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Artigo – Sociedade das “Mulheres razoáveis e boas”

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Nas últimas semanas estive com uma grande amiga que recentemente colocou fim a um casamento de 20 anos. O fim do casamento não é algo sobrenatural, absurdo ou, como a grande maioria das pessoas define a “destruição de uma família e do lar”, entre outras falácias da eterna e tradicional família brasileira.

Todavia, o que me faz refletir são como esses casamentos terminam, seja com muita violência tanto física como psicológica. As mágoas, as feridas e até mesmo a raiva emergem nesse estado de guerra voraz entre antigos amigos e amantes.

No caso da minha amiga, ela sofreu violência física e psicológica, misturada com um eterno discurso conservador e machista. Entre eles, que ela não foi durante o casamento “uma mulher razoável e boa”, “uma mulher sensata e paciente”, mas uma “louca, desequilibrada, intolerante e incompetente”. E, para finalizar a barbárie, ela foi agredida com um soco na boca.

Fiquei durante uma tarde escutando a minha amiga, que estava machucada fisicamente e com a “alma morta”.  O seu sentimento me invadia com a mesma intensidade, pois no “mundo dos machos” somos todas vítimas de construções que nos destroem há séculos.

A história da minha amiga é a história da grande maioria das mulheres. Seja nas sociedades mais desenvolvidas ou nas mais periféricas, encontramos muitos padrões e discursos que reforçam a identidade da cultura patriarcal, carregada de preconceitos.

Pesquisas realizadas sobre a violência contra as mulheres tem aumentado no Brasil nos últimos 4 anos, em especial feminicídios e tentativas. Segundo matéria publicada no jornal Folha de São Paulo (8/03/2019), 71% dessas mulheres morreram. As que sobreviveram, foram atacadas pelo ex companheiro ou atual. Cabe destacar que o feminicídio é um tipo de homicídio cometido “contra uma mulher por sua condição de sexo feminino”.

Ressalta-se que muitos avanços ocorreram a partir da Lei Maria da Penha. Os movimentos da sociedade em todas as instâncias tem se mobilizado para combater todo tipo de violência contras as mulheres. Um exemplo é a cartilha “Mulher, vire a página”, elaborada pelo Ministério Público de diversos estados brasileiros.

Em tempos de retrocesso no Brasil em todas as esferas, especialmente no que diz respeito as políticas públicas voltadas para as mulheres. É extremamente urgente uma luta sem trégua da sociedade civil contra as ações desse “desgoverno”.

Estamos diante de antigas e novas formas de violência. Problemas que são complexos e que exigem uma ação conjunta de todas as instituições, organizações, movimentos presentes na sociedade.

Essa luta é contínua contra todos os tipos de violência que afetam todas as mulheres. Muitas foram e ainda são silenciadas e massacradas. Porém, apesar de todo esse cenário nefasto, conquistamos e avançamos na igualdade de direitos.

Porque resistir significa existir na totalidade, sem mordaças, sem algemas e sem limites.  Mulheres livres na construção de um outro mundo.

FONTE: Artigo publicado no site Observatório do 3 setor no link https://observatorio3setor.org.br/colunistas/sociedade-das-mulheres-razoaveis-e-boas/

Autoria de Márcia Moussallem – É socióloga, assistente social, mestre e doutora em Serviço Social, Políticas Sociais e Movimentos Sociais pela PUC-SP. Tem MBA em Gestão para Organizações do Terceiro Setor. Professora da PUC-Cogeae/SP  e da FGV-Pec/SP.


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