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Democratas temem fragmentação com troca de farpas entre Sanders e Hillary

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WASHINGTON – Ao mesmo tempo em que surfam na onda de uma oposição fragmentada, com as mais diversas figuras do Partido Republicano se unindo a contragosto para derrotar Donald Trump, Hillary Clinton e Bernie Sanders também entram na briga retórica à medida em que a diferença de delegados entre os dois na corrida pela nomeação democrata para a corrida à Casa Branca. Caciques do partido já temem que os dois dividam a legenda, e ontem mesmo o tom dos rivais foi suavizado.

A onda de tensões começou após uma sequência de seis vitórias de Sanders em prévias de março e abril. Os dois pré-candidatos passaram a questionar a qualificação um do outro para chefiar a Casa Branca — e levantam, sobretudo, uma das suas maiores divergências de campanha: a afinidade da ex-secretária de Estado com os bilionários do ambiente corporativo.

Em um comício na quarta-feira, Sanders questionou o apoio de Hillary à guerra no Iraque, a acordos internacionais como o Transpacífico e o financiamento de sua campanha por doadores corporativos. Disse que ela não teria capacidade pelos laços com Wall Street, “entidade cuja ganância, imprudência e comportamento ilegal ajudaram a destruir nossa economia”. Ao Washington Post, no dia seguinte, manteve a postura de que ela “não é qualificada”, mas amansou o tom.

— Em seu pior dia, ela é cem vezes melhor que Donald Trump ou Ted Cruz. Não é uma escolha muito difícil — disse, respaldando Hillary caso ela saia vencedora nas primárias. Ele repetiu o discurso numa entrevista à NBC ontem.

Embora Hillary ainda não tivesse dito explicitamente que seu rival não tinha as qualificações necessárias para ocupar o gabinete presidencial, respondeu com ataques a Sanders. Ela disse que a ofensiva do senador era “a marca de um pré-candidato desesperado”. Também passou a atacar a promessa de Sanders para desmontar os grandes bancos, um dos principais pilares da campanha do senador, e disse que ele já deixou de cumprir compromissos assumidos como congressista:

— É importante focarmos no que é produtivo para o povo americano. Não se deve fazer promessas que não se pode cumprir — criticou ela, anteontem.

A equipe de Hillary, em uma série de comunicados, foi mais agressiva: chamou Sanders de “baixo”, “irresponsável” e “candidato de tema único”, ao repreendê-lo pelas declarações de que ela não seria qualificada. Mas, ontem, ela retribuiu a declaração amenizada de Sanders, dizendo que prefere enfrentá-lo do que encarar Cruz ou Trump.

Após a vitória do senador nas prévias de Winsconsin, os pré-candidatos se preparam para as primárias de Nova York, em 19 de abril. Uma grande fatia de delegados será definida pela disputa no estado em que Hillary foi senadora por oito anos — e, por isso, é essencial a sua campanha. Já Sanders, embora senador por Vermont, nasceu no Brooklyn e tem usado sua origem como apelo para conquistar eleitores nova-iorquinos.

Sem declarar intenção de voto, o presidente Barack Obama apontou ter confiança em Hillary, sua rival à Presidência em 2008, quando ele acabou vitorioso pela primeira vez.

— O presidente acredita que ela entra na corrida com mais experiência do que qualquer um que não tenha sido vice-presidente — disse Eric Schultz, porta-voz da Casa Branca.

Para evitar uma escalada retórica que poderia fragmentar o partido (o que tem acontecido entre os republicanos), vários líderes democratas entraram no clima de “deixa disso”.

— Temos que nos abster de ataques ad hominem. Devemos nos focar no que temos que fazer em novembro (mês das eleições) — amenizou a senadora Claire McCaskill.

Outros colegas de Sanders no Senado mais próximos de Hillary fizeram críticas ao tom agressivo dele. “Preocupante” foi o termo usado por Dianne Feinstein. Já Timothy Kaine afirmou que “Sanders não acredita no que vem dizendo sobre ela”.

Enquanto o partido tenta superar a fase agressiva da campanha, o senador foi convidado pelo Vaticano a participar na próxima semana de uma conferência sobre problemas sociais, econômicos e ambientais no mundo. Nenhum outro pré-candidato foi chamado. A viagem acontece dias antes da primária em Nova York.

— O Papa Francisco deixou claro que devemos superar a globalização da indiferença para reduzir as desigualdades econômicas, derrotar a corrupção financeira e proteger o meio ambiente. É nosso desafio nos EUA e no mundo — declarou ele.


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