Brasília Amapá |
Manaus

Depois de onze anos, Roberto Jefferson volta à Câmara

Compartilhe

BRASÍLIA — Afastado da Câmara dos Deputados desde que teve o mandato cassado por seus pares, em 14 de setembro de 2005, Roberto Jefferson (PTB-RJ) voltou pela primeira vez, após onze anos, ao Parlamento, onde foi deputado por quase 24 anos. Ele chegou à chapelaria da Câmara por volta das 17h35m, enquanto o relator do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff e seu aliado, Jovair Arantes (PTB-GO), ainda lia seu relatório. Cumprimentou alguns servidores e subiu ao andar principal pelo elevador privativo, acompanhado pela equipe do GLOBO. Quando as portas se abriram e viu que estava no cafezinho, na área restrita aos deputados, pareceu nervoso:

— Ah, vamos sair aqui? Vou causar um embaraço — murmurou, desconfortável.

Era fim de tarde, não havia sessão plenária em curso e espaço estava cheio de parlamentares. Assim que saiu do elevador, logo viu o deputado Heráclito Fortes (PSB-PI), com quem conversou longamente, e o deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA). Do cafezinho, passou pela lateral do plenário e chegou ao Salão Verde. Causou alvoroço e logo foi cercado por jornalistas. Já não parecia mais nervoso. Sentia-se em casa:

— Estou feliz, mas não gostaria de voltar como deputado. Fui um bom deputado por mais de 23 anos e fui chutado para fora, acho que já cumpri meu papel aqui — disse ao batalhão de repórteres que o cercava.

Cruzou, em seguida, com o hoje líder do DEM, deputado Pauderney Avelino (AM). Em 1992, quando Jefferson era o comandante da tropa de choque do então presidente Fernando Collor (PTC-AL), Avelino foi um dos 441 parlamentares que votaram a favor da cassação de Collor. O ex-deputado contou que “reviu os amigos” mas também esbarrou em antigos desafetos, sem dizer quais (“Vi, alguns ainda estão chateados comigo, mas não tenho rancor por ninguém”).

A caminhada seguiu mais alguns metros até a liderança do PTB, partido que o ex-deputado retomará, como presidente, no dia 14 de abril. Foi recebido por correligionários e funcionários, entre eles o deputado Paes Landim (PTB-PI). Primeiro secretário da Câmara, o deputado Beto Mansur (PRB-SP) também apareceu para dar as boas-vindas a Roberto Jefferson.

Enquanto conversava com jornalistas e comentava sobre os cabelos brancos de algumas figuras com as quais convivia quando deputado, sua filha, a deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ), adentrou a sala. Sentou-se ao lado do pai e colocou, na gola da camisa de Jefferson, o broche de deputado, de uso obrigatório dos 513 parlamentares. Ex-deputado, conhecido pelo enfrentamento e por travar embates com deputados, se emocionou. Cristiane também chorou.

O ex-deputado disse, mais uma vez, estar empenhado na luta pelo impeachment. Ao lado de uma televisão que mostrava Jovair Arantes lendo o relatório a favor do impedimento de Dilma, opinou:

— Até semana passada eu estava na dúvida (se o processo passaria), mas agora acho que passa. Passando hoje o parecer na comissão, vai num vulto muito grande. É uma crise de natureza moral, muito parecida com o impeachment do Collor.

Sobre o fato de Arantes ter tido uma postura governista até o ano passado e agora ser favorável à cassação de Dilma, minimizou:

— O Jovair é um homem muito sensível, um grande líder. Ele pode ter tido uma posição no passado, mas hoje está de acordo com a posição do PTB nacional. Política de ruptura não funciona, ele foi num tempo mais lento, e a fala dele mostra independência. É judicioso, não está ofendendo ninguém e nem querendo brilhar. O Jovair não joga para a plateia — disse.

Apesar de tecer elogios ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), (“Se encontrasse com ele pedia um autógrafo”), Roberto Jefferson admitiu que, após a votação do impeachment no plenário, o que pode acontecer num domingo, Cunha “se esgotará”:

— O papel do Eduardo se esgotará quando ele presidir a sessão do impeachment. Será a última batalha, e ele sabe disso.

Ele também voltou a comentar a possibilidade de o vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP) assumir a cadeira de Dilma. Segundo Jefferson, haverá “troca de tapas” se ele assumir, mas, para ele, o PT não vai querer deixar “uma herança de cadáveres”.

— Vai haver troca de tapas, pescoção, mas revolução e sangue eu creio que não. Até porque o PT não vai querer encerrar deixando uma herança de cadáveres.

O ex-deputado deve voltar ao Rio de Janeiro nesta quinta-feira, e retornar a Brasília na próxima terça. Ele disse que deve acompanhar a votação do impeachment de Brasília, mas não sabe se virá à Câmara.


...........

Siga-nos no Google News Portal CM7