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Lula se emociona e diz que foi ‘sequestrado’ pela PF

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SÃO PAULO – Num discurso em que se emocionou duas vezes, chegando ao choro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse na noite desta sexta-feira, em encontro com a militância petista, que foi “sequestrado” pelos policiais federais na manhã de ontem. O petista lembrou que seu governo abriu as portas para camadas mais pobres da população, e que isso incomodou “a elite”.

— Quando cheguei na Presidência da República, numa assembleia que convoquei, um catador de papel disse: “Presidente não quero mais reivindicar o que vim reivindicar, nem fazer discurso. Só quero agradecer o fato de ter entrado no Palácio do Planalto”.

Neste momento ele pegou um lenço para enxugar as lágrimas e foi saudado pelos militantes, que gritavam “volta, Lula”. Após defender feitos do governo do PT, o ex-presidente passou a falar sobre o cumprimento do mandato de condução coercitiva contra ele na manhã desta sexta-feira. Ele classificou as buscas em sua casa, “que levaram até um celular da Marisa” de uma “provocação banal, infantil”. Para ele, a operação é uma forma de tentar “criminalizar o PT”.

— Fico ofendido quando hoje sou sequestrado na minha casa — afirmou o ex-presidente. — O ‘seu’ Moro não precisaria ter feito essa coisa chamada… como é mesmo? Condução coercitiva. É como se eu estivesse preso. Hoje pra mim foi o fim. Foi ofensa pessoal, ao meu partido, à democracia, ao estado de direito.

Lula voltou a negar ser dono do sítio em Atibaia e do triplex do Guarujá, e reclamou de ver a mulher Marisa Leticia, ser chamada para depor.

— Eles deveriam ter chamado a mãe deles — disse Lula. — Foram pegar meus filhos. toda minha família. Só faltou pegar minha neta de um mês. Não sei como não pediram exumação da minha mãe. Eles foram lá de manhã, todos gentis, mas fazendo perversidade. Foi um desrespeito a alguém que dedicou a vida a esse país como eu dediquei.

O ex-presidente convocou a militância a ir para as ruas e disse que está disposto a viajar o país inteiro a partir de segunda-feira.

— Cutucaram o cão com vara curta. Eu quero oferecer a vocês esse jovem de 70 anos de idade, com tesão de 30, corpo de atleta de 20 anos. Não tenho preguiça de acordar às 6h e dormir as 22h. A partir de hoje a única resposta à insolência e ofensa que fizeram a mim é ir pra rua e dizer: ‘Eu tô vivo e sou mais honesto que vocês’.

Ovacionado por seus eleitores, uns com lágrimas nos olhos e mãos trêmulas, ele se mostrou “ofendido com o complexo de vira-lata que tem nossa elite” e seguiu exaltando seu governo, repetindo ter sido o melhor presidente do país como fez mais cedo, em coletiva com jornalistas. Ele também defendeu a presidente Dilma Rousseff.

— Metalúrgico era visto como machista, mas esse metalúrgico teve a primazia de eleger uma mulher. Nunca vi uma pessoa ser tão agredida como a presidente Dilma. Descobri que muito mais grave que o preconceito contra mim era o preconceito contra contra a mulher. Nesse país uma mulher sempre foi tratada como objeto de cama e mesa e nada mais do que isso. Fico indignado é que a mulher representa 52% da população brasileira. É uma pena que nossa consciência política ainda não evoluiu e apenas 10% do parlamento é feminino.

Lula ainda criticou os ataques que ele e sua família recebem na internet:

— O cara que é filho da puta de verdade, ele não se identifica nem pra mãe nem pro filho. Ele vai pra internet falar mal de alguém. e eu sei como sou vítima disso, os meus filhos são vítima disso, a Dilma e muitos de vocês aqui são vítimas disso. Não fico com raiva. Só acho que a gente tem que encontrar mecanismos para competir e ser mais competente que eles. Não é possível que, na internet, o mal vá vencer.

POLÍTICOS PARTICIPARAM DE ATO

Políticos como o prefeito de São Paulo Fernando Haddad e os ministro Miguel Rosseto e Edinho Silva também estiveram no ato.

— Não estou aqui para defender o presidente, mas o cidadão Luiz Inácio Lula da Silva. Todos, petistas, tucanos, ateus ou religiosos, têm que ser tratados em igual perante a Lei. Por que coagi-lo se ele nunca se negou em prestar depoimento? O que está por trás desta iniciativa totalmente desnecessária? Ele foi a pessoa que mais autonomia deu ao Ministério Público Federal. Ele nunca afrontou a democracia. Mobilizar centenas de homens para escoltar uma pessoa? Nós o escoltaremos na próxima vez. Estamos disponíveis para proteger o presidente — prometeu o prefeito.

O senador Lindberg Farias falou em “incendiar” as ruas a favor do ex-presidente

— Hoje acordei indignado com o que aconteceu com o presidente Lula, mas termino o dia com a certeza de que eles deram um tiro no pé. E ainda reanimaram a nossa militância. É hora de incendiar nossa militância e ir para as ruas — convocou Lindberg, na abertura da plenária.

O senador Humberto Costa também se manifestou.

— O que aconteceu no Brasil hoje foi uma violência imensurável e um ataque a maior liderança popular construída neste país. Queremos uma manifestação do Supremo Tribunal Federal sobre as atitudes do juiz Sergio Moro — cobrou ele.

Vagner Freitas, o presidente da Central Única dos Trabalhadores, iniciou seu discurso elogiando a união da esquerda do país.

— Toda vez que a direita tenta dar um golpe ela é derrotada pela esquerda deste país. O Brasil está parado por causa desses verdadeiros golpistas, que não aceitam o resultado das eleições. Não venham destruir o Lula que não vamos aceitar.

Com a voz muito rouca, o ex-deputado Luizinho comparou o ocorrido desta sexta ao golpe militar de 1964 e convocou os militantes às ruas. Ele acompanhou a chegada do presidente Lula à sede da Polícia Federal no Aeroporto de Congonhas, ainda nas primeiras horas do dia.

Gilmar Mauro, da coordenação nacional do MST, o Movimento dos Sem-Terra, convocou ato para o próximo dia 8, Dia Internacional da Mulher, em apoio a Lula, mas chamou atenção para possíveis confrontos com pessoas contrárias aos seus ideais.

— Não fomos treinados na faca e na foice. Vamos fazer debates e nos preparar para grandes enfrentamentos que teremos no futuro.


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