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‘Ofício em cena’ traz entrevistas com Willem Dafoe e Regina Duarte

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O encontro da jornalista Bianca Ramoneda com Willem Dafoe aconteceu no fim de fevereiro, num set improvisado no Marina All Suites, hotel onde o ator estava hospedado no Rio. Ele fazia uma passagem- relâmpago pela cidade para promover o longa “Meu amigo hindu”, de Hector Babenco, e acabou se tornando o primeiro convidado da terceira temporada de “Ofício em cena”, que estreia nesta terça-feira, às 23h30m na GloboNews.

– A entrevista foi em inglês, num horário bem apertado. Mas Dafoe tem um estofo de ofício tremendo. Por que o deixaríamos ir embora sem que falasse do modo como trabalha? E se tem algo que trouxemos para esta nova temporada foi isso, tornar a conversa maior, sem fronteira. Estamos de olho em quem aparecer – explica Bianca, que já tinha entrevistado Dafoe há alguns anos para o “Starte” (programa que apresentava no canal) numa outra vinda do ator ao país. – Depois dessa última conversa, ele disse que tinha gostado demais de falar sobre o processo.

E, no bate-papo, Dafoe foi muito além da divulgação do filme. Conhecido por papéis em filmes como “Platoon” (1986) e “O grande hotel Budapeste” (2014), o ator de 60 anos contou que teve pouco treino formal para aprender a atuar e, por isso, não acredita em escolas tradicionais, mas na “escola da vida”. “Acho que muitas escolas são boas para certas pessoas, mas normalmente é melhor achar pessoas que estejam fazendo coisas interessantes e ficar perto delas, mesmo que você só esteja tomando café ou observando”, ensinou.

Quanto a seu modus operandi, Dafoe disse que não tem um método específico. A cada trabalho, o processo de preparação se torna diferente. “Você não pensa em emoções ou interpretação, nunca. Eu penso que sou um animal numa paisagem e eu quero ser livre”, afirmou, acrescentando que, se antes conseguia se desapegar mais facilmente de seus personagens, hoje se sente mais afetado por eles. “Pensei que seria o contrário, mas estou mais sensível. Minha solução é fazer outra coisa, para limpar aquilo. Como um homem que perdeu seu amor. Não fique romantizando, parta para outra”.

Além de Dafoe, o “Ofício” aproveitou a presença de Rodrigo Santoro no Rio, onde grava a novela das 21h, “Velho Chico”, para uma conversa com o ator. Também já gravaram Lília Cabral, Miguel Falabella, Regina Duarte e profissionais que atuam por trás das câmeras, a exemplo da segunda temporada.

– Como já desenvolvemos o conceito, não temos que mostrar a que o programa se destina. Isso ficou claro e, para a minha surpresa, foi muito bem recebido. É fácil um estudante de teatro gostar, mas é ótimo ver como o processo criativo interessa a muito mais gente, os próprios atores e o público de casa – explica Bianca. – A Regina Duarte é uma que frequentou nossa plateia por mais de um ano, na surdina.

De espectadora, Regina virou entrevistada, em conversa registrada no Projac. Animada, a atriz, que acabou de completar 69 anos, arrancou sorrisos e lágrimas intensas da plateia ao relembrar a carreira, iniciada há 56 anos. Com blusa laranja, ela afirmou que estava lá “para chocar” (“Quando você abre o armário e escolhe uma roupa, está escolhendo um personagem para aquele dia”). Dito e feito. Com espontaneidade, ela falou sobre tudo o que a encanta e o que a incomoda na profissão. O uso do ponto eletrônico foi um dos temas.

– Uso quando não quero perder tempo da minha interpretação quando perdi palavras sem medo de estudar. Acho que os protagonistas deviam ter direito a um curso de ponto. Aprendi a usar em “Vale tudo” e sempre que recebo texto em cima da hora, uso. Alô, Maneco! – alfinetou Regina, citando o autor Manoel Carlos, famoso por entregar os textos de suas novelas em cima da hora.

A atriz contou que não fez nada além de estudar o texto para interpretar a Viúva Porcina em “Roque Santeiro”, de 1985 (“Fui lá e me diverti. Foi a melhor fase da minha vida”), disse que deixou de aceitar papéis por conta do pudor (“Aí, quando me livrei dele, não estava mais em idade de ser despudorada. Fica para a próxima”), reclamou da falta de acesso aos autores (“Eles não falam mais com o ator. Mas você também não pode ir a eles à toa, senão param de te receber”) e levou a plateia às gargalhadas ao afirmar que não foi difícil estapear Gloria Pires em cena de “Vale tudo”, de 1989:

– Eu estava com a Gloria Pires, né? Com aquele olhar frio, gélido. Eu pensava assim: ou eu arrebento ela ou ela me arrebenta. A Gloria não é aquela atriz que interpreta a vilã e fica rindo para você antes. Ela ficava trancada no camarim, só saía para a cena, não me olhava. Então era extraordinário porque eu não precisava fazer esforço (risos). Será que fui indiscreta? (risos)

Longe das novelas desde “Sete vidas”, de 2015 – “um presente que ganhei nesta altura da vida” -, Regina lamentou a falta de convites.

– Não tenho um próximo papel, os convites não estão aparecendo – afirmou ela, que passará dois meses em Portugal se apresentando com a peça “Bem-vindo, estranho”.


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