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Ensino diversificado contribui para sucesso de alunos do Pedro II

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RIO— Com quase 180 anos de idade (que serão completos em dezembro), o Colégio Pedro II (CP II) ganhou de presente antecipado a aprovação de um de seus alunos em dez universidades americanas. Apesar de uma enorme honra para a instituição centenária, uma visita ao colégio revela que na conquista de Vinícius Xavier Garcia, ex-aluno da unidade do Engenho Novo, há mais da escola do que se possa imaginar. Com uma grade curricular diversificada— que tem como disciplinas obrigatórias, entre outras, música e sociologia— e projetos optativos interessantes, o modelo de ensino do CP II ajudou o aluno a trilhar um caminho atrativo às universidades estrangeiras, que, na maioria das vezes, não estão preocupadas somente com as notas no boletim.

— Temos programas relacionados a diversos temas, bolsas de iniciação científica e monitoria. Tudo isso vai estimulando o aluno para buscar outros caminhos, abre a visão deles. Eles começam a ter uma visão mais ampla para além da sala de aula— diz a diretora pedagógica da unidade do CP II no Engenho Novo, Teresa Manuel.

O fato de Vinícius nunca ter sido um aluno “Pena de Ouro”, título dado pela escola àqueles que têm as melhores notas, evidencia o papel que seu engajamento em outras atividades, como o grêmio estudantil e projetos optativos, tiveram na sua aprovação em universidades como Yale, Stanford, Duke, e as outras sete. Para participar de trabalhos extra-classe o aluno se deparou com um amplo leque de opções no CP2 do Engenho Novo.

No ano passado, por exemplo, cursos de iniciação científica como “Culto ao Corpo: padrões de beleza, mídia e consumo na sociedade brasileira”, “ A censura ao cinema nacional durante o período militar”, “As imagens do continente africano no livro didático”, entre outros, foram disponibilizados para os alunos do ensino médio interessados por pesquisa. Além deles, outros projetos como a Rádio CP II, Coral e o Fórum Permanente de Relações Raciais são atividades fixas à escolha do aluno.

Há ainda programas de pesquisa que extrapolam o perímetro da instituição, sendo oferecidos em outras entidades. É o caso do projeto que Lorrayne Gonçalves, aluna do 3º ano do ensino médio, participa. A aluna é uma das integrantes do programa de iniciação científica em Técnicas Médicas, que cursa na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Inspirada pelo exemplo de Vinícius, ela não descarta a ideia de também tentar um curso de Medicina em uma universidade do exterior.

— Fiquei muito orgulhosa dele por ele ter conseguido, ter se dedicado ao estudo, conseguido vaga nas universidades. Muitos alunos ficaram motivados com isso, pensaram: “Agora a gente tem uma chance”. É uma oportunidade de ir lá para fora, não é impossível. Isso ficou nítido para os alunos— conta Lorrayne— Quero medicina e nos EUA primeiro você faz a graduação e depois a pós-graduação em medicina. De certa forma é bom. Eu pesquisei várias estrangeiras, Oxford, na Inglaterra, e Stanford são duas que acho bem legais. Mas não sei. Gostaria de fazer UFRJ.

O caminho para isso a aluna já vem construindo: soma-se a seu estágio na Fiocruz, o primeiro lugar na Olimpíada de Neurociência do Rio de Janeiro e a final da etapa nacional, que disputará em maio deste ano.Lorrayne ainda faz oficinas de escrita criativa na escola e é monitora de um projeto da UFRJ que leva conceitos científicos às escolas públicas.

— O laboratório da Fiocruz onde faço atividade é multidisciplinar. O meu projeto é educação em tuberculose. A gente elabora materiais educativos para os moradores da Rocinha que é uma área endêmica da doença. No projeto da UFRJ, sou monitora das oficinas, ensinando e lendo ciências para os alunos do ensino fundamental de escolas públicas, acho importante essa preocupação com o lado social— diz.

Professora de Biologia da instituição, Camila Marra defende que os alunos entrem em contato com atividades que vão além do que é disposto normalmente no currículo tradicional das escolas. Segundo ela, os programas que fazem com que o estudante tenha contato com situações concretas e discussões relevantes desperta maior interesse e forma melhor os jovens:

— Ciência é vivência, ciência no ‘cuspe giz’ não rende tanto quanto na prática. O trabalho tem que ter prática, o menino tem que mexer com o concreto senão fica muito abstrato para ele. Eu sempre trabalho com construções de modelo, experimentos. Participar de atividades como olimpíadas e pesquisas é improtante porque acaba despertando no aluno uma vocação.

Embora a história de Vinícius Garcia possa parecer um ponto fora da curva, no Colégio Pedro II a ida de alunos para universidades do exterior não é novidade. De acordo com a escola, recentemente, Mariam Topeshashvili, que se formou no Campus Humaitá II em 2014, foi aprovada em Harvard, onde hoje cursa Ciências Políticas.

O Pedro II explica que “incentiva de diversas formas que seus estudantes tenham experiências e contato com instituições de ensino e pesquisa estrangeiras, seja por meio de eventos onde representantes de universidade apresentam suas propostas aos estudantes, seja estimulando a participação de estudantes em eventos científicos no exterior, apresentando projetos e pesquisas desenvolvidas.”

Diante do exemplo de Vinícius e do interesse despertado nos demais alunos, a unidade do Engenho Novo já estuda criar um grupo de professores que possa dar um auxílio específico para aqueles que querem tentar o mesmo destino.

— A nossa preocupação é preparar como cidadão. Preparar o jovem para enfrentar as dificuldades da vida, saber lidar com situações que surgem no cotidiano. Saber lidar com o outro com respeito. A gente não esquece do ensino tradicional, de visar uma universidade, mas sempre trazendo a consciência e fazendo jovens mais esclarecidos socialmente e politicamente— ressalta a diretora pedagógica da unidade, Teresa Manuel.


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