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Conselho Regional investiga médica que vetou atender filho de petista

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RIO — Não é de hoje que o acirramento dos discursos nas tribunas de Brasília se reflete nas relações da sociedade civil. Desta vez, suscitou a discussão sobre a ética da relação entre profissionais da saúde e pacientes quando entram em jogo visões ideológicas opostas. O Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers) vai investigar se a pediatra Maria Dolores Bressan violou a ética médica ao vetar o atendimento de um menino de 1 ano, de quem cuidava desde o primeiro mês, porque a mãe dele é petista. Em 22 de março, Ariane Leitão, mãe da criança, decidiu desabafar nas redes sociais e divulgou a mensagem que recebeu cinco dias antes, na qual a médica anunciava o rompimento do vínculo profissional por “não ter mais condições” de tratar o menino. Segundo a advogada, Maria Dolores desistia “de maneira irrevogável” de atender o menino e justificava a decisão com ataques à ideologia política da petista.

Em nota, a Cremers comunicou que abriu uma sindicância para apurar a denúncia de Ariane, protocolada na última segunda-feira. O caso pode ser arquivado. No entanto, caso a entidade entenda que houve indícios de infração ética, vai conduzir um processo ético-profissional, cuja conclusão poderia render a Maria Dolores uma suspensão de 30 dias ou até a cassação do exercício profissional, por meio de referendo do Conselho Federal.

O Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers) saiu em defesa de Maria Dolores. O presidente do órgão, Paulo de Argollo Mendes, que falava em nome da médica, decidiu não conceder mais entrevistas a partir desta quinta-feira. O Simers sustenta que, de acordo com um artigo do Código de Ética Médica, o médico deve exercer sua profissão com autonomia, sem a obrigação de prestar serviços a quem não deseje ou que contrariem sua consciência.

A exceção recai sobre casos em que não há outro médico disponível, em situações de urgência ou emergência, ou quando a recusa possa colocar em risco a saúde do paciente. Eis o embate a ser avaliado na sindicância: outro artigo do código, no entanto, proíbe a discriminação de pacientes qualquer que seja o motivo. O órgão, que se classifica como apartidário, condenou a “notória exploração partidária” do ocorrido e informou que “não se prestará a ser usado para fins eleitoreiros”.

Nas redes sociais, Ariane se disse surpresa com a atitude da pediatra. Ao G1, afirmou que sempre considerou a médica “uma ótima profissional”, a quem conheceu por meio do plano de saúde do Instituto de Previdência estadual.

A atitude, na avaliação de Ariane, representa “o nível de demência” que as pessoas chegaram com a crise política do país. “Vale qualquer coisa, até atacar um bebê. Vale declinar de um atendimento profissional por questões políticas”, disse ao site de notícias.

“Depois de todos os acontecimentos da semana e culminando com o de ontem, onde houve escárnio e deboche do Lula ao vivo e a cores, para todos verem (representante maior do teu partido), eu estou sem a mínima condição de ser Pediatra do teu filho. Poderia inventar desculpas, te atender de mau humor, mas prefiro a honestidade que sempre pautou minha vida particular e profissional”, escreveu Maria Dolores, no dia seguinte à nomeação do ex-presidente Lula ao Ministério da Casa Civil e à divulgação dos grampos telefônicos do líder petista.

Segundo Ariane, as duas não conversavam sobre política, mas Maria Dolores sabia que ela assumiria o cargo de vereadora suplente durante a licença-saúde de Marcelo Sgarbossa (PT-RS), porque deveria conciliar o trabalho com a amamentação de Francisco. Filiada ao PT, a mãe de Francisco atuou durante a gestão do ex-governador Tarso Genro como secretária estadual de Políticas Públicas para Mulheres.


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