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Outra vida perdida: O que podemos aprender com cartas de suicídio no Facebook?

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Viraliza pelas redes sociais, ao longo dos últimos dois dias, uma carta de suicídio divulgada no Facebook por um rapaz de 25 anos que tirou a própria vida. Recém-formado em Direito, ele era natural de Ubatuba, em São Paulo. No texto de despedida, ele contou que enfrentava uma briga interna entre dois opostos: um que o valorizava e outro que o odiava. Além disso, o jovem contou ter a certeza, desde que era criança, que morreria pelas próprias mãos. Ao todo, o post já tem mais de 13 mil comentários, 16 mil reações e outros 9 mil compartilhamentos.

Os números da carta na rede social apontam que, apesar de ainda ser considerado um tabu, o suicídio é um assunto que sensibiliza muita gente. Mas, compartilhar as últimas palavras de alguém que comete autoextermínio, mesmo que de forma empática, pode criar pontos de gatilho. É o que explica o psicólogo e psicanalista mineiro Eduardo Lucas Andrade: “As cartas de suicídio nos ensinam que a prevenção deve começar com a valorização da vida do sujeito desde o começo, na infância”. “O importante é possibilitar que o individuo seja visto e acolhido como uma pessoa antes de qualquer coisa, acolher as pessoas e não o status”, explica.

O especialista aponta ainda que as cartas neste sentido podem gerar fatores de identificação. “As cartas dizem mais do sofrimento do que do tratamento e da prevenção ao suicídio. Do mesmo modo que elas entristecem os leitores, elas podem apontar o suicídio como a única saída possível para o sofrimento vivido pelo outro”, conta. “A carta desse rapaz em questão tem uma diferença. Ele estava mostrando que é possível prevenir certos suicídios a partir do acolhimento”, conta.

Dados do Ministério da Saúde, divulgados em 2018 durante o Setembro Amarelo – que faz campanha de prevenção ao suicídio -, mostram que, de 2007 a 2016, mais de 100 mil pessoas morreram em decorrência do autoextermínio. Naquele ano, a taxa foi de 5,8 por 100 mil habitantes. A região Sudeste do Brasil foi a que concentrou maior parte das ocorrências em 2017, 49% do total, seguida pela região Sul, com 25%. A meta da Organização Mundial de Saúde (OMS) é de reduzir em 10% os casos de morte por suicídio até 2020.

“Não existe uma fórmula para lidar com pessoas que enfrentam ideações suicidas, mas é recomendável que elas tenham suas singularidades acolhidas para que tenham abertura e falem sobre os sentimentos que carregam. Conversar e escutar desde a infância, olhando nos olhos, tendo presença real, isso são formas de acolher”, aponta. “Agora, comparar as pessoas, ou apontar autoajuda não é acolher. Isso pode aumentar a frustração, já que as fórmulas prontas não dão espaço para as singularidades. É o tato, é algo do momento”, pondera.

“Acolher essa carta de quem cometeu suicídio não ajuda mais a pessoa. O que devemos nos perguntar é o seguinte: quem eu posso acolher hoje, o que eu posso compartilhar de verdadeira acolhida? Ou ainda ligar pra alguém que você tenha afeto e demonstrar isso. As pessoas têm que entender a importância da linguagem e do afeto”, explica. “Crianças e adolescentes são um exemplo de que as emoções, angústias e queixas muitas vezes são negligenciadas. O sentimento é menosprezado, ou relativizado. Mas a coisa mais concreta da alma é o sentimento”, aponta.

Divulgação/Agência Brasil

Por fim, o psicanalista recomenda que quem conhece alguém em situação de vulnerabilidade deve buscar ajuda para entender como lidar com as circunstâncias e auxiliar de fato a quem precisa. E, se você se identifica com cartas de suicídio, sente ansiedade ou depressão, pode ligar para o Centro de Valorização da Vida (CVV). As ligações são gratuitas e podem ser feitas por meio do telefone 188. Lá você vai encontrar voluntários para conversar sem julgamentos. A assistência também é prestada pessoalmente, por e-mail ou chat. Clique aqui ler mais.

“Uma saída possível para suportar a vida é a escrita, a arte, a expressão sincera da alma que carece de inscreve sua presença!”, finaliza o especialista, que lança nesta quinta-feira (14) o livro “Risco de Vida: da doença crônica à crônica da doença”. O lançamento ocorre no BrHostel, em BH, a partir de 20h. No material, ele apresenta poesias frente a diabetes que descobriu e outras transversalidades da vida.

Agência Brasil


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