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Análise: Descrentes, petistas preferem olhar para 2018

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RIO — Diante da sangria na base aliada nos últimos dias, setores do PT admitem, em conversas reservadas, ser tarefa difícil barrar o processo de impeachment no próximo domingo e já miram nas eleições de 2018. Descrentes da possibilidade de reverter o afastamento da presidente Dilma Rousseff, os petistas estão preocupados com a sobrevivência do partido. Assolado por mais um escândalo de corrupção, o PT planeja insistir no discurso do golpe e assim manter mobilizados não só sua militância e movimentos sociais, mas também setores da sociedade que eram simpáticos ao partido e estavam afastados.

Como sinal de que nem tudo estaria perdido, eles recorrem à pesquisa Datafolha sobre as próximas eleições presidenciais, divulgada no último domingo, na qual o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva cresceu de quatro a cinco pontos percentuais no último mês, dependendo de quem for o candidato do PSDB, e divide a liderança com Marina Silva (Rede).

A aposta petista no fortalecimento de Lula e do partido na carona de uma onda de conturbação e contestação social ao impeachment não leva em conta, porém, os desdobramentos da Operação Lava-Jato, que está no encalço do ex-presidente.

— Esse governo dela é uma m…, mas isso é um detalhe para a História — disse um petista próximo a Lula.

As divergências entre Dilma e o PT se acentuaram no último ano, principalmente por causa da política econômica e do ajuste fiscal. O partido chegou a propor, em fevereiro, um Plano Nacional de Emergência para a economia.

Em mensagem a militantes e simpatizantes do PT, divulgada na quinta-feira, o presidente do partido, Rui Falcão, tentou passar confiança, disse que o placar no próximo domingo não está definido e pediu que a mobilização continue:

— A participação de vocês no combate ao golpe institucional contra o mandato da presidente Dilma tem sido fundamental. As mobilizações, os atos, os debates, eles cumprem um papel muito grande na ampliação da nossa luta em defesa da democracia e também para influenciar os deputados que votarão no domingo.

Apesar do discurso, petistas perderam confiança numa virada, na noite da última terça-feira, quando o PP desembarcou do governo. A partir daí, começaram a trabalhar com o cenário de que o plenário da Câmara abrirá o processo de impeachment.

O PT pretende infernizar eventual governo Michel Temer desde o primeiro dia. Na conta dos peemedebistas, o vice-presidente teria maioria no Congresso para aprovar medidas importantes, enfrentando a oposição de cerca de 115 deputados de esquerda.

Petistas investem na associação entre Temer e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que enfrenta processo de cassação, como mais um ingrediente para tirar a legitimidade do impeachment.

Depois de passarem o último ano reclamando que a oposição estaria apostando no “quanto pior, melhor”, petistas agora estão animados com a perspectiva de que a crise econômica vai cair no colo de Temer. E estão prontos para explorar eventuais medidas impopulares a serem tomadas pelo vice.

Lideranças do PT ressaltam ainda que o PSDB deve ser “sócio minoritário” do governo Temer e citam a pesquisa Datafolha, na qual os tucanos — Aécio Neves, José Serra e Geraldo Alckmin — aparecem em trajetória de queda. O PT insiste na polarização com o PSDB mesmo na derrocada.


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