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Dilma teria tentado interferir na Operação Lava-Jato, diz delator

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BRASÍLIA – Em delação premiada firmada com o Ministério Público Federal, Diogo Ferreira, ex-chefe de gabinete Delcídio Amaral (sem partido-MS), declarou que a própria presidente Dilma Rousseff teria tentado interferir na Operação Lava-Jato através da nomeação do Marcelo Navarro para o Superior Tribunal de Justiça (STJ). Segundo Ferreira, pouco antes da nomeação, o parlamentar contou a ele que teve encontro particular com Dilma, “a qual lhe pedira, na ocasião, que obtivesse de Marcelo Navarro o compromisso de alinhamento com o governo para libertar determinados réus importantes da Operação Lava-Jato”. A presidente teria falado expressamente o nome de Marcelo Odebrecht.

A delação foi homologada pelo ministro Teori Zavascki, relator da Lava-Jato no STF. Nos depoimentos, Ferreira disse que, antes da nomeação, era dele a tarefa de fazer contatos com Marcelo Navarro Ribeiro Dantas, por meio do aplicativo whatsapp. Essas mensagens foram entregues ao Ministério Público Federal. Em uma delas, enviada em 20 de julho do ano passado, dias depois do encontro de Delcídio com a presidente, o ex-chefe de gabinete convocou Navarro para uma reunião com o senador. Ferreira contou que, depois de uma das reuniões entre o senador e o futuro ministro, Navarro teria se despedido dizendo: “não se preocupe, está tudo entendido”.

Ainda segundo Ferreira, Delcídio teria se encontrado com Navarro ao menos cinco vezes antes da nomeação, em um procedimento atípico, comparando com outros candidatos a vagas em tribunais superiores. “Essa frequência não tem paralelo com outros pretendentes a vagas em tribunais”, disse Ferreira nos depoimentos. O ex-chefe de gabinete também disse aos investigadores que Delcídio tratou da nomeação com o objetivo específico para libertar réus da Lava-Jato com o então ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.

Ferreira também contou que, antes da nomeação, em um encontro de Delcídio com Cardozo, o senador teria pedido ao assessor os números dos habeas corpus que a defesa dos ex-diretores da Petrobras Nestor Cerveró e Renato Duque tinham pedido ao STJ e ainda não tinham sido julgados. Depois, o senador teria dito a Ferreira que “havia a intenção de obter de Marcelo Navarro prestação jurisdicional favorável aos pacientes nesses habeas corpus”.

Nos depoimentos, Ferreira disse que ouviu de Delcídio “que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestava preocupação com a Operação Lava-Jato, especificamente com sua incisividade”. E que, em uma ocasião, Delcídio teria comentado com Ferreira que participou de uma reunião com Lula em um hotel de Brasília em que o ex-presidente teria demonstrado “preocupação com a hipótese de Nestor Cerveró vir a fazer acordo de colaboração premiada”.

DINHEIRO ENTREGUE À FAMÍLIA DE CERVERÓ

Também na delação, Ferreira disse que fez entregas de dinheiro destinadas à família Cerveró a pedido de Delcídio. O senador, que teria relação próxima de amizade com o ex-diretor da estatal, teria dito ao depoente que “os valores se destinavam a prover ajuda financeira à família de Nestor Cerveró, a qual estaria passando necessidades em razão de estar com seus bens bloqueados e de Nestor não estar recebendo salário”. O ex-chefe de gabinete disse que foi a São Paulo três vezes, em junho, julho e agosto do ano passado, para cumprir a missão.

Na primeira vez, Ferreira teria pego o dinheiro com um motorista enviado pelo pecuarista Maurício Bumlai. Na segunda, o próprio Bumlai teria entregue o dinheiro. Na terceira vez, o dinheiro teria sido entregue por um emissário de Ângelo Rabello, ex-assessor de Delcídio. Nas três vezes, o dinheiro teria sido repassado ao advogado Edson Ribeiro, contratado para defender Cerveró.

No documento que pede a homologação do acordo, a vice-procuradora-geral da República Ela Wiecko diz que “tal acordo foi firmado com a finalidade de obtenção de elementos de provas para o desvelamento dos agentes e partícipes responsáveis, estrutura hierárquica, divisão de tarefas e crimes praticados pela organização criminosa, no âmbito do Palácio do Planalto, do Senado Federal, do Ministério da Justiça, do Superior Tribunal de Justiça e da companhia Petróleo Brasileiro S/A (Petrobras), entre outras”.

Com o acordo, Ferreira terá uma condenação máxima de seis anos, com substituição da pena de prisão por pena de prestação de serviços à comunidade durante um ano, além de multa de R$ 30 mil, a ser paga em até 60 dais. Diogo chegou a ser preso, por tentar atrapalhar as investigações da Lava-Jato, juntamente com Delcídio e o advogado Edson Ribeiro. Atualmente ele está em prisão domiciliar.

Em março deste ano, o conteúdo da colaboração premiada do senador Delcídio do Amaral veio a público (LEIA A ÍNTEGRA AQUI). O ex-líder do governo foi o primeiro a afirmar que a nomeação de Marcelo Navarro para o STJ seria uma tentativa de interferir sobre as investigações da Operação Lava-Jato. Ele também acusou outros cinco colegas, entre eles, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) e o oposicionista Aécio Neves (PSDB-MG) de envolvimento em esquemas de corrupção.

Após Delcídio ser preso em novembro de 2014 por tentar obstruir as investigações da Lava-Jato, o Senado instaurou um processo na Comissão de Ética para cassar seu mandato. Ele faltou à sessão realizada nesta terça-feira, quando teria a oportunidade de defender seu mandato a seus pares.


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