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Baby e David Moura: o duelo mais acirrado do judô brasileiro

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RIO, 23 (AG) – No dia 1º de junho, após o encerramento do World Master, em Guadalajara, a Confederação Brasileira de Judô (CBJ) fará a tão esperada convocação final para os Jogos do Rio. Por ser país-sede, o Brasil tem direito a vaga nas 14 categorias (sete masculinas e sete femininas). Por ser o judô o carro-chefe da delegação brasileira nos Jogos, modalidade na qual se espera o maior número de medalhas, este anúncio é cercado por expectativas. E a reta final desta disputa começa nesta quarta-feira, no Campeonato Pan-Americano, em Cuba.

Das 14 vagas, quase todas estão definidas. A maior indefinição está no pesado (+100kg) masculino, única categoria na qual o Brasil tem dois judocas entre os 12 melhores do mundo: Rafael Silva, o Baby, é 10º e David Moura, 12º. A diferença entres os dois no ranking olímpico (que define a vaga para os Jogos e tem pequenas diferenças em relação ao mundial) são de meros 26 pontos – que podem ser tirados numa luta. Até 1° de junho, os dois terão três competições para definir esta disputa. Além do Pan-Americano e do World Master, os dois vão lutar no Grand Slam de Baku (Azerbaijão), de 6 a 8 de maio.

Neste duelo pesado, Baby e David têm características e histórias distintas dentro do tatame. Baby, de 28 anos, é a referência: medalhista de bronze em Londres-2012; dono de dois pódios em Mundiais (prata no Rio-2013 e bronze no Cheliabinsk-2014); e terceiro colocado no Pan de Guadalajara-2011. Com 2,03m de altura e 165kg, Baby usa sua força física para se impor diante dos adversários. Não é tão conhecido pela técnica, o que pode ser explicado pelo seu início tarde no tatame, aos 15 anos. Seus pontos fortes são a dedicação e o comprometimento.

David tem os mesmos 28 anos de Baby, mas é provável que tenha conhecido o tatame antes mesmo do berço. Seu pai, Fenelon Muller, e tio por parte de mãe Luiz Virgílio Moura foram campeões sul-americanos na década de 1970. Com 1,92m de altura e 130kg, David é muito técnico e rápido, algo incomum entre os pesados. Essas características, no entanto, demoraram a surtir efeito em nível internacional. Entre os principais títulos de David estão os ouros no Pan de Toronto e no Pan-Americano (onde derrotou Baby na final), ambos em 2015, a prata no Grand Slam de Paris, em 2014, e os bronzes no Grand Slam do Rio, em 2012, e no Grand Slam de Baku, em 2013.

– O David, como todo atleta habilidoso em qualquer esporte, sempre teve muito potencial, mas faltava uma aplicação maior ao treinamento. Já o Baby não é tão técnico, mas é um judoca que se dedica demais aos treinos. Ele ficou afastado dos tatames por seis meses por causa de uma lesão (no ombro direito), mas voltou com tudo este ano. Neste período que ele esteve fora, o David cresceu demais. A briga pela vaga no pesado é a mais acirrada que temos. Os dois estão em um excelente nível internacional – disse Ney Wilson, gestor técnico da CBJ.

Ney explica que o fato de o Brasil ter uma referência internacional nos pesados facilita o surgimento e crescimento de nomes na categoria – Baby foi o primeiro judoca do país acima de 100kg a ganhar uma medalha olímpica:

– Quando temos uma referência na categoria, sabemos através dos treinos em que nível estão os outros atletas do país. Quando não se tem um medalhista olímpico, os judocas podem até fazer uma luta dura no treino, mas não temos uma referência internacional para avaliar com mais precisão.

David faz eco a Ney. Segundo ele, Baby mostrou um caminho a ser seguido, mas ele afirma que pode ir além. Já Baby vê os dois lados da moeda em se ter uma sombra de alto nível na categoria:

– Por um lado, é bom ter o David, porque a gente acaba treinando mais duro. Por outro, o desgaste é maior, pois é preciso conquistar a vaga primeiro e só depois pensar em Olimpíadas, enquanto tenho adversários que já estão focados apenas no megaevento. Não sei te dizer se essa balança pesa mais para o lado positivo ou negativo. Isso só saberei nos Jogos, se eu for…

David e Baby não são melhores amigos, mas tem uma boa relação fora do tatame. Em competições internacionais, Baby leva vantagem: venceu duas das três lutas que fez contra David.


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