Brasília Amapá |
Manaus

Ex-executivos da Andrade acusam Cabral de receber mesada de propina

Compartilhe

RIO — O ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB) foi acusado, por dois ex-executivos da construtora Andrade Gutierrez, em delações premiadas a procuradores da Lava-Jato, de ter cobrado propina nas obras do Maracanã, Comperj, Arco Metropolitano e urbanização no Conjunto de Favelas de Manguinhos. Segundo depoimentos, divulgados pelo Jornal Nacional nesta sexta-feira, Rogério Nora de Sá e Clóvis Peixoto Primo disseram que Cabral teria recebido R$ 300 mil mensais, entre 2010 e 2011, referentes à participação da empreiteira na reforma do Maracanã para a Copa do Mundo. Os delatores afirmaram também que a Andrade pagou outros R$ 350 mil por mês após pedido do ex-governador, como um adiantamento. Na ocasião, Cabral teria cobrado da empresa o pagamento para projetos futuros, justificando que não tinha obras nem projetos, porque estava no início do segundo mandato. O ex-governador nega as acusações.

Também foram alvos dos delatores o ex-secretário de Governo do estado, Wilson Carlos, o dono da construtora Delta, Fernando Cavendish, e Carlos Miranda, apontado como operador dos pagamentos a Cabral nas obras do Maracanã.

Em depoimento no fim de maio, Rogério Nora de Sá e Clóvis Peixoto Primo disseram aos procuradores da Lava-Jato que o ex-governador cobrou pagamento de 5% do valor total do contrato para reforma do Maracanã, segundo a revista “Época”. Só assim seria permitido que a Andrade Gutierrez se associasse à Odebrecht e à Delta, outras construtoras que formaram o consórcio que disputou a reforma do estádio, em 2009, para a Copa do Mundo. Orçadas inicialmente em R$ 720 milhões, a obra custou cerca de R$ 1,2 bilhões.

Segundo a “Época”, Rogério de Sá afirmou que se reuniu com Cabral para tratar da inclusão da Andrade Gutierrez no consórcio. O ex-governador teria concordado e determinado que a empresa combinasse o percentual com a Odebrecht. A Delta teria direito a 30%, o que não poderia ser modificado. A Andrade Gutierrez ficou com 21% de participação, e a Odebrecht, 49%. Nesta reunião, Cabral usou a palavra “contribuição” para se referir ao pagamento de propina em troca da “bondade”.

A Delta pertencia a Cavendish, amigo de Cabral. O ex-governador não teria permitido a exclusão da empreiteira, segundo Nora de Sá, porque “tinha consideração pela empresa e gostava dela”.

Rogério de Sá disse, também, que o ex-governador pediu propina de 1% referente às obras de terraplanagem do Complexo Petroquímico do Estado do Rio de Janeiro (Comperj), em Itaboraí. Cabral teria dito aos ex-executivos que já tinha acertado a negociação com o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, hoje condenado na Lava-Jato. Ao procurar Costa, Rogério de Sá ouviu a confirmação: “Tem que honrar”. No depoimento, ele afirmou que a Andrade Gutierrez pagou R$ 2,7 milhões a Cabral. O pagamento teria sido feito por Alberto Quintães, diretor comercial da empreiteira, usando caixa dois.

CABRAL REPUDIA DELAÇÕES

Por meio de sua assessoria, o ex-governador Sérgio Cabral repudiou as declarações dos delatores, afirmando que manteve apenas “relações institucionais” com a empreiteira Andrade Gutierrez.

Em nota, Cabral confirmou que a empresa participou do consórcio do Arco Metropolitano, mas alega que a Andrade Gutierrez abandonou o projeto seis meses após o início das obras. O ex-governador ainda afirma que “jamais interferiu” em licitações e nega ter solicitado recursos em benefício próprio ou para sua campanha.

Com relação às declarações de Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras que relacionou o político ao esquema de fraudes na construção do Complexo Petroquímico (Comperj), na região de Itaboraí, o ex-governador disse que a Polícia Federal arquivou as denúncias pela “completa ausência de veracidade e fundamento”.


...........

Siga-nos no Google News Portal CM7