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Em São Paulo, disputa à sombra de investigações

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SÃO PAULO — Os principais pré-candidatos a prefeito de São Paulo vão para a primeira eleição no país depois das condenações da Lava-Jato contra políticos e empreiteiros sob a sombra de investigações. Dinheiro desviado da Petrobras, propina no caso Alstom, compra de votos e uso de recursos públicos para despesas privadas são algumas das suspeitas que rondam postulantes no maior colégio eleitoral num momento em que a pressão popular por mais ética e menos corrupção é crescente. Para dois deles — o deputado Celso Russomanno (PRB) e o empresário João Doria (PSDB) — as denúncias podem torná-los inelegíveis ainda no meio da campanha.

O cenário adverso torna a eleição, segundo os próprios comandos das campanhas, uma disputa de resultado incerto. Como consequência, os candidatos dos dois partidos mais estruturados do estado, PT e PSDB, estão longe das primeiras posições nos levantamentos de intenção de voto até agora. Com a possibilidade de novas delações na Lava-Jato, há ainda risco de novas denúncias surgirem até a eleição.

Um aliado do prefeito e candidato à reeleição Fernando Haddad (PT) resumiu o clima dessa eleição:

— Todo mundo está contaminado. Serão 45 dias rezando para não estourar mais nada — afirmou o petista, em referência ao período de campanha, de 16 de agosto a 2 de outubro.

Líder nas pesquisas para a disputa paulistana, Russomanno é tido por adversários como carta fora do baralho. A sua eventual saída pode tornar o quadro ainda mais indefinido. Tudo por causa de um processo no Supremo Tribunal Federal em que ele é acusado de usar verba de gabinete na Câmara para pagar uma funcionária de sua empresa. Em 2014, ele foi condenado pelo caso pela 10ª Vara Federal do Distrito Federal. Russomanno recorreu e, como é deputado federal, a ação foi para o Supremo. Em manifestação feita em fevereiro, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, disse que estão mantidas as razões que levaram à condenação na primeira instância.

O caso tem grande chance de ser julgado antes da eleição e a relatora é a ministra Cármen Lúcia, considerada uma das mais rígidas da corte. Se condenado, o deputado se tornará ficha-suja e inelegível. Russomanno nega irregularidade e diz que conseguirá provar que a funcionária trabalhava em seu escritório político. Ele descarta qualquer possibilidade de ficar fora da disputa e afirma confiar na absolvição.

A ameaça à candidatura de Doria vem da Justiça Eleitoral. Por causa de um processo conturbado nas prévias no PSDB, o empresário, estreante na disputa paulistana, é investigado por suspeita de compra de voto e abuso de poder econômico na disputa interna. O promotor eleitoral José Carlos Bonilha diz haver graves indícios de irregularidades nas prévias. Um desfecho sobre se será pedida ou não a inelegibilidade de Doria é esperado para meados de agosto. O tucano nega irregularidades na pré-campanha e o PSDB arquivou um pedido interno de impugnação.

Haddad vem enfrentando denúncias na Lava-Jato de que a sua campanha de 2012 foi abastecida com dinheiro desviado da Petrobras. O petista foi citada em delação do empresário Ricardo Pessoa, dono da UTC, e também aparece em uma lista de políticos da Odebrecht apreendida em operação de busca e apreensão — ainda não está claro se os valores registrados nessa lista são ilegais.

Além disso, na semana passada, o vice de Haddad, Gabriel Chalita (PDT), foi mencionado pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado em conversa gravada com o ex-presidente José Sarney. Na gravação, divulgada pela TV Globo, Machado diz que a pedido do hoje presidente interino Michel Temer, em 2012, contribuiu para a “candidatura do menino”. O “menino” seria Chalita, de acordo com os investigadores.

A divulgação da gravação provocou apreensão inicial entre os petistas que foram consultar a prestação de contas de Chalita. Não foi encontrada nenhuma doação que possa ser relacionada ao ex-presidente da Transpetro. Chalita negou conhecer Machado e disse que não recebeu contribuição dele. Haddad também descarta irregularidade nas contribuições para a sua campanha.

O grupo dos investigados é reforçado pelo vereador Andrea Matarazzo (PSD), alvo de uma investigação da PF desde 2015 por possível prática de lavagem de dinheiro. Um inquérito apura se ele recebeu propina da multinacional Alstom quando secretário estadual de Energia de São Paulo. O Ministério Público acusa a empresa de oferecer cerca de R$ 23,3 milhões, em valores atualizados, para fraudar contratos de manutenção e fornecimento de equipamentos para o sistema elétrico entre 1998 e 2002 no governo do PSDB em SP. Matarazzo nega qualquer irregularidade à frente da secretaria, diz que ficou apenas sete meses no cargo e que não assinou nenhum contrato envolvido no caso.

Um ano atrás, a senadora Marta Suplicy, que trocou o PT pelo PMDB para sair candidata a prefeita, também estaria nesse grupo. Mas, ao completar 70 anos em março de 2015, ela se favoreceu da redução do prazo de prescrição das ações. Na prática, a senadora se viu livre de um inquérito e uma ação penal por crimes contra a Lei de Licitações no Supremo. O processo demorou mais de dez anos e não foi julgado.

A última pesquisa de intenção de voto realizada para a prefeitura de São Paulo pelo Instituto Datafolha mostrou, em novembro do ano passado, o cenário: Russomanno com 34%, Marta 13%, Haddad 12%, Matarazzo 4% e Doria 3%.


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