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Vitória do Brexit pode afetar o futebol na Inglaterra

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Campeonato nacional mais importante e mais rico do futebol europeu, a Premier League pode ser dramaticamente afetada pelo referendo que determinou a saída do Reino Unido da União Europeia. Com a saída dos britânicos da comunidade, os jogadores dos demais 27 países que fazem parte do bloco passarão a ser considerados estrangeiros. Sem poderem fazer parte do acordo de livre circulação de trabalhadores pela região, eles terão que seguir as regras adotadas recentemente pela Premier League para a contratação de atletas de outros países.

Atualmente, o Reino Unido tem mais de 400 jogadores estrangeiros atuando apenas nas duas principais divisões da Inglaterra e da Escócia. Esse número pode ser profundamente reduzido se a liga não encontrar uma solução que os faça permanecer jogando em suas equipes. Para uma liga de alcance global e que atrai os atenções do mundo inteiro mesmo não tendo os dois principais craques da atualidade, Messi e Cristiano Ronaldo, jogando nos seus times, as consequências podem ser graves, afetando não apenas a qualidade do jogo, como também afastar investidores que veem na Premier League uma grande vitrine para seus produtos.

No ano passado, o futebol inglês mudou suas regras para conceder licença de trabalhos a jogadores estrangeiros, tornando-as mais rígidas. Com a mudança, o atleta que quiser jogar na Inglaterra tem que ter disputado um percentual de partidas pela seleção nos últimos dois anos de acordo com a posição dela no ranking da Fifa. Por exemplo, para times entre a primeira e a décima posição, é exigida uma participação de 30%. Para equipes entre a 11ª e a 20ª colocações, o percentual sobe para 45%. E isso vai subindo até o 70º lugar do ranking da Fifa.

O objetivo dessa medida era favorecer a formação de atletas ingleses, fortalecer a seleção nacional e garantir apenas que os melhores atletas estrangeiros jogassem na Grã-Bretanha. Os dois primeiros argumentos, aliás, foram usados por partidários do Brexit, como o ex-zagueiro do Arsenal, Sol Campbell, e o porta-voz da campanha do “Vote Leave” (Vote pela Saída), Robert Oxley.

Essa regra, porém, valia apenas para jogadores de fora da comunidade europeia. Com o triunfo do Brexit, todos terão que obedecer o regulamento da liga. Recentemente, a “BBC” fez um levantamento que mostrou que 332 jogadores europeus que jogam nas duas principais divisões da Inglaterra e na elite da Escócia não cumpririam estes critérios. Entre eles, há destaques da última temporada, como o volante Kanté do campeão Leicester City, e o atacante Payet, do West Ham e um dos destaques da França na Eurocopa. O goleiro De Gea e o atacante Martial, do Manchester United também seriam afetados.

Mais de uma centena destes 332 jogadores seriam afetados pelas novas regras caso haja um efeito retroativo causado pelo Brexit. Times como Aston Villa, Newcastle e Watford perderiam 11 jogadores de suas equipes. Na segunda divisão, o Charlton perderia 13 jogadores.

– Deixar a União Europeia terá um efeito muito maior no futebol do que as pessoas imaginam. Estamos falando em metade da Premier League que precisará de licenças de trabalho. O impacto a curto prazo será enorme, mas você pode argumentar que a longo prazo os clubes terão que se concentrar na formação de jovens – disse a agente de jogadores de futebol, Rachel Anderson, à “BBC”.

LIGA FEZ CAMPANHA PELA PERMANÊNCIA

A saída em massa de estrangeiros ou, ao menos, as dificuldades para contratação de estrelas no futuro afetariam os acordos comerciais e de TV, a atração de investimentos e, consequentemente, a capacidade dos clubes locais e continuarem pagando altos salários para suas estrelas. Com isso, os clubes da Inglaterra poderiam ter dificuldades em brigar de igual para igual com as potências dos outros países na Liga dos Campeões da Europa, por exemplo. Quem acabaria lucrando com essa queda de qualidade do futebol inglês seriam as ligas da Espanha e da Alemanha, que passariam a atrair mais jogadores do futebol europeu.

Talvez prevendo os problemas que o campeonato poderia ter, o presidente da Premier League, Richard Scudamore, defendeu a permanência do Reino Unido na União Europeia. E disse que os 20 clubes da elite compartilhavam da mesma opinião.

A saída, no entanto, não afetará a próxima temporada do futebol inglês. A tendência é que as novas regras demorem dois anos para entrar em vigor. Até lá, o Reino Unido negociará um acordo comercial com a União Europeia. Uma eventual negociação poderia manter a livre circulação de produtos, pessoas e trabalhadores. Acordos semelhantes acontecem com Islândia, Noruega, Suíça e Liechtenstein. Mas se nada der certo, o futebol pode apelar para um “jeitinho”, flexibilizando as regrasde licença de trabalho. Mas isso poderia sofrer forte oposição dentro da Inglaterra.

– Se um acordo (comercial) incluir restrições de movimento de pessoas e serviços, o impacto disso no mundo do esporte seria muito significativo. Primeiro, os jogadores ingleses talvez não fiquem livres para circular livremente. Da mesma forma, os atletas europeus teriam que ficar sujeito às restrições para jogar na Inglaterra – disse o advogado Paul Shapiro, ao “Guardian”.

PROBLEMA PARA O REAL MADRID

A decisão, obviamente, também afetaria os jogadores britânicos que jogam no exterior. Poucos atletas de elite, no entanto, atuam fora da Inglaterra. Mas um deles pode forçar o Real Madrid a vender um dos seus estrangeiros. Com o Brexit, o galês Gareth Bale passaria a ser um dos estrangeiros do time. Como a Espanha só permite que os clubes tenham três atletas estrangeiros por equipe, o Real teria que vender um deles para manter o astro da seleção galesa. Seriam os brasileiros Danilo e Casemiro ou o meia colombiano James Rodriguez. Bale está no Real desde 2013 e foi um jogador fundamental na conquista do título europeu desta temporada.

A saída do Reino Unido também afetará as transações envolvendo os clubes ingleses, pois os jogadores ficariam mais caros. Os clubes passariam a ter que pagar 10% a mais nos valores das taxas de transferências e salários para competir com o resto do mundo. Se um clube quisesse comprar o volante francês Pogba, do Juventus, por exemplo, pagaria algo em torno de 145 milhões de libras. Mas antes do referendo, essa transação ficaria em 113 milhões de libras.

PROIBIDOS DE CONTRATAR JOVENS

A vitória do Brexit ainda poderá afetar os jovens que são contratados por clubes ingleses. Hoje, atletas entre 16 e 18 anos da comunidade europeia podem assinar contratos com os clubes do país, pois eles são considerados “jogadores da base” da União Europeia e têm direito à livre circulação. Com a saída da comunidade europeia, os clubes poderiam ser proibidos de contratar estes atletas. Nesse caso, os clubes só poderiam contratar atletas depois deles completarem 18 anos.

Se essa regra valesse no passado, o atacante Cristiano Ronaldo, por exemplo, não teria deixado o Sporting para assinar com o Manchester United em 2003, quando tinha 18 anos.


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