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Buenos Aires casa de luxo para a arte

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BUENOS AIRES – O objetivo do governo do presidente argentino, Mauricio Macri, é transformá-lo no maior e mais moderno centro cultural da América Latina. Apesar de ainda estarem lidando com complicações de uma obra faraônica, que custou em torno de US$ 250 milhões e foi inaugurada às pressas pela gestão anterior, em plena campanha para tentar eleger o sucessor da ex-presidente Cristina Kirchner (2007-2015), as novas autoridades argentinas conseguiram colocar a casa em ordem e abrir as portas do impressionante Centro Cultural Kirchner (CCK), que a partir de hoje terá intensa programação de concertos gratuitos em três de suas salas.

Conforme o ministro do Sistema Federal de Meios e Conteúdos Públicos, Hernán Lombardi, confirmou ao GLOBO, uma das atividades mais importantes do centro neste ano girará em torno dos 30 anos da morte do escritor Jorge Luis Borges, em junho. Lombardi, que tem sua sala no centro, considera um absurdo o governo Kirchner ter destinado tanto dinheiro a um único projeto cultural, em Buenos Aires, “quando poderia ter distribuído esses recursos entre as 24 províncias argentinas”.

— Mas agora está feito e vamos aproveitá-lo. São 130 mil m², 21 elevadores, 42 salas, oito estúdios de rádio e TV e objetos caríssimos, como um órgão que custou € 2 milhões. Uma verdadeira loucura — contou o ministro, enquanto caminhava pelos intermináveis corredores do prédio onde, antigamente, funcionou o correio argentino, localizado a poucos metros da Casa Rosada, no centro portenho.

O CCK é, de fato, impactante. Uma obra que a ex-presidente fez questão de apresentar ao país há exatamente um ano, quando, segundo Lombardi, “milhões de coisas ainda estavam sem terminar”.

— Para você ter uma ideia, essa precipitação provocou, por exemplo, uma deterioração do órgão, que quando chegamos estava cheio de pó da obra — disse Lombardi, que teve que apresentar os planos do CCK à Direção Geral de Registro de Obras, trâmite que o governo kirchnerista não fez.

Em 2012, Cristina Kirchner disse que muitas vezes pensou ser “a reencarnação de um arquiteto egípcio”. O CCK foi, talvez, sua obra mais ambiciosa, sua maior homenagem a seu marido e antecessor, Néstor Kirchner (presidente entre 2003 e 2007), morto em outubro de 2010. Para evitar polêmicas, Macri decidiu deixar em mãos do Congresso a decisão de mudar o nome do centro. Já existem cinco projetos no Parlamento, que podem ser votados até o final deste ano.

— O orçamento original desta obra foi de cerca de US$ 50 milhões. Custou cinco vezes mais, e começará a funcionar seis anos depois da data original do projeto — resumiu Lombardi, completando o raciocínio com o plano que a nova administração está traçando para que gastos tão altos se convertam em benefícios culturais para a população argentina: — Queremos que seja a grande casa dos conteúdos públicos para todos os argentinos.

O ministro mostrou ao GLOBO uma das salas mais emblemáticas do CCK, dedicada à mítica Evita Perón, segunda e mais famosa esposa do general Juan Domingo Perón. O governo Kirchner ordenou a fabricação de réplicas do escritório de Evita, dos brinquedos que sua fundação entregava a crianças humildes, das cartas que a ex-primeira-dama recebia e de dezenas de outros objetos. Outras salas foram dedicadas a homenagear os Kirchner e seus principais aliados na região, como o venezuelano Hugo Chávez.

OBAMA E HOLLANDE JÁ VISITARAM

O centro já foi visitado pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e da França, François Hollande. Ambos, segundo Lombardi, ficaram “de boca aberta ao ver a tecnologia e o luxo desse lugar”. As salas principais do CCK têm, por exemplo, bocas de calefação e ar-condicionado individuais. A acústica, contou o ministro, é das melhores do mundo, e estará à disposição de todos os argentinos, de forma gratuita. Com “Maio, experiência acústica”, artistas e grupos de música sinfônica, lírica, jazz, tango e folclore se apresentarão pela primeira vez nas salas Sinfônica, Argentina e de Honra, três das mais importantes do CCK. A lista de músicos inclui nomes como Ernesto Jodos, Nini Flores, Gracie la Oddone, Paula Shocron, Jorge Navarro, Víctor Torres, Néstor Marconi, Cuarteto Gianneo, Stefan Lano, além da Orquestra Sinfônica Nacional.

Ingressos para a programação e senhas para as visitas guiadas gratuitas — realizadas de sexta a domingo — podem ser reservados pelo site www.cck.gob.ar.


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