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Máfia da Merenda pagou propina com cheque sem fundo, diz investigado

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SÃO PAULO – A Máfia da Merenda usou cheques sem fundo e pré-datados para pagar propina a lobistas e funcionários públicos em São Paulo ao longo dos últimos três anos, de acordo com depoimentos colhidos pela Polícia Civil. O grupo é investigado por suspeita de corromper agentes públicos e fraudar licitações para vender suco de laranja para 22 prefeituras paulistas e para a Secretaria Estadual de Educação.

O parcelamento da propina teria acontecido em 2013, segundo o gerente de logística e vendedor da Cooperativa Orgânica de Agricultura Familiar (Coaf) Carlos Luciano Lopes, de 37 anos. Lopes afirmou à polícia que, naquele ano, a Coaf teve acesso às propostas de outras duas cooperativas que participariam de uma concorrência para fornecer caixas de 200 ml de suco de laranja para a prefeitura de Barueri, na Grande São Paulo.

Para conseguir a informação, a cooperativa ofereceu 30% do valor do contrato, que seria dividido entre um lobista e funcionários da administração municipal, ainda segundo Lopes. O responsável pela intermediação deste acordo teria sido o primo de Emerson Girardi, outro vendedor da Coaf. Nenhum deles foi ouvido pela polícia até agora.

O dinheiro não foi pago, e a cooperativa foi cobrada pelo primo de Girardi. Após uma reunião, “ficou acertado que o pagamento da comissão seria feito, mas de forma parcelada, tanto que eles levaram cheques pré-datados consigo, que depois retornaram sem provisão de fundos, mas acredita que no final o valor foi pago, na casa de R$ 180 mil”, diz termo de declaração de Lopes, datado de 20 de janeiro.

Em setembro de 2014, foi a vez de a Coaf dar uma “comissão” com cheque sem fundo. Lopes contou aos investigadores que a cooperativa pagou R$ 50 mil para poder participar de uma chamada pública para fornecer suco de laranja para a Secretaria de Educação do governo Geraldo Alckmin (PSDB). Fizeram um cheque endereçado a Jeter Rodrigues Pereira, funcionário de carreira da Assembleia Legislativa de São Paulo que trabalhou até dezembro de 2014 no gabinete do deputado Fernando Capez (PSDB), presidente da Casa.

“(O cheque) foi devolvido por insuficiência de fundos”, diz o depoimento do gerente de logística à polícia. Pereira recebeu o valor quase um ano depois, em dezembro de 2015, por meio do lobista Marcel Ferreira Julio, que tinha bom trânsito na Assembleia e é apontado como o elo de ligação entre a cooperativa e o Palácio dos Bandeirantes. Interceptações telefônicas mostram Julio negociando com o ex-chefe de gabinete da Casa Civil, Luiz Roberto dos Santos, o Moita mudanças em um contrato da Coaf com o governo estadual. Moita, por sua vez, diz que as modificações foram propostas pelo ex-chefe de gabinete da Secretaria de Educação, Fernando Padula.

Na segunda-feira, a Justiça decretou a quebra dos sigilos fiscal e bancário de Capez, Moita, Padula e mais nove pessoas citadas no esquema. O presidente da Assembleia nega envolvimento com o esquema, afirma que nunca recebeu propina e diz ter entregue seus dados bancários espontaneamente para a Justiça, antes mesmo da determinação. Moita e Padula negam fazer parte do esquema. O lobista Julio está foragido.

As denúncias da “Máfia da Merenda” também envolvem outros políticos paulistas: os deputados estaduais Luiz Carlos Gondim (SD) e Fernado Cury (PPS), além dos deputados federais Baleia Rossi (PMDB) e Nelson Marquezelli (PTB) e do secretário de Transportes e Logística Duarte Nogueira (PSDB). O governo do estado de São Paulo abriu um procedimento na Corregedoria Geral da Administração para apurar as denúncias.


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