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Governo de SP dá tratamento diferenciado a protesto por impeachment

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SÃO PAULO – O governo de São Paulo tem dado um tratamento diferente aos manifestantes que ocupam desde as 20h de quarta-feira a Avenida Paulista para pedir o impeachment da presidente Dilma Rousseff e protestar contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Embora uma das principais avenidas de São Paulo tenha ficado bloqueada por mais de 24 horas, nada foi feito para liberar o trânsito. A situação é distante do que ocorreu no início do ano, quando atos contra o aumento da tarifa do transporte público foram dispersados à força pela Polícia Militar.

Em janeiro, jovens do Movimento Passe Livre (MPL) foram impedidos de fazer um protesto na esquina das rua da Consolação e Avenida Paulista e no Parque Dom Pedro II, no centro, porque, segundo o governo estadual, não haviam divulgado previamente o trajeto do ato. Para desobstruir as avenidas e o terminal de ônibus, a Polícia Militar utilizou bombas de efeito moral, gás de pimenta e balas de borracha. Dezenas de pessoas ficaram feridas e receberam atendimento médico.

Na manhã desta quinta-feira, a história foi outra. Os manifestantes pró-impeachment resistiram ao pedido da PM para que liberassem a faixa de ônibus — eles poderiam ficar nas outras faixas. Diante da recusa, os policiais não tomaram nenhuma atitude.

— Estamos tentando fazer, através da negociação com os manifestantes, a liberação da faixa. Eles disseram que vão votar e nós vamos aguardar o tempo que for necessário. Não estamos aqui para criar conflito nem entrar em confronto com ninguém — disse o major Larry Almeida.

O número de policiais e o aparato utilizado por eles também é totalmente diferentes. Nas manifestações do MPL os policiais cercavam o ato, usavam escudos e armaduras e tinham o apoio de uma espécie de tanque de guerra comprado de Israel para conter distúrbios civis. Já nesta quinta-feira, o ato era acompanhado por policiais sem grande aparato. Nem a tese de que o movimento contra impeachment é pacífico justifica a diferença. Ao menos duas pessoas foram agredidas durante a tarde desta quinta-feira.

O próprio secretário da Segurança Pública de São Paulo, Alexandre Moraes foi xingado pelos manifestantes ao visitar o ato. Questionado sobre a diferença no tratamento dada aos dois movimentos, ele desconversou:

— Todas as manifestações devem ser previamente comunicadas. Quando a negociação se iniciou chegou a informação de que haveria uma manifestação às 11h do Movimento Brasil Livre. Isso não se confirmou mesmo sendo comunicado duas horas antes, o que não é o tempo necessário para organização. Mas como o Passe Livre comunicou nas últimas manifestações uma hora antes, então nós aguardamos.

Em nota enviada à imprensa, a secretaria informou que “fatos recentes exigem de todos nós, mais do que nunca, bom senso e serenidade”. O texto diz que a prioridade máxima da PM será garantir “a paz e a segurança de todos”. “Se for necessário, adaptando-se a novas circunstâncias para evitar confrontos”.

PREVISÃO DE 150 MIL PESSOAS

Movimentos a favor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretendem reunir entre 100 mil e 150 mil pessoas na Avenida Paulista, região central de São Paulo, nesta sexta-feira. Líderes de movimentos sociais e centrais sindicais se encontraram com o secretário estadual da Segurança Pública, Alexandre de Moraes, na tarde desta quinta-feira para cobrar do estado que os manifestantes que pedem o impeachment da presidente Dilma Rousseff sejam retirados da avenida.

Centrais sindicais e movimentos sociais marcaram mobilizações em outras 46 cidades do Brasil para esta sexta-feira. Previsto inicialmente para ser uma passeata, o ato a favor de Lula e Dilma deve ficar parado na Avenida Paulista. Está prevista a participação de Lula no palco principal do protesto. O governo do estado de São Paulo ainda não informou se terá um esquema especial de segurança para o ex-presidente. Segundo o secretário Moraes, o efetivo policial será o mesmo do último domingo: 12 bases móveis, bolsões de seguranças táticos e PMs espalhados no Metrô.

— O secretário se comprometeu a colocar o mesmo efetivo policial que colocou no domingo. Cobramos o mesmo tipo de postura. E cobramos a desobstrução da paulista amanhã — afirma o presidente do Diretório Estadual do PT,. Emídio de Souza.

Emídio disse que a militância será instruída a não entrar nas provocações e afirmou que a divulgação de conversa entre Lula e Dilma vai animar os manifestantes:

— Muda que está aumentando a nossa mobilização. Porque a indignação é geral. O ato de vazamento da conversa entre a presidente e o ex presidente foi um ato criminoso, que não tem amparo legal e que é uma agressão à Constituição. Esse tipo de atitude é inconcebível. Todos têm que respeitar as regras.

O presidente da CUT, Vagner Freitas, criticou agressões sofridas por pessoas que seriam simpatizantes do PT nos protestos a favor do impeachment:

— Essa é a nossa resposta: não vamos permitir a violência e o ódio. Nossos movimentos têm endereço, CNPJ, tudo definido. As pessoas sabem onde podem nos encontrar diferente desses movimentos fascistas que não tem nenhum respeito pelo poder público. Hoje de manhã expulsaram e xingaram o secretario de segurança.

PEDIDO PARA SAIR DA RUA

Por volta das 22h, um dos líderes do Movimento Brasil Livre (MBL), Fernando Holiday, recomendou que simpatizantes do impeachment que ainda estavam na Avenida Paulista saíssem da rua na sexta-feira:

— Nossa recomendação é que as pessoas não fiquem aqui amanhã, para evitar confronto, mas como trata-se de um movimento espontâneo, que não foi organizado por nós, não há como controlar. Se preferirem ficar aqui não podemos fazer nada senão apoiar. A ideia é ir para o Largo da Batata a partir das 18h, e quando o PT sair daqui a gente volta.

Representantes de movimentos considerados ainda mais à Direita, como o Endireita Brasil e o Revoltados Online, chegaram a dizer que haviam feito acordo com a PM para liberar a Avenida Paulista durante a noite. Até as 22h30 isso não tinha acontecido.


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