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Autora do projeto de impeachment vive momentos de celebridade em SP

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SÃO PAULO – Uma selfie a cada três minutos. Foi com essa frequência que a advogada Janaína Paschoal foi interpelada durante o período de pouco mais de uma hora em que O GLOBO a acompanhou pela Avenida Paulista, durante a sessão da Câmara dos Deputados que votou o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, de autoria dela.

— Isso é muito louco porque eu não sou artista, mas as pessoas passaram a dizer que são minhas fãs. Essa semana mesmo, na banca do peixe na feira, a vendedora me perguntou se eu trabalhava na TV — relatava a advogada, entre um gole e outro de seu café com leite duplo e adoçante, para arrematar: — O meu medo é que as pessoas reconheçam em mim uma salvadora da pátria. Acho que essa coisa do endeusamento de algumas pessoas é parte do problema do Brasil e ajuda a explicar como chegamos aqui. Não concordo também com o endeusamento do Dr. Moro — afirmou, em referência ao juiz Sérgio Moro, que julga os processos da Operação Lava-Jato.

Ela mal terminara de se servir quando a garçonete da cafeteria a abordou, celular em punho, para um autoretrato das duas.

— Precisamos de pessoas assim — declarou, dizendo-se arrepiada com a presença da jurista.

Janaína pretendia assistir à votação dos deputados em algum dos muitos telões que transmitiam a sessão na Avenida Paulista, “como todo mundo está fazendo”. Animou-se com o som de um dos trios elétricos e cantarolou os primeiros versos de “Que país é esse?”, música da Legião Urbana. Diante do gigante pato inflável ostentado pela Fiesp, disparou:

— Esse pato é lindo!

Embora tivesse sido convidada para discursar em todos os carros de som dos Movimentos Brasil Livre, Vem pra Rua, entre outros, a advogada pretendia ter participação discreta no evento. Na Avenida, o marido, os irmãos e os cunhados já a esperavam.

FAMÍLIA PETISTA

— Está todo mundo aí, menos a família do meu marido, que é petista. Eles estão meio chocados. Deve ser difícil pensar que sua nora está tirando sua presidente, eu entendo o desconforto deles — disse.

Suas diferenças com o PT são antigas. No fim dos anos 1980, Janaína frequentou um grupo de jovens de uma igreja católica no Tatuapé, bairro onde foi criada. Conta que nunca se identificou com a Teologia da Libertação, corrente religiosa que se ligou à esquerda brasileira. E que, nos debates de juventude, achava que os petistas sempre se colocavam como “donos do discurso”. Jamais votou no partido.

— Você fez muito pela país. Se não fosse você, já tínhamos ido para o buraco — entusiasmou-se a empresária Iani Melo, de 57 anos, que não hesitou em também pedir uma fotografia, que Janaína não recusou. — Eu sou muito pegajosa, gosto dessa troca de energia — justificava-se, retribuindo com efusividade os abraços e sorrisos que recebia.

Na abertura da votação, a multidão na Paulista aplaudiu com furor quando o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, mencionou o nome de Janaína entre os que assinavam o pedido. A advogada recebeu as palmas em semianonimato.

— Você que é a Janaína, não é? Sou advogado e queria ser um terço do que você é — afirmou Roberto Scervino, que só se despediu depois de fazer um registro da advogada.

Assim que o primeiro deputado votou a favor, ela cerrou o punho para o alto em comemoração, misturando-se aos milhares que comemoravam como um gol aquele “sim”.

A despeito da popularidade, Janaína rechaça a possibilidade de ser candidata a um posto público:

— Do jeito que eu sou, eu não sirvo para partido nenhum, só faço as coisas em que acredito. Gosto de política não partidária. Quem tem que se candidatar é essa meninada do MBL, do Vem Pra Rua. Essa vida da política é muita decepcionante. Você vê o Lindberg (Farias, senador do PT), que estava com a gente no Fora Collor, e olha agora a decepção — opinou Janaína, que também participou do “Fora Collor” como estudante de direito da USP.

Diante da enorme mobilização política e social que ajudou a promover, Janaína se dizia “aliviada” e com a “consciência tranquila”. Pediu licença e, com os cabelos presos, colocou um par de óculos escuros que cobriam quase todo seu rosto e afundou um chapéu estilo Panamá na cabeça. De chinelos de dedo e blusa verde, foi assistir à votação incógnita na multidão.


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