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Mãe de menino morto diz que ele não tinha arma e nem sabia dirigir

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SÃO PAULO – Após pouco mais de duas horas de depoimento, a mãe do menino Ítalo Ferreira de Jesus, morto pela PM após um confronto na última quinta-feira, disse à delegada que investiga o caso que desconhecia que o menino soubesse dirigir. Acompanhada de um cunhado, tio da criança, Alex Jesus Siqueira, ela afirmou ainda não ter conhecimento de que o menino alguma vez pegou numa arma ou mesmo de algum delito que ele tivesse cometido. Cíntia Ferreira Francelino, de 29 anos, foi ouvida pela primeira vez nesta terça-feira em São Paulo.

— Ela não tinha muito a acrescentar porque ela não viu os fatos. O principal foi afirmar que o filho não tinha arma de fogo e jamais manuseou qualquer tipo de armamento e que jamais havia dirigido — contou o advogado Ariel de Castro, que representa o Conselho Estadual de Direitos Humanos, que acompanhou o depoimento, colhido no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), região central de São Paulo.

O tio, que morou com a criança, disse que a família nunca foi procurada pelo Conselho Tutelar.

— O que nos estranhou bastante é que em nenhum momento em que essa criança passou por delegacias a família tomou conhecimento — disse o advogado.

Segundo Ariel, dois porteiros que trabalham no prédio onde o carro foi furtado, no Morumbi, também estão prestando depoimento. Muito nervosa e segurando a filha caçula de cinco meses no colo, Cíntia lamentou que não terá mais o filho de volta mas que “a verdade está aparecendo”. No dia do ocorrido, ela disse achar que a polícia havia plantado a arma calibre 38 no carro.

Testemunha da morte do garoto Ítalo, de 10 anos, na semana passada, durante perseguição policial na Zona Sul de São Paulo, o menino de 11 anos, amigo dele que o acompanhava na tentativa de assalto que, segundo a polícia acabou na morte de Ítalo, apresentou uma terceira versão sobre o caso. Segundo o advogado Ariel de Castro, o novo depoimento aconteceu no último domingo, na Corregedoria da Polícia Militar, acompanhado de sua mãe e de uma psicóloga da corregedoria.

Por causa desta nova versão, o advogado pedirá que a criança retorne à DHPP para esclarecimentos. O menino diz agora que apenas os policiais atiraram e que nem Ítalo nem ele estavam armados.

Castro relatou que o menino não foi interrogado, mas entrevistado por uma psicóloga, fator que determinou para que ele desse uma versão, na sua opinião, mais verdadeira dos fatos.

— Achamos importante essa entrevista com uma psicóloga, porque ela se deu em meio a brinquedos, num espaço lúdico. Ela foi ganhando a confiança dele, que acabou passando essas informações.

Ariel confirmou a entrevista com a Corregedoria da Polícia e a mãe do menino. Segundo ele, os policiais foram a sua casa buscá-lo. A Corregedoria está investigando a conduta dos policiais envolvidos no caso.

— Podemos dizer que foi a primeira vez em que ele foi ouvido sem ser questionado por autoridade policial — lembrou.

Sobre as mudanças no depoimento, o advogado aponta que a testemunha estava se sentindo ameaçada pelos policiais envolvidos na ação e que por isso havia afirmado que houve troca de tiros.

— A mãe falou que o menino tinha sido antes pressionado, e que estava bastante amedrontado e constrangido com a situação. Ele tinha sido inclusive ameaçado e que por isso tivemos essas versões conflitantes.

PROGRAMA DE PROTEÇÃO

O advogado informou que quer conversar com delegados da DHPP para que a criança seja ouvida no departamento. Ele também quer que a testemunha seja incluída no Programa de Proteção à Criança e Adolescente. Segundo ele, o novo testemunho “reforça indícios de possível execução”.

— Custo a acreditar que uma criança teria condições de estar dirigindo, atirando e abrindo e fechando um vidro. Achamos que é muito mais provável que essa versão seja mais verdadeira – opina ele sobre a terceira narrativa do garoto.

Por se tratar, explica Ariel, de um crime envolvendo policiais, o advogado afirma considerar importante que o menino possa ser “devidamente protegido”.

— É um crime envolvendo policiais militares e sabemos do risco que essa criança corre.

Ainda segundo o advogado, uma delegada esteve no local dos fatos na segunda-feira para colher novas informações e procurar testemunha.


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