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Tucanos e peemedebistas discutem saídas para crise em jantar

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BRASÍLIA – Diante do agravamento da crise política, a cúpula do PSDB se reuniu na noite de quarta-feira com caciques do PMDB para discutir os possíveis cenários sobre o afastamento da presidente Dilma Rousseff. Segundo participantes do encontro, todas as alternativas para superar este momento foram discutidas, desde o impeachment, até a instituição do sistema parlamentarista. O consenso, de acordo com um dos tucanos, é que o país não sairá da crise com a presidente Dilma Rousseff à frente do governo.

O encontro ocorreu em um jantar na casa do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), com a presença dos senadores tucanos Aécio Neves (MG), Cássio Cunha Lima (PB), José Serra (SP), Antonio Anastasia (MG) e Aloysio Nunes (SP), além do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), do líder do PMDB na Casa, Eunício Oliveira (CE), e do senador Romero Jucá (PMDB-RR).

Aécio disse na manhã de hoje que é papel do PSDB dialogar em busca de uma solução para a crise no país.

— Acho que é um papel sim, do PSDB, conversar com as principais forças políticas do país. Ontem conversamos com algumas lideranças do PMDB, e sem qualquer rodeios procuramos saídas para crise — afirmou, reforçando que a presidente Dilma não tem condições de tirar o país da crise.

— Há um consenso entre nós, e esse consenso não é da classe política, é da sociedade brasileira, são dos empresários que investem, são das organizações sociais independentes de que com a presidente Dilma o Brasil não reencontrará o caminho da retomada do crescimento, da diminuição do desemprego, do endividamento das famílias, emfim, do início de um novo ciclo.

Chamou a atenção dos peemedebistas o “desprendimento” de Aécio na tentativa de encontrar uma solução para a crise. Segundo relatos, até então, o senador insistia na tese da cassação da chapa presidencial, o que levaria a novas eleições, mas, ontem, discutiu outras saídas, até mesmo a possibilidade de se instituir um sistema parlamentarista, que está sendo analisado no Senado.

Segundo um senador tucano que esteve no jantar, houve “consenso” de que não é possível superar a crise com a presidente Dilma Rousseff à frente do governo.

— Houve consenso de que com a Dilma não dá mais. Mas a forma como se fará isso é que não foi decidida — disse o tucano.

O líder do PSDB no Senado, Cassio Cunha Lima (PB), afirmou que o consenso está formado.

— O encontro de ontem foi o primeiro passo para romper essa inércia, essa situação de letargia. O objetivo foi dentro de uma construção encontrar saídas para o momento que o país vive, saídas para a crise e a crise tem nome e endereço: Dilma Rousseff e Palácio do Planalto. Ela tem que sair. Esse consenso está formado.

O grupo pretende fazer reuniões frequentes sobre o tema. Na próxima semana, já está marcado novo encontro. A ideia é também começar a trabalhar outros partidos em torno deste objetivo.

Segundo relatos, Renan foi o mais cauteloso no encontro. Evitou se posicionar de forma categórica sobre as possíveis saídas para a crise. Mas, disse aos colegas que, na convenção do PMDB neste sábado, o documento que o partido produzirá servirá para pontuar o afastamento do governo.

— Faremos um documento híbrido, quem fizer uma leitura atenta entenderá nossa posição — disse Renan.

Interlocutores peemedebistas avisaram a parlamentares do PSDB que qualquer movimento mais efetivo do partido em relação ao governo ficaria congelado até que o vice-presidente Michel Temer seja reconduzido à presidência do PMDB na convenção do partido, neste sábado. Depois disso, dizem, o PMDB pode fazer movimentos mais claros.

O jantar acontece após uma semana considerada catastrófica para o governo, com a revelação de parte do conteúdo da delação premiada do senador Delcídio Amaral (PT-MS), que citou Dilma e o ex-presidente Lula, e que teve também a condução coercitiva do ex-presidente para depor no âmbito da Lava-Jato.

A expectativa é que, na próxima semana, o Congresso finalmente fique liberado para formar a Comissão Especial que irá analisar o processo de impeachment de Dilma. Por isto, as cúpulas do PMDB e do PSDB querem ter um termômetro de como cada partido pretende se portar diante dos fatos.

Michel Temer tem evitado se envolver diretamente nas discussões sobre o tema. Apenas em um segundo momento deverá ser procurado pela oposição para que se posicione. Há uma avaliação de que, no ano passado, o vice-presidente se expôs desnecessariamente ao antagonizar com o governo e que, agora, ele deve ficar recolhido, esperando o desenrolar dos fatos.

Ontem, porém, o vice-presidente avisou ao ministro Jaques Wagner (Casa Civil) que o PMDB irá se distanciar do governo na convenção do partido neste sábado, mas que ainda não se sabe em que grau isto dará, como mostrou O GLOBO.

Em agosto de 2015, um período em que o impeachment estava sob forte temperatura, houve um evento semelhante entre tucanos e peemedebistas. Na ocasião, o senador Tasso Jereissati recebeu, junto a colegas do PSDB, senadores do PMDB para fazer uma avaliação do cenário. Depois disso, Renan Calheiros, que já se encontrava alvo da operação Lava-Jato, deu um passo atrás, na avaliação de tucanos, e se reaproximou do governo.

Antes do jantar, na manhã de ontem, Renan Calheiros recebeu o ex-presidente Lula em sua residência oficial. Os movimentos de Renan, ora de apoio ao governo, ora com gestos à oposição, são considerados erráticos por pessoas de seu entorno.


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