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Deputados comparam processos contra Cunha e Dilma a Senna e Barrichello

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BRASÍLIA – Deputados recorreram aos pilotos de Fórmula 1 Airton Senna e Rubens Barrichello nesta terça-feira para comparar a morosidade na tramitação do processo de quebra de decoro parlamentar contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e o processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) fez a comparação, criticando o que considera desinteresse de deputados do conselho para levar adiante o processo de Cunha e a pressa do presidente da Câmara e da oposição em dar total celeridade ao processo de impeachment.

– O que estamos vendo aqui é a desidratação do conselho. Basta fazer a fotografia das duas sessões para ver como lá está lotado e aqui sem quase ninguém. O PSDB e o DEM já decidiram: vamos derrubar primeiro a Dilma e, para tanto, o Cunha é útil. Secundarizasse a questão do Conselho. Mas ninguém se lembra que há uma unanimidade nas duas manifestações ( pró e contra impeachment): 98% querem Fora Cunha – criticou Chico Alencar, acrescentando:

– Lá é o Airton Senna e aqui o Barrichello.

Outros deputados também citaram os dois pilotos e o presidente do Conselho de Ética, José Carlos Araújo (PR-BA), disse que se esforça para garantir o andamento dos trabalhos do conselho, mas que é difícil porque, ao contrário do que acontece no processo de impeachment de Dilma, no conselho Cunha e seus aliados agem para protelar e questionar as decisões tomadas.

– Aqui não pode nada, lá (na comissão especial do impeachment) pode tudo. Até aditar com a delação do Delcídio ele (Cunha) autorizou. Os ventos sopram a favor da Presidência da Casa – disse Araújo.

Presente na reunião do Conselho, o líder da Rede, Alessandro Molon (RJ), cobrou mais celeridade dos trabalhos do Conselho de Ética. Para ele, assim como a comissão especial do impeachment, o conselho também deveria marcar sessões para todos os dias.

– Me preocupa o esvaziamento e o ritmo do Conselho de Ética. Em tese os processos contra Dilma e Cunha estão na fase de aprovação do plano de trabalho, mas nossa representação é de 13 de outubro. Não dá para marcar sessão apenas uma vez por semana, esse jogo o conselho não pode fazer. Esse é o jogo que o Cunha quer – disse Molon.

Araújo se defendeu e disse que só marcou a próxima reunião para quarta-feira depois da Semana Santa porque não há o que fazer até receber os documentos do Supremo e da Procuradoria Geral da Republica de compartilhamento de dados sobre as contas de Cunha no exterior.

A sessão do Conselho foi marcada para a manhã de hoje, antes da reunião. Durante as duas horas de duração, 15 deputados deram presença, mas a maioria dos conselheiros não permaneceu na sessão. O relator Marco Rogério (DEM-RO) está em viagem fora do país, mas deixou pedidos para dar início à fase de instrução probatória, quando começa a analisar os fatos denunciados e chama as testemunhas de defesa e da acusação. Pelo regimente, ele tem até 40 dias úteis para concluir a instrução probatória.

Araújo poderia ter feito por meio de ofício a solicitação para que o Supremo Tribunal Federal (STF), o Ministério Público e a Polícia Federal compartilhem documentos e provas dos inquéritos e processos sobre as contas de Cunha no exterior. Mas, segundo ele, para “homenagear” os deputados, tentou submeter ao plenário da comissão a decisão. Alertado pelo petista Valmir Prascidelli (PT-SP) de que era preciso incluir na pauta, Araújo tentou votar o requerimento de inclusão, mas não obteve quórum: apenas oito deputados concordaram e quatro aliados de Cunha votaram pela abstenção.

Houve críticas de deputados sustentando que esse era um ato de ofício, que não precisaria ter submetido ao plenário.

– Se pode encaminhar de ofício, para que votar, protelar – cobrou o líder do PSOL, Ivan Valente (SP)

– Estou prestando uma homenagem ao plenário do conselho e não acredito que tenha aqui deputado interessado em protelar – rebateu Araújo.

– Ah, tem sim – reagiu Ivan Valente.

– A demora aqui é tanta que Cunha já conseguiu até votar primeiro o impeachment da Dilma – acrescentou o deputado Zé Geraldo (PT-PA).

O deputado Onix Lorenzoni (DEM-RS) também criticou a votação dos pedidos de compartilhamento:

– Criou-se aqui uma falsa polêmica, não tem porque votar esse pedidos. Vossa excelência podia poupar o plenário do conselho de referendar decisões que são regimentais. É desnecessário. É poder do relator fazer isso e dever do presidente do conselho. Vamos dispensar isso e não criar mais uma possibilidade de questionamento aqui.

Araújo disse que pediria o compartilhamento dos documentos de ofício. E que irá consultar o relator Marcos Rogério para saber se já pode tentar, ainda esta semana, fazer contato com as oito testemunhas listadas por Cunha para defendê-lo. A próxima reunião do Conselho de Ética está marcada só para quarta-feira depois da Semana Santa.

– Nada impede que até lá as providências possam ser tomadas. Não adianta fazer reunião antes se não tem o material para trabalhar. As duas comissões (conselho e comissão especial do impeachment) vão andar em paralelo até para ficar mais fácil. Estamos nos esforçando, mas é difícil remar contra a maré – disse Araújo.


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