Brasília Amapá |
Manaus

Nova planilha mostra mais repasses da Odebrecht a Santana

Compartilhe

CURITIBA – Uma nova planilha descoberta pela Polícia Federal em busca e apreensão em endereço da Odebrecht identificou a realização de novos pagamentos para João Santana no valor de R$ 21,5 milhões, entre 30 de outubro de 2014 e julho de 2015, fora de qualquer contabilidade oficial de campanha. Os repasses ocorreram logo depois das eleições de 2014 e e se estenderam em meio à Operação Lava-Jato.

Os novos documentos foram anexados nesta manhã de quinta-feira, conforme antecipou O GLOBO, ao pedido de prorrogação da prisão do marqueteiro e de sua mulher, Mônica Santana, que estão detidos há dez dias na carceragem da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba.

Ao receber o pedido da PF, o juiz Sérgio Moro determinou que fosse dada ciência ao Ministério Público Federal e à defesa dos investigados para que se manifestem até 15h30m desta quinta-feira sobre os novos pagamentos identificados. O magistrado decide até o fim do dia se acata ou não o pedido de conversão da prisão do casal.

Na planilha, são identificados repasses a “feira”, nome que executivos da Odebrecht usavam para se referir a João Santana, de acordo com a força tarefa da Lava-Jato. Ao lado dos valores e da menção a “feira”, eram também inseridos codinomes, como “pitanga”, “bacalhau”, “macaxeira” e “beiju”.

Para a polícia, são “indicativos de tratar-se de operações à margem da contabilidade da empresa, buscando ‘mascarar’ pagamentos não contabilizados de forma oficial”.

Os pagamentos teriam sido realizados em parcelas de R$ 500 mil e R$ 1 milhão.

“É possível que muitos outros pagamentos tenham ocorrido em períodos anteriores ou posteriores ao documento arrecadado”, escreveu a PF no relatório levado à Justiça.

Os investigadores questionam o posicionamento adotado até o momento por João Santana, que negou ter recebido pagamento no Brasil para prestar serviços de campanha fora da contabilidade oficial.

ADVOGADO CONTESTA PF

Ao pedir a prisão de Santana, a PF menciona o fato do marqueteiro ter apagado sua conta no serviço de armazenamento de dados em ambiente virtual “Dropbox”, no dia em que a operação foi realizada. O acesso aos dados permitiria à PF identificar arquivos e informações de aparelhos eletrônicos do marqueteiro. Para os investigadores, este é um sinal de que o marqueteiro poderia

Em petição apresentada à Justiça, o advogado de Santana, Fábio Tofic, escreveu que a PF “parte de premissas equivocadas”, que não resistiriam a “uma análise um pouco mais séria e criteriosa”. Na peça, o defensor argumenta não haver sentido no fato de Santana encerrar a sua conta no Dropbox no próprio dia da operação, e não nos dias anteriores, se soubesse com antecedência sobre a intenção da PF de prendê-lo.

A polícia também registrou a viagem do próprio Tofic à República Dominicana dias antes da operação, onde estava Santana, o que considerou indício de conhecimento sobre a ação. O advogado rebateu a argumentação, afirmando que decidiu encontrar o cliente depois que o juiz Sérgio Moro sugeriu ao advogado a apresentação de explicações sobre informações publicadas na imprensa a respeito do relacionamento do cliente com Zwi Skornick.

Tofic critica a polícia por ter pedido a conversão do casal Santana sem que tivesse dado a eles a chance de prestar um novo depoimento depois da prorrogação do pedido de prisão, e tentar esclarecer as novas informações colhidas durante as investigações.

CONTABILIDADE PARALELA

Na última sexta-feira, ao pedir a primeira prorrogação da prisão do casal, a PF já havia mencionado trecho de uma planilha impressa em papel com menção de pagamento da Odebrecht no valor de R$ 4 milhões a “Feira”. O documento estava na casa de Maria Lúcia Tavares, funcionária da Odebrecht presa na última fase da operação e libertada nesta quarta-feira.

A força tarefa da Lava-Jato não conseguiu ter acesso ao sistema onde a tabela foi gerada e impressa, que os investigadores acreditam se tratar de contabilidade financeira paralela da Odebrecht. Os pagamentos, em reais, teriam ocorrido no período em que Santana trabalhava para a campanha presidencial de Dilma Rousseff de 2014.

Em petição levada à Justiça Federal na quarta, a defesa de João Santana e Mônica pediu a revogação da prisão, sob a argumentação de que todo o dinheiro recebido por eles em contas no exterior ou no Brasil seria fruto de trabalho de comunicação realizado para campanhas, sem que soubessem a origem do dinheiro.

Na quarta-feira, O GLOBO perguntou à Odebrecht se a empresa realizou pagamento para o casal Santana no Brasil, em dinheiro, e fora da contabilidade oficial de campanhas. Perguntou também o significado do termo “feira” nas anotações de Marcelo Odebrecht e documentos apreendidos na empresa.

Por meio da assessoria, a Odebrecht informou que “não se manifesta sobre fatos que envolvem inquérito em andamento”. A defesa do ex-presidente da Odebrecht e herdeiro do grupo, Marcelo Odebrecht, informou nesta quinta-feira ao juiz Sérgio Moro que ele “somente se manifestará sobre o objeto da presente investigação na fase judicial, se for o caso”.

A informação consta de pedido ao juiz para que Odebrecht deixe a carceragem da Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba, e volte a cumprir medida de prisão cautelar no Complexo Médico-Penal de São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba.


...........

Siga-nos no Google News Portal CM7