COP29: Acordo de US$ 300 bilhões é considerado insuficiente por ambientalistas
Brasil – O encerramento da 29ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP29), realizado em Baku, no Azerbaijão, trouxe à tona um debate polêmico sobre o futuro do financiamento climático. Embora o acordo firmado estabeleça a destinação anual de US$ 300 bilhões por parte dos países ricos a nações em desenvolvimento até 2035, ambientalistas e organizações da sociedade civil criticam a medida como insuficiente diante da gravidade da crise climática.
Um acordo aquém das necessidades
A meta de US$ 300 bilhões ficou bem abaixo dos US$ 1,3 trilhão anuais defendidos por países mais vulneráveis a eventos climáticos extremos. Organizações como o Greenpeace Brasil e o Observatório do Clima destacam que o montante acordado não reflete a urgência de limitar o aquecimento global a 1,5°C, conforme estabelecido no Acordo de Paris.
Raíssa Ferreira, do Greenpeace, apontou a falta de compromissos claros no acordo. “A rota para Belém será difícil, mas temos confiança na liderança brasileira para entregar um resultado que contribua para a justiça climática global.” Já Claudio Ângelo, do Observatório do Clima, classificou o acordo como um retrocesso, afirmando que dilui as responsabilidades das nações ricas e sobrecarrega os países em desenvolvimento.
A complexidade do financiamento
Outro ponto controverso é a origem dos recursos. O texto final do acordo menciona uma “variedade de fontes”, incluindo privadas, o que preocupa organizações como o WWF-Brasil e o Greenpeace. Para elas, depender de financiamento privado ou empréstimos pode agravar o endividamento externo das nações mais necessitadas, comprometendo o princípio do “poluidor-pagador”.
Karen Silverwood-Cope, do WRI Brasil, também destacou o aumento insuficiente em relação aos US$ 100 bilhões anuais prometidos na COP15, em 2009. Segundo ela, a falta de investimentos robustos hoje resultará em custos ainda maiores no futuro.
Brasil e a COP30: liderança em um cenário desafiador
Com a próxima conferência, a COP30, programada para ocorrer em Belém, no Brasil, o país assume um papel estratégico. A expectativa é que o Brasil articule compromissos financeiros mais ambiciosos e reforce a justiça climática global.
A ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, Marina Silva, ressaltou na plenária final que os recursos solicitados pelos países em desenvolvimento beneficiam o planeta como um todo. “É fundamental chegar a um resultado minimamente aceitável para todos nós, diante da emergência que estamos vivendo.”
Além disso, a COP30 deve enfrentar debates sobre a exploração de combustíveis fósseis, um tema sensível no contexto brasileiro. Para o WWF-Brasil, a exclusão de representantes das indústrias fósseis nas próximas conferências é essencial para evitar conflitos de interesse e acelerar a transição energética global.
O futuro das negociações
Embora o acordo de Baku tenha sido criticado, ele marca o início de um ciclo de discussões que se intensificarão até a COP30. O Brasil terá a missão de liderar as negociações para ampliar o financiamento climático, recuperar a confiança nas decisões multilaterais e reforçar seu protagonismo na agenda ambiental global.
A responsabilidade agora recai sobre o país anfitrião para transformar o descontentamento em avanços concretos, com metas alinhadas às demandas das nações em desenvolvimento e ao objetivo comum de combater a crise climática com equidade e urgência.