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Apesar de denúncia de fraude, partidos poupam Maranhão

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BRASÍLIA – Nem mesmo a informação de que o presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), fraudou contas eleitorais — publicada neste domingo no GLOBO — foi capaz de levar os partidos na Câmara a tomarem medidas mais drásticas contra o deputado. Uma conjunção de interesses faz com que Maranhão se mantenha no cargo sem receber ataques, seja da nova base governista, seja da nova oposição, ou até mesmo de partidos mais independentes, como PSOL e Rede. O discurso da maioria dos partidos ontem era de que iria “analisar” a questão.

De acordo com a reportagem, Maranhão declarou à Justiça Eleitoral ter financiado parte de sua campanha em 2010 com o dinheiro obtido na venda de sua casa em São Luís, que continua em seu nome e onde mora até hoje. Na base aliada, dois campos de interesse levam à sustentação do deputado no cargo: o Palácio do Planalto e partidos como DEM e PSDB querem garantir a aprovação das matérias do ajuste econômico e avaliam que a troca no comando causaria turbulência. Já o Centrão, que compõe a maior parte da base do governo e é ligado a Eduardo Cunha, acredita que uma mudança ampliaria a pressão pela saída definitiva do presidente afastado da Câmara.

Na nova oposição liderada pelo PT, a avaliação é que a manutenção de Maranhão é melhor do que uma nova eleição que poderia colocar no cargo um nome mais ligado ao presidente interino, Michel Temer. Maranhão é aliado do governador Flávio Dino (PCdoB), um dos principais líderes contra o impeachment. Os partidos da esquerda, incluso PSOL e Rede, também defendem que uma eventual retirada de Maranhão esvaziaria a pressão pela saída de Cunha.

Dessa forma, o acordo para que Maranhão siga no cargo sem presidir as sessões de votação deve prevalecer. O PSD e o DEM entraram contra ele, no início de maio, no Conselho de Ética, questionando o ato que anulou a votação do impeachment na Câmara. O PSD, no entanto, retirou o apoio à representação depois que os partidos do Centrão optaram pela solução chamada de “rainha da Inglaterra”. A representação foi arquivada pela Câmara por um erro formal, e o DEM desistiu de reapresentá-la sozinho.

Ontem, o líder do PSD na Câmara, Rogério Rosso (DF), disse que o partido ainda irá avaliar se representa novamente contra Maranhão. O líder do PSDB, Antonio Imbassahy (BA), diz que a situação “é muito grave”, mas que o partido “vai examinar” os esclarecimentos de Maranhão. O presidente do DEM, José Agripino, disse que o partido irá discutir a questão com as outras legendas.

— A representação tem que ser produto dos partidos que constituem a Câmara, não deve ser produto da iniciativa de um só partido. A defesa da imagem da Casa cabe ao conjunto dos partidos — disse Agripino.

Mesmo na Rede e no PSOL, a posição ainda é de “avaliação”. O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) promete que o partido provocará o Tribunal Superior Eleitoral sobre a fraude nas contas eleitorais de 2010, revelada na reportagem. O líder Ivan Valente (SP) admite, no entanto, que a prioridade é focar na cassação de Cunha, até porque tirar Maranhão poderia ajudar o governo Temer.

— Querem votar aqui reformas que são contra o povo, somos contra acelerar essas votações. Quem pariu Matheus, que o embale. Eles elegeram Maranhão, que é mais um dos que praticaram irregularidades. Nossa prioridade é a cassação do Cunha, o relatório já será apresentado esta semana — disse Ivan Valente.

O líder do governo na Câmara, André Moura (PSC-SE), disse que insistirá na estratégia de convencer Maranhão a deixar o cargo.

— Não há acordo para preservar o Maranhão, há acordo para preservar o Brasil, para garantir as votações na Câmara. Vamos dialogar com ele, fazer uma força-tarefa com os líderes. Mais tumulto pode gerar prejuízos enormes para o país. Já pensou o Maranhão intransigente? Não conseguiríamos votar nada — disse André Moura.

O senador Ciro Nogueira, presidente do PP — legenda de Maranhão — afirmou que as denúncias de fraude eleitoral são um problema a ser resolvido pela Justiça e que eventual processo no Conselho de Ética é uma questão a ser resolvida pela Câmara.


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