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‘Este deveria ser um ano republicano, mas vemos um partido dividido’

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WASHINGTON – O cenário eleitoral americano pode dar um passo decisivo nesta semana: Bernie Sanders pode ser obrigado a sair da disputa, segundo Clifford Young, presidente da área de relações públicas para os Estados Unidos da Ipsos, instituto de pesquisa e de imagem. O especialista vê ainda mudanças no Congresso e questões como emprego, imigração e terrorismo dominando a agenda das eleições de novembro.

Como você vê o quadro eleitoral americano após as primárias de Nova York?

Todos os analistas sabiam que Trump e Hillary ganhariam. As eleições, agora, estão se desenrolando da forma que imaginávamos no último mês, sem surpresas. Trump era uma dúvida e nos últimos tempos tem apresentado resultados ruins, um período de má sorte, mas Nova York dá um pouco de gás para ele.

Havia no último mês uma onda muito forte para Ted Cruz. Mas Trump mantém a boa fase na Costa Leste?

Nos estados onde questões como aborto e casamento gay pesam menos, um discurso com maior apelo aos trabalhadores e às questões práticas pesa mais. Neste contexto, Trump se sai melhor que Cruz. Há algumas dúvidas na Pensilvânia, um estado mais complexo. Temos ali um eleitorado variado, mas ele deve, mesmo assim, se sair bem melhor do que conseguiu em muitos outros estados.

Trump tem chances de chegar a 1.237 delegados e garantir numericamente a nomeação antes da convenção republicana de julho, em Cleveland?

Nossos modelos mostram que, provavelmente, Trump não vai alcançar esta quantidade de delegados necessários, mas deve chegar perto. Assim, estará numa situação mais favorável. Mesmo com todo o debate que, nesse cenário, haverá uma convenção contestada, na qual quem leva vantagem é Cruz, eu acredito que Trump segue favorito com uma margem tão pequena assim. Acredito que ele tem 60% de chances de ser nomeado.

Você acredita que ele poderá tentar a Casa Branca como candidato independente?

Não acredito. Acho que ele ameaça, mas há regras eleitorais muito complicadas para quem está fora de um dos dois partidos.

Mas Trump, sendo candidato ou não, acaba dividindo o Partido Republicano, que vai rachado para a eleição geral…

Este deveria ser um ano republicano. A popularidade do presidente e o desgaste natural dos democratas depois de dois mandatos na Presidência seriam favoráveis à oposição, mas vemos um partido bem dividido. Provavelmente o cenário está mais favorável a Hillary.

O ambiente republicano polarizado pode impactar no resultado do Congresso, onde o partido controla as duas Casas?

Não vejo como esta disputa influa nas eleições parlamentares. O que torna este ano mais favorável aos democratas é que há, hoje, muito mais deputados republicanos que democratas, e há o desgaste natural de quem está no cargo. No Senado, este ano favorece os democratas porque haverá a renovação de muito mais cadeiras republicanas que democratas. Provavelmente, os republicanos vão perder espaço nas duas Casas. Mas não acho que esta briga entre Trump e Cruz tenha impacto.

Entre os democratas, Hillary já pavimentou sua nomeação após Nova York?

Acho que já está resolvido. A disputa que estamos vendo agora é normal. Quando chegarmos à convenção democrata (em Filadélfia, também em julho), teremos um consenso em torno de Hillary, com Sanders apoiando-a. Não teremos tanta fragmentação entre os democratas.

Hillary pode ser aclamada candidata já nesta semana?

Eu acredito que Sanders pode acabar desistindo, se ela vencer por muito, com uma vantagem razoável. O partido pensa a mesma coisa e começa a criar consensos em torno dela.

A demora na definição da candidatura dela acaba prejudicando-a?

Acho que não. É normal que os pré-candidatos migrem para os extremos nesta fase e, depois, voltem para o centro. Isso vale também para o eleitorado. Na eleição geral, muitas vezes há a escolha do “menos pior”.

O presidente Baeack Obama terá um peso relevante no processo eleitoral?

Não acredito neste tipo de movimento. Muito menos que no Brasil. Com certeza ele tem credibilidade, as pesquisas mostram uma melhoria de sua avaliação, na esteira da recuperação econômica de forma geral. Mas não acredito que ele será um grande eleitor, um grande cabo eleitoral dele.

E como será a eleição de novembro?

Acredito que ela (Hillary) vá ganhar, não há motivos para se ter dúvidas disso. Ela tem uma pequena vantagem: sua rejeição é menor que a Trump e a Cruz, então acho que ela vai à eleição de novembro como favorita.

O radicalismo da campanha visto até agora seguirá até o fim?

A paixão que estamos vendo é por causa dos extremos, tanto de direita como do esquerda. Teremos isso um pouco na eleição geral, estamos numa época polarizada. Mas acredito que ela será menor que agora, os candidatos vão migrar um pouco para o centro.

Nas primárias, vimos imigração e terrorismo ganharem espaço no debate. Qual será o tema da eleição de novembro?

Acredito que teremos um debate grande sobre emprego, mas associado com o debate sobre imigração e segurança, do ponto de vista de terrorismo. Ou seja, tudo vai estar conectado, “temos que manter as fronteiras, não podemos deixar os imigrantes ilegais entrarem, pois eles tiram os empregos dos americanos e também trazem o risco de terrorismo”, etc. Acredito que crescimento da economia de longo prazo, empregabilidade, salário mínimo e desenvolvimento sustentável ganhem algum destaque, mas o foco ainda será essa mistura de emprego, imigração e terrorismo.


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