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Capitão da PM que arrastou mulher em viatura continua trabalhando

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Rio de Janeiro – O capitão Rodrigo Medeiros Boaventura, que responde na Justiça pelo homicídio de Claudia Silva Ferreira, arrastada por uma viatura da PM por 350 metros na Zona Norte do Rio, investiga mortes cometidas por policiais em operações. Seis anos após o crime, o oficial está lotado no 41º BPM (Irajá), um dos batalhões do estado cujos agentes mais matam em serviço, e desempenha funções na área correcional. Ao longo dos últimos meses, Boaventura foi nomeado, pela corporação, como encarregado de diversos Inquéritos Policiais Militares (IPMs) que apuram homicídios cometidos por policiais na região.

O capitão também foi considerado apto, pela própria PM, para julgar policiais acusados de crimes militares na Justiça. Contudo o nome de Boaventura integra uma lista de oficiais encaminhada pela corporação à Auditoria Militar do Tribunal de Justiça do Rio para fazer parte do Conselho Especial de Justiça — órgão formado por quatro juízes militares e o juiz titular da Auditoria Militar, responsável por julgar militares estaduais.

Entretanto a cada trimestre, a PM envia uma relação de oficiais considerados capazes de desempenhar a função. Boaventura é um dos 233 capitães citados na lista enviada ao TJ no último dia 26. Os oficiais que vão integrar o colegiado são escolhidos por sorteio. Segundo a Auditoria Militar, Boaventura não foi sorteado para fazer parte do conselho no terceiro trimestre.

Morte durante operação Um dos IPMs pelo qual Boaventura é responsável é o de número 172/058/2020, que investiga a conduta dos policiais do Grupamento de Ações Táticas (GAT) do 41º BPM que mataram um homem durante operação na favela Final Feliz, em Guadalupe, em 27 de fevereiro. Os agentes afirmam ter sido atacados a tiros por traficantes, revidaram e alegam ter encontrado um homem caído no chão em seguida. Os PMs levaram o ferido para o Hospital estadual Carlos Chagas, mas ele não sobreviveu. Na 27ª DP (Vicente de Carvalho), onde a ocorrência foi registrada, os agentes apresentaram uma pistola Glock 9mm e um radiotransmissor e afirmaram que o material foi encontrado com o homem.

A investigação ainda está em andamento. A PM alega que “não há qualquer condenação transitada em julgado contra o oficial, razão pela qual, baseado no princípio da presunção da inocência previsto na Constituição do país, ele está apto a exercer funções na área correcional”. O capitão Boaventura era tenente quando Claudia foi morta e arrastada pela Estrada Intendente Magalhães. Na época, ele comandava a patrulha que realizou a operação no Morro da Congonha, em Madureira, no dia do homicídio. Até hoje, Boaventura — apesar de ter permanecido algumas semanas preso pelo crime à época — nunca foi sequer punido administrativamente pela PM pelo crime.

Além do capitão, também responde pelo homicídio o sargento Zaqueu de Jesus Pereira Bueno. Já os subtenentes Adir Serrano e Rodney Archanjo, o sargento Alex Sandro da Silva e o cabo Gustavo Ribeiro Meirelles também respondem pelo crime de fraude processual, por terem modificado a cena do crime, removendo Claudia — já morta, segundo a perícia — do Morro da Congonha. Serrano e Archanjo estão reformados. Os demais seguem trabalhando na corporação.

O processo judicial contra o grupo anda a passos lentos na 3ª Vara Criminal da capital. Somente em março do ano passado — cinco anos após o crime —, foi realizada a primeira audiência do caso, em que foram ouvidas testemunhas de defesa e acusação. A segunda audiência ainda não aconteceu. Apesar de alertados por pedestres e motoristas, os PMs não pararam. Antes Claudia havia sido baleada no pescoço e nas costas em meio a uma operação do 9º BPM no Morro da Congonha, onde morava. A família de Claudia, cansada de conviver com a lembrança da mulher baleada a poucos metros da porta de casa, deixou a favela.

O viúvo, Alexandre da Silva, e os filhos da auxiliar de serviços gerais fizeram um acordo com o governo, receberam uma indenização e se mudaram para a Zona Oeste da cidade.

 

Fonte: Extra.globo.com


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