Com medo de retrocesso, cubanos acompanham eleição nos EUA
HAVANA — “Eu não voto nos Estados Unidos”, afirmou Raúl Castro, na segunda-feira, ao ser questionado se preferia Hillary Clinton ou Donald Trump, os dois favoritos para disputar as eleições americanas de novembro. Mas o suposto desinteresse do presidente cubano não se repete no resto do país: como nunca, o povo da ilha tem olhado de perto quem vai suceder o presidente Barack Obama na Casa Branca a partir de janeiro de 2017.
— Eu gostaria que o presidente Barack Obama continuasse, ele começou este importante projeto de reaproximação dos dois países. Temos medo do que pode acontecer dependendo das eleições, se um republicano vencer — afirmou a dona de casa Glaydis Nuñez, de 48 anos. — Antes, não fazia diferença para gente, pois todos os presidentes americanos eram contra os cubanos. Agora não — resume o sentimento crescente no país.
Donald Trump, assim como ocorre no México e em diversos países, causa medo aos cubanos. Apesar de o bilionário ter dito que é favorável à reaproximação com Cuba, inclusive indicando a vontade de visitar a ilha, eles não acreditam que o republicano terá uma relação de respeito como a que há com Obama. E da democrata Hillary, muitos temem uma falta de engajamento com Cuba como viram com Obama.
— Antes, as pessoas ligavam apenas para as notícias de Miami, o que interessava era onde estavam cubanos. Agora não. Washington ficou mais relevante para o povo da ilha — acredita o professor universitário Antonio Ruela. — Agora há notícias todos os dias sobre as eleições americanas.
O fato de ter havido dois pré-candidatos de origem cubana — Marco Rubio, já abandonou a disputa, e Ted Cruz, ainda no páreo — não animou tanto assim o povo de Cuba. Mais do que pelo sobrenome, ele se interessa pelas políticas de aproximação e, principalmente, pela possibilidade do fim do embargo econômico contra a ilha.
— Parece que vamos viver novamente algo que já aconteceu há algumas décadas: a política interna de um país interferindo diretamente em Cuba. Já vimos esse filme com a União Soviética — afirmou um funcionário do governo que preferiu não se identificar.
Mas, apesar do temor, há uma sensação que, após tantos passos dados, não será possível voltar atrás e reviver o período de hostilidades entre as duas nações. No máximo, acreditam, as mudanças podem ser mais lentas ou congelarem. O que para muitos cubanos já seria um pesadelo.