que permita tirar a Argentina da recessão e melhorar os indicadores sociais. A desvalorização de quase 40% da moeda local, em dezembro passado, provocou um aumento da inflação que, somente nos primeiros quatro meses de 2016 subiu pouco mais de 12%. A meta para todo o ano é de 25%.

A escalada dos preços internos e o reajuste das tarifas de serviços públicos – em alguns casos foram aplicados aumentos de até 300%, após mais de uma década de tarifas subsidiadas pelo Estado – tiveram uma consequencia dolorosa: o aumento da taxa de pobreza, que passou de 29% para 32,6% entre dezembro e março passado, segundo dados da Universidade Católica Argentina (UCA).

Para Macri, que venceu as eleições em novembro passado prometendo “pobreza zero”, reverter esta tendência representa cumprir uma das bases de seu programa de governo.

— A desvalorização sempre produz pobreza. A taxa seria ainda mais alta se o governo não tivesse adotado algumas medidas para compensar a inflação — disse Eduardo Donza, pesquisador da UCA.

Ele destacou o aumento das aposentadorias e da Ajuda Universal por Filho, um dos principais programas sociais do governo argentino.

— O ajuste era necessário, mas tem um custo, sempre, e claramente contribuiu ao fim da lua-de-mel. Acreditamos que os indicadores vão melhor agora que estão começando a ser renegociados os salários de vários setores. Os bancários, por exemplo, já conseguiram aumento de 33% _ apontou o pesquisar.

Para Donza, “estamos atravessando o pior momento”.

— A pobreza é um problema estrutural, instalado há décadas. Depois de chegar a mais de 50% de pobres, em 2002, recuamos para uma taxa próxima dos 30% e desde 2009 não melhora. Para sair da pobreza é essencial melhorar o mercado de trabalho — enfatizou o pesquisador.

Ciente disso, Macri enviou ao Congresso um projeto de lei para promover o emprego de jovens entre 18 e 24 anos, na tentativa de propor uma alternativa que convença a oposição de não dar sinal verde à lei anti-demissões.

— Não apelem à arbitrariedade — pediu o presidente aos congressistas.


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