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Em Tóquio, um dia de passeios pode custar US$ 1 mil ou US$ 100

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TÓQUIO – Saí da Estação de Tóquio, o grande hub de transporte no distrito Chiyoda e olhei a fachada de tijolos maravilhosa. Estava perdido. Não encontrava o Tokyo Station Hotel — propriedade luxuosa, renovada em 2012. Meu erro, descobri, foi ter saído da estação. O hotel e a estação de trem coexistem em um grande prédio concluído em 1914, um contraponto arquitetônico da era pré-Guerra aos arranha-céus envidraçados da Tóquio de hoje.

Dei meia-volta e achei o lobby, e a concierge, Marie Antoinette Mori, em sua mesa. Filipina, Mori encantou-se com o Japão durante o boom econômico dos anos 1980. Nesse país, estudou turismo internacional, casou-se com um japonês e começou a trabalhar na indústria da hospitalidade, onde sua carreira engrenou. A meu pedido, ela montou um roteiro para um hóspede fictício, gastando US$ 1 mil (110 mil ienes) em um dia nesta cidade considerada cara. Meu desafio foi refazer o itinerário com orçamento de US$ 100 — com alguns desvios necessários, mas tentando manter o espírito original.

Café da manhã na estação

Alto custo. Mori me levou à cobertura do hotel, para um salão iluminado por enormes claraboias. Os hóspedes passeavam pelo bufê de café da manhã do Tokyo Station Hotel, escolhendo entre pratos ocidentais (ovos feitos na hora, café, pastelaria) ou especialidades regionais: Ishikari-nabe (prato quente da região de Hokkaido), mingau de arroz, nata de leite de soja, broto de brócolis. Preço: 3.800 ienes, US$ 34,87).

Baixo custo. Escolhi o mais econômico Bar Marche Kodama, na estação de trem Shinagawa, na área de Minato. Para achar, não saia da estação quando chegar a Shinagawa. Na loja de departamentos Ecute, o pequeno restaurante fica no canto, ao fundo. Fiz a festa no eclético bufê de inspiração italiana com prosciutto, salada verde, milho fresco, massa à bolonhesa, arroz frito crocante e, de sobremesa, biscoitinhos. Total: 620 ienes (US$ 5,70).

para circular pela cidade

Alto custo. Ao passageiro fictício, Mori orçou 15 mil ienes (US$ 137,66) para um sedan com motorista por três horas. O Tokio Station Hotel no máximo recebe os hóspedes na chegada à estação e os leva ao lobby do hotel — a diária pode passar de US$ 1 mil.

Baixo custo. A logística pode ser complicada para quem não conhece Tóquio. Aprenda a amar o trem, onde você vai passar um bom tempo. Há mais de cem linhas férreas em Tóquio, e a maioria pertence a empresas concorrentes. As duas maiores são JR East, o maior sistema de ferrovias do Japão, e o Tokyo Metro, o sistema do metrô da capital. Se você vai usar apenas metrô ou linhas da JR, o tíquete combinado (à venda nas estações JR) é a dica. Por 1.590 ienes (US$ 14,57), você pode usar diversas linhas ao longo do dia, incluindo todas as da JR e o metrô de Tóquio.

Templos e jardins

Alto custo. O bairro de Asakusa é famoso pelo templo budista Sensoji, o mais antigo de Tóquio. Mori recomendou o tour de riquixá, passando por Sumida Park, um dos muitos lugares em Tóquio para se observar a sakura (floração das cerejeiras), no início da primavera. O tour de duas horas custa 16.250 ienes (US$ 149).

Baixo custo. Preferi explorar sozinho, procurando a sakura no caminho. Um seguidor da conta do “Frugal Traveler” no Twitter me recomendou o Nezu Museum, no distrito de Minato. A coleção de arte budista e os bronzes chineses são interessantes, mas fiquei impressionado com o imenso jardim nos fundos. Com 16 mil m² parece uma escapada da cidade, onde espaço é um bem tão precioso. Ingresso: mil ienes (US$ 9,17). De lá, fui de trem até a estação Korakuen. Andei até o Jardim Botânico Koishikawa da Universidade de Tóquio (ingresso: 400 ienes, US$ 3,66). Pela entrada sudeste segui até o centro do jardim. Vi famílias fazendo piquenique, crianças brincando e fila para um café ou chá no Coffee Time (café a 300 ienes, US$ 2,75). Todos festejavam a sakura e o ar fresco da primavera.

TRÊS ESTRELAS POR UMA

Alto custo. Mori recomendou o menu degustação omasake (à escolha do chef) no — onde mais? — Sukiyabashi Jiro. O status de já formidável do master do sushi de 90 anos Jiro Ono tornou-se lendário com o documentário “Jiro dreams of sushi”, lançado em 2012. O restaurante de dez lugares é difícil de entrar, mas Mori consegue. E não é permitido faltar. O preço do almoço (ou jantar) é 30 mil ienes (US$ 275).

Baixo custo. Jiro recebeu três estrelas Michelin; Tsuta tem uma. Foi a primeira casa de ramen no Japão a conquistar a honraria. O pequeno, modesto, espaço perto da estação Sugamo na linha JR Yamanote, é complicado por diferentes razões: não aceita reservas e opera em sistema de tíquetes. Cheguei de manhã, às 7h30m, e esperei do lado de fora do restaurante com outras pessoas. A certa hora, a porta se abriu e um homem veio com tíquetes na mão. Entregou-me um: “Volte entre 12h e 13h”, disse. Pegou uma nota de mil ienes (US$ 9,16) como depósito, voltou lá para dentro, fechando a porta. Quando retornei, ao meio-dia, fui servido com a melhor tigela de ramen à base de shoyu que já comi. O caldo estava forte, intenso e levemente adocicado. Os acompanhamentos — ovo cozido mole, brotos de bambu e fatias de porco —, perfeitos. A tigela de ramen no Tsuta custa 950 ienes (US$ 8,70). No total, paguei 1.250 ienes (US$ 11,45), incluindo as três fatias extras de porco.

QUIMONOS X BASEBALL

Alto custo. Cultura típica? Mori sugeriu a “experiência com quimono e oportunidade de foto”, onde o cliente paga por um traje elaborado (há diversos estilos: oiran, maiko ou gueixa), cabelo, maquiagem e foto. Para os homens, há opção samurai. São 27 mil ienes (US$ 247, 51) pelo kit com 2 quimonos.

Baixo custo. Encontrei uma forma diferente de incorporar trajes típicos e cultura local à minha visita: indo a um jogo de baseball. Comprei o ingresso em um 7-Eleven (a rede pertence a uma firma japonesa). Foi um processo complicado, que envolveu um balconista tentando soletrar meu nome no alfabeto japonês — comprar no estádio deve ser mais fácil. Também tive que escolher o lado da torcida onde queria ficar. Decidi pelo time da casa, o Tokyo Yakult Swallows. O jogo foi animado — a torcida cantava acompanhada por uma pequena banda de metais. A comida do estádio era boa também — uma tigela grande ramen saiu por 750 ienes (US$ 6,87), o yakitori (espetinho) custou 100 ienes (US$ 0,90), e o uísque soda, 600 ienes (US$ 5,50). Ingresso: 1.800 ienes (US$ 16,50).

SABOR DA COSTA NO JANTAR

Alto custo. Seiji Yamamoto é o chef do Nihonryori RyuGin, um restaurante kaiseki moderno com a distinção de três estrelas Michelin. Yamamoto incorpora técnicas da culinária moderna à tradição refinada do kaiseki. As descrições dos pratos do RyuGin são maravilhosamente abstratas: as porções têm nomes como “Nostalgia e tentação refrescantes, calorosas e divertidas” e “Mensagem da costa do Japão”. O jantar custa 27 mil ienes (US$ 247,54).

Baixo custo. Busquei o sabor da costa do Japão em um jantar de sushis. Encontrei minha amiga Mayumi, nascida em Tóquio, e a presenteei com meus parâmetros bem específicos: algo bom mas não “tão” bom; barato, mas que não fosse de baixa qualidade. Ela me levou a um local pequeno perto da estação Kyodo, no bairro onde mora, a 20 minutos de Shinjuku: Midori Sushi, local despretensioso, próximo ao KFC. O menu omakase de dez etapas do chef Ken Hohono incluiu uma lula excepcionalmente macia, barracuda, atum gordo, ouriço-do-mar e vieiras maravilhosamente amanteigadas, entre outras peças. O preço foi 3 mil ienes por pessoa (US$ 27,50). Não foi só um dos melhores jantares de sushi que eu me lembre, mas entre os mais em conta — uma doce lembrança que todo viajante frugal procura.


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