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Marcelo Odebrecht pagou R$ 2 milhões a Santana em 2014

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CURITIBA E SÃO PAULO — O empresário Marcelo Odebrecht tinha papel de comando no esquema de pagamento de propinas, segundo documentos apreendidos pela Lava-Jato. Além de ter criado um setor da empresa exclusivamente para organizar pagamentos e fazer entregas de dinheiro vivo, ele próprio se encarregava de determinar alguns dos pagamentos. Veja como foi a entrevista coletiva.

Marcelo figura, por exemplo, como responsável direto pelo pedido de pagamentos em espécie a João Santana, o marqueteiro da campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff em 2013. Segundo as investigações, partiu dele os pedidos de pagamento a Santana, cada um de R$ 1 milhão, feitos nos dias 12 e 13 de novembro de 2014.

Em documento encaminhado à Justiça, os procuradores da força-tarefa afirmam que o dinheiro destinado a Santana serviu para “quitar compromissos financeiros referentes à campanha eleitoral de 2014, como provável contrapartida por contratos obtidos no âmbito da Petrobras”

Os investigadores identificaram as iniciais de Marcelo – MBO – nas planilhas de pagamento e elas foram confirmadas por Maria Lúcia Tavares, funcionária de confiança da Odebrecht que se tornou delatora da Lava-Jato. Era ela quem comandava os pagamentos de dinheiro em espécie, feitos por executivos do alto escalão da empresa.

— Existia uma estrutura profissional de pagamento de propina dentro da Odebrecht — disse Laura Gonçalves Tessler , procuradora da República — Havia envolvimento direto do Marcelo Odebrecht no pagamento de propina. Com iniciais e tudo, na mesma tabela. O que deixa bastante evidente que Marcelo Odebrecht não só tinha conhecimento como comandava a sistemática de pagamento de propina.

Preso preventivamente e condenado por atos de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa, o empresário também determinou, segundo a força-tarefa, que fossem feitos pagamentos a “Coxa” e “Piqui”, nos dias 7 e 8 de novembro de 2014, com o código “evento”. No total, eles somaram R$ 1 milhão. Na planilha da Odebrecht, o termo “evento” correspondia a eleições.

Também partiu dele, de acordo com os procuradores, três entregas, no total de R$ 3 milhões, feitas em junho e julho de 2015 para um beneficiário identificado apenas como “Cobra”. O dinheiro foi entregue no apartamento onde morava um publicitário, em São Paulo.

A 26ª fase da Operação Lava-Jato foi batizada de Xepa e teve como alvo a Odebrecht. Foram realizados 67 mandados de busca, 28 de condução coercitiva (quando a pessoa é chamada para prestar depoimento), 11 de prisão temporária, 4 de preventiva e vários mandados de busca, com prisões ou não.

A planilha de propina foi descoberta na 23ª fase da Lava-Jato, que prendeu o marqueteiro e a mulher dele, Mônica Moura. Segundo a força-tarefa, os pagamentos ilícitos ocorreram até novembro de 2015, quando Marcelo Odebrecht já estava – preso.

A procuradora Laura Tessler afirmou que foi identificada uma transação em espécie de R$ 9 milhões “de um dia para o outro”. Além disso, foram identificados pagamentos no exterior, envolvendo diretorias da Odebrecht em países como Argentina e Angola.

— Os valores são bastante consideráveis apesar de a maior parte dos dados ter sido destruído pela empresa. A gente está trabalhando com fragmentos, várias tabelas. A maior parte dos dados que a gente tem é 2014 e 2015. É um volume razoável. Um das contas chegou a R$ 69 milhões. Não dá para dizer que é o maior, mas dá para ter ideia que o volume era grande, compatível com o porte da empresa – afirmou o delegado federal Márcio Anselmo.

Os investigadores disseram que houve tentativa de destruição de provas.

— Para nos é assustador. Mesmo depois da prisão, a Odebrecht operava o pagamento de propina em detrimento do poder público — disse a procuradora, salientando, no entanto, não haver indícios de que Marcelo Odebrecht operou qualquer esquema da cadeia.

Carlos Fernando dos Santos Lima, do MPF, disse que a nova investigação “descobriu um setor próprio de propina paralela” dentro da Odebrecht no Brasil e no exterior.

— Existia um sistema de controle desses pagamentos, com distribuição de alçadas dentro da empresa. Envolve setores de óleo e gás, infraestrutura, estádio de futebol, diversas áreas são investigadas (…). Ficou claro que ela tinha um setor para pagamentos de propina.

OUTRO LADO

Em nota, a Odebrecht confirma que a Polícia Federal cumpriu hoje mandados de prisão, condução coercitiva e busca e apreensão em escritórios e residências de integrantes em algumas cidades no Brasil. “A empresa tem prestado todo o auxílio nas investigações em curso, colaborando com os esclarecimentos necessários”, diz o comunicado.


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