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Atriz Ruth de Souza atuou na estreia do Teatro Experimental do Negro

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A atriz Ruth de Souza não gosta de revelar quantos anos tem — “são muitos, prefiro esquecer quantos’’ —, mas se lembra daquela noite de 8 de maio de 1945 como se ainda tivesse a memória de seus 20 e poucos anos. Foi com essa idade que ela subiu a um palco pela primeira vez, integrando um elenco formado apenas por atores negros, num elitista Teatro Municipal, encenando um texto do dramaturgo americano Eugene O’Neill:

— Naquela época, não havia atores negros trabalhando nas grandes companhias de teatro. Os personagens negros eram sempre Pai João ou Mãe Maria, falando tudo errado e, mais que isso, interpretados por atores brancos com os rostos pintados de preto.

“NAQUELA ÉPOCA, NEGRO NÃO ENTRAVA NO MUNICIPAL’’

A cena de Ruth em “O imperador Jones” era curta, quase sem diálogo: ela interpretava uma velha que atravessava o palco com uma trouxa nas costas no enredo que fazia analogia à ocupação do Haiti pelos Estados Unidos.

— Era um papel pequeno, mas foi muito importante. Naquela época negro não entrava no Municipal, onde só havia grandes óperas, peças francesas e inglesas. Nossa encenação foi um espanto, a casa não estava lotada, mas fomos muito aplaudidos e tivemos críticas positivas — conta a atriz, que está completando 70 anos de carreira. — Também não tínhamos dinheiro para pagar os direitos autorais e escrevemos para o autor, que nos autorizou a usar todos os textos dele.

A montagem marcou o início do Teatro Experimental do Negro (TEN), idealizado por Abdias Nascimento para mudar o lugar do negro nos palcos brasileiros.

— Todo ser humano tem seus dramas, pecados e dilemas. Quando a história é humana, não interessa se é encenada por atores brancos ou negros — ressalta Ruth.


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