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Aliados latino-americanos manifestam solidariedade a Dilma

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BUENOS AIRES E RIO – Os governos latino-americanos acompanharam no domingo, alguns mais preocupados do que outros, a votação do impeachment da presidente Dilma Rousseff na Câmara. Faltando menos de uma semana para a cúpula de chefes de Estado da União de Nações Sul-americanas (Unasul), com data marcada para o próximo dia 23 de abril, em Quito, a crise política brasileira passou a ser o assunto dominante da agenda regional. Embora a Unasul, como bloco, tenha manifestado, em nota oficial, que o impeachment de Dilma “levaria à perigosa criminalização do exercício de governo por razões de índole simplesmente políticas”, nem todos os membros concordam em aderir à denúncia de um suposto golpe contra a presidente.

Na Argentina, o presidente Mauricio Macri mantém firme sua decisão de não se intrometer em assuntos internos do Brasil e ontem altos representantes de seu governo reiteraram a confiança da Casa Rosada nas instituições brasileiras.

— O Brasil é nosso sócio por excelência. Confiamos em suas instituições — disse ao GLOBO o secretário de Assuntos Estratégicos do governo argentino, Fulvio Pompeo.

O funcionário, principal assessor do presidente em assuntos internacionais, assegurou que “juntos, Brasil e Argentina temos grandes oportunidades para nossos povos”.

A Casa Rosada jamais falou em golpe no Brasil, nem o fará. Segundo fontes do Executivo argentino, Macri “acompanha de perto a situação brasileira, com preocupação, porque o Brasil é nosso principal sócio. Mas não vamos nos meter em questões internas”.

Um pequeno grupo de brasileiros, não mais de 30 pessoas, protestaram no domingo contra o impeachment em frente à embaixada do Brasil no bairro da Recoleta.

MANIFESTAÇÕES DE ALIADOS

Já os presidentes da Venezuela, Nicolás Maduro; do Equador, Rafael Correa e da Bolívia, Evo Morales, defenderam publicamente o governo do PT e denunciaram “um golpe cívico, midiático e judicial no Brasil”. Rafael Correa foi o único a não usar as redes sociais para comentar a situação brasileira. Vale lembrar que o Equador sofre as consequências de um grave terremoto que atingiu 7,8 graus na escala Richter. Toda a movimentação recente no perfil do presidente é relativa ao desastre natural.

Evo Morales já havia se pronunciado usando o Twitter no sábado, antes da votação, para dizer “não ao golpe do Congresso”, pedindo a defesa da “democracia no Brasil, sua liderança regional e a estabilidade da América Latina”.

Nesta segunda, Morales voltou a utilizar a rede social para mostrar sua solidariedade à presidente brasileira, dizendo-se indignado com o “julgamento político”. Ele continua: “Esta batalha será ganha pelo povo. A verdade sempre irá se impor”.

No domingo, Maduro retuitou em sua conta na rede social imagens de manifestações pró-PT, em um post que segue fixado no perfil do presidente. Em um total de 15 mensagens relacionadas à situação política no Brasil publicados desde domingo, há três posts com a hashtag #ElMundoConDilma (o mundo com Dilma), todos retuítes. Para o chefe de Estado venezuelano, que tem no governo do PT um de seus principais aliados políticos no continente, a saída de Dilma do governo é uma péssima notícia.

O PSUV, partido de sustentação de Nicolás tem usado a hashtag #NoAlGolpeaDilma mesmo em mensagens que nada têm a ver com a política brasileira, como, por exemplo, em imagens para orientar a população a economizar energia elétrica. A Venezuela passa por uma grave crise energética.

Maduro compartilhou nesta segunda uma mensagem do PSUV em que o partido divulga um comunicado emitido pelo Ministério de Relações Exteriores de Cuba de apoio a Dilma. O país comandado por Raúl Castro diz que o processo de impeachment é “um ataque baseado em acusações sem provas nem fundamentos legais contra a democracia brasileira e contra a legitimidade de um governo eleito nas urnas pela maioria do povo”.

Na quarta-feira, o governo do Uruguai afirmou, em nota, que acompanha com preocupação a situação política do Brasil e pediu respeito à Constituição brasileira na análise do impeachment da presidente Dilma Rousseff. O texto cita o fato de Dilma ter sido “eleita legítima e democraticamente pelo povo brasileiro”. A nota diz ainda que o Uruguai considera que os últimos aconteciemtos afetaram a estabilidade política do Brasil, mas o governo afirmou que confia nos processos políticos e jurídicos do país.

Os questionamentos ao impeachment de Dilma foram reforçados por declarações do secretário geral da Unasul, o colombiano Ernesto Samper, e da Organização de Estados Americanos (OEA), o uruguaio Luis Almagro.

— Não existe acusação de caráter penal contra a presidente, ela está sendo acusada de má gestão nas contas públicas em 2014. Esta é, em todo caso, uma acusação de caráter político, que não justifica um processo de destituição — assegurou Almagro, que esteve recentemente em Brasília.

A situação política brasileira criou um clima de caos entre os governos da região, que afetará a cúpula da Unasul. Vários presidentes já confirmaram que não participarão do encontro e, segundo fontes argentinas, o Palácio do Planalto informou às autoridades do bloco que quem for representar o Brasil poderia não representar o governo Dilma Rousseff.

— O governo brasileiro quis deixar claro que talvez quem vá pelo Brasil não represente os interesses do governo do PT. Hoje não sei sabe quem irá e o próprio Macri não decidiu ainda se estará presente — confirmou a fonte.

CAUTELA E CONFIANÇA

Outros governos como os do Chile, Paraguai e Colômbia adotaram posições mais cautelosas do que seus vizinhos andinos. O Peru, em plena campanha eleitoral pela sucessão do presidente Ollanta Humala, também se manteve distante da situação brasileira.

O porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos, John Kirby, declarou que o Brasil tem instituições maduras para o momento. O Secretário Geral da ONU, Ban-Ki Moon, também declarou por meio de seu porta-voz que “está confiante que os atuais desafios do país serão resolvidos por estas instituições em conformidade com a Constituição e o quadro legal”.


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