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Caçadores de refugiados

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SÓFIA – A reação à divulgação de um vídeo no qual três refugiados aparecem algemados com os braços para trás, após serem capturados por um grupo civil de vigilância numa floresta na Bulgária, intensificou a polêmica sobre o controle de fronteiras na Europa, que busca maneiras de reagir à maior crise migratória no continente desde a Segunda Guerra. As imagens causaram indignação de entidades de direitos humanos e da ONU e fizeram o governo búlgaro retroceder em sua posição inicial favorável aos vigilantes. Elas chamaram ainda a atenção para a atuação de grupos similares em outros países da Europa.

Os vigilantes que aparecem no vídeo — supostamente gravado em Strandja, uma região próxima à fronteira com a Turquia — não foram identificados, mas o Ministério do Interior anunciou a detenção para interrogatório de Dinko Valev, um lutador semiprofissional que ficou famoso por patrulhar a região da fronteira em busca de imigrantes ilegais. O primeiro-ministro Boyko Borissov, que havia elogiado a ação dos “caçadores de imigrantes” ao afirmar que “toda ajuda à polícia e ao Estado era bem-vinda”, voltou atrás em suas declarações, dizendo ter sido “mal interpretado”.

— Acredito fortemente que a sociedade civil deve ser vigilante, dando informações e não se mantendo indiferente quando a lei é violada, mas em hipótese alguma os direitos podem ser violados — corrigiu-se.

Em nota, o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) afirmou que “pessoas que queiram apresentar requerimento de asilo devem ter sua entrada no país garantida para que seus pedidos sejam ouvidos e analisados, como manda o procedimento”. Segundo a agência da ONU, “apenas policiais devem patrulhar as fronteiras, e cidadãos comuns não devem decidir arbitrariamente quem é ou não é um refugiado.”

O Comitê Búlgaro de Helsinque, um grupo de defesa dos direitos humanos, afirmou que enviará uma queixa ao procurador-geral do país sobre as declarações iniciais de Borissov, que, segundo a entidade, incitam a discriminação contra estrangeiros e a violência étnica.

Outras autoridades, como o vice-ministro do Interior, Philip Gounev, e o chefe da polícia fronteiriça, Antonio Angelov, também condenaram ontem os vigilantes. No entanto, uma pesquisa da rede de TV BNT aponta que as ações dos grupos que combatem imigrantes ilegais têm o apoio de 84% da população.

Apesar da construção de uma cerca entre os dois países, mais de 30 mil refugiados e imigrantes cruzaram a fronteira da Turquia com a Bulgária no ano passado. Em resposta, grupos de civis passaram a vigiar a região, detendo e, em muitos casos, roubando pertences dos migrantes.

Vigilantes se espalham pelo continente

Ações como as dos vigilantes búlgaros são cada vez mais comuns nos países que lidam com a crise migratória na Europa. Ataques praticados por imigrantes recém-chegados contra mulheres durante as comemorações do Ano Novo, em Colônia e duas outras cidades alemãs, motivaram a criação de grupos civis de patrulha, que se espalharam pela Europa. Uma recente pesquisa na Alemanha apontou que cerca de 30% da população defendem o uso da força para conter a chegada de refugiados. Tal política é pregada pelo partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha, que virou a terceira maior legenda do país.

O fenômeno do vigilantismo atingiu até mesmo a Finlândia, onde a chegada de novos imigrantes coincidiu com um aumento nas ocorrências criminais. Embora o chefe de polícia de Helsinque, Lasse Aapio, afirme ainda não haver informação suficiente para estabelecer uma conexão entre os dois fatos, o grupo anti-imigração Soldados de Odin já se espalhou por mais de 25 cidades e chegou a países vizinhos, como Suécia e Noruega. Também a Hungria registra a presença de patrulhas de vigilantes.

— Os refugiados não respeitam nossas mulheres — alega Ilkka, um integrante dos Soldados de Odin, de 33 anos. — Tenho quatro filhas, e elas costumavam viver em segurança. Temos que fazer algo a respeito disso.

Nos EUA, um relatório publicado pela organização Freedom House aponta aumentos preocupantes da xenofobia nas nações do antigo bloco comunista e diz que “o maior desafio à democracia na Europa é a disseminação de políticas profundamente antiliberais”, que “rejeitam um de seus princípios fundamentais, a igualdade perante a lei”.


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