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Delator disse na Câmara que ‘lisura’ é a alma do negócio

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BRASÍLIA — O agora delator Fábio Cleto, na condição de vice-presidente de Fundos de Governo, Loteria e FGTS da Caixa, compareceu em dezembro do ano passado na comissão que busca legalizar a jogatina no país. Em duas horas de audiência na Câmara dos Deputados, ele repetiu seis vezes a expressão “lisura”, como condição para os negócios da Caixa darem certo, em especial as loterias. Administrar o FGTS — fonte do desvio de recursos que teria beneficiado o presidente afastado da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) — era, nas suas palavras, “um privilégio”.

— É um privilégio que tenho embaixo da minha gestão. Costumo chamar a vice-presidência dos Fundos de balaio de gato. Tem loteria e FGTS. São produtos que o governo precisa. O FGTS é um enorme privilégio que a Caixa tem embaixo da sua gestão. Gera resultado bastante expressivo. Dentro do balanço do banco posso garantir para o senhor (um deputado) que é visto como da maior importância. É tratado com carinho — disse Cleto aos deputados.

O delator explicou que a Caixa cuida do passivo e ativo do FGTS e das cerca de 600 milhões de contas do fundo. Disse que, com a loteria, o FGTS é “extremamente rentável”.

Cleto demonstrou ter simpatia pela legalização de jogos. Disse que esse é um mercado com enorme potencial de arrecadação. Mas alertou que, para dar certo, empreendimentos como cassinos e bingos precisam ser administrados com lisura, como, diz ele, são conduzidas as loterias que estavam sob sua gestão. A lisura, diz, é a alma do negócio.

— A alma das loterias é a lisura e a confiabilidade dos processos. Se houver questionamento sobre a lisura, você mata a loteria. Não seria estratégico para o governo e o país. Você mata uma fonte de receita que vai trazer R$ 8 bilhões aos cofres públicos (em 2015). É crucial para o sucesso.

Uma ironia. Por três vezes Cleto citou o nome do doleiro, e também delator, Alberto Youssef, para comentar um episódio da época. Deputados perguntaram a ele sobre um caso ocorrido em Brasília, no qual a Caixa anunciou que um sorteio de um de seus jogos acumulou, sem ter vencedor. Mas, horas depois, descobriu-se que um sortudo faturou o prêmio numa unidade lotérica em Brasília e cujo proprietário tinha o sobrenome Youssef. Cleto fez troça com a história:.

— Fomos bombardeados com e-mails dizendo sobre a fraude, que o Youssef ganhou o prêmio. Não sabia que era um sobrenome comum no país de origem dele. Foi um erro grave, ainda mais sendo um ganhador de Brasília e um bilhete só.

Cleto ainda foi questionado pelos deputados sobre suposta fraude nos sorteios da Caixa e teve que responder até sobre o peso das bolinhas desses certames.


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