Exilados e filho de cubanos têm conflito de gerações em Miami
MIAMI – O ano era 1928 quando o presidente republicano Calvin Coolidge viajou a Havana para participar da VI Conferência Panamericana. Quase 90 anos depois, um presidente democrata, Barack Obama, volta a Cuba, e não há melhor lugar para medir a reação dos exilados do que no bairro de Little Havana, em Miami, uma região que agrega velhos e jovens, recém-chegados e também aqueles que já vivem nos EUA há muito tempo.
— Em Cuba há uma ditadura, e Obama vai apertar a mão de um ditador — critica ao GLOBO Pedro López, um empresário de 50 anos que deixou a ilha em 1980. — A posição dos exilados não pode morrer conforme vão morrendo os mais velhos. Nossos filhos têm que levar adiante nossa bandeira.
No entanto, nem todos os jovens filhos de cubanos e nascidos em Miami tomam para si os princípios políticos dos pais. Estudos mostram que os mais jovens costumam ser mais liberais e tolerantes que a geração anterior.
— Respeito meus pais e seu sofrimento, mas para mim é muito difícil concordar com eles — pondera Rafael Méndez, universitário de 22 anos. — É hora de mudar o que não está funcionando. A porta dos dois países já está aberta, e sou otimista em relação ao futuro. É uma questão de tempo.
Para o professor Sebastián Arcos, diretor do Instituto de Estudos Cubanos da Universidade Internacional da Flórida, os exilados de Miami estão profundamente divididos em duas posições opostas, “sem meios-termos”. Ele conta que as diferenças se baseiam na idade, e, em geral, os mais velhos repudiam a ida de Obama a Cuba.
— Os mais jovens, que nasceram aqui ou chegaram há pouco, não têm a mesma experiência vivida pelos mais velhos, e isso tem um peso muito importante em sua forma de pensar — explica o acadêmico.
O professor afirma que aqueles que chegaram antes de 1994 — ano em que houve protestos por liberdade em Havana — são muito resistentes a qualquer flexibilização, porque sua postura carrega um forte componente político, ausente naqueles que chegaram posteriormente.
— Eu os chamo de “grupo dos cínicos”, pois apenas estão interessados em resolver seus problemas econômicos pessoais — diz o professor.
Conversas políticas e dominó
O pensamento do exílio cubano também está exposto no Parque do Dominó, onde os mais velhos se reúnem e falam de política.
— Não acreditava que um dia veria os EUA ajoelhados diante da tirania cubana. Tinha apenas 2 anos na época da visita de Coolidge, mas jurava que morreria antes que outro presidente fosse a Cuba — lamenta Ricardo Soler, que chegou a Miami em 1960.
Ivan Hernández, seu parceiro na partida de dominó, concorda com o amigo e diz sentir falta dos exilados beligerantes de outras épocas.
— Se um presidente tivesse visitado Cuba dez anos atrás, os exilados teria saído em massa às ruas para protestar, mas, agora, não. Muita gente já morreu.
O professor Arcos assina embaixo:
— Como muitos ativistas já morreram, há menos protestos e, consequentemente, mais tolerância com opiniões contrárias. Ainda assim, não se pode negar que se trata de um exílio muito polarizado.